Campus e Comunidade

Dois dias de reflexão em torno dos grandes desafios ambientais do futuro

O programa das jornadas de Engenharia do Ambiente (JeAmbi) contou com vários especialistas que partilharam os seus conhecimentos e ajudando a delinear estratégias.

Ano após ano, as Jornadas de Engenharia do Ambiente (JeAmbi) convocam a comunidade do Técnico para um debate ativo, repleto de especialistas, que procura alertar, mas sobretudo apontar caminhos possíveis no sentido da preservação ambiental. Em mais uma edição, e durante os últimos dois dias, 27 e 28 de fevereiro, o Núcleo de Estudantes de Engenharia do Ambiente do Instituto Superior Técnico (NEEA) -organizadores da iniciativa-  voltou a cumprir esta missão fazendo do Centro de Congressos o palco da troca de ideias que colocou a tónica onde ela deve estar quando se fala de ambiente: o equilíbrio.

A sessão de abertura das JeAmbi esta quinta-feira, 27 de fevereiro, refletiria desde logo o sucesso que lhe estaria reservado, pelo painel com que contou e pela audiência cativada. O presidente do Instituto Superior Técnico, professor Rogério Colaço, o coordenador da IST Ambiente, professor Tiago Domingos, e a Secretária de Estado do Ambiente e antiga aluna do Técnico, Inês Costa, lançariam as primeiras palavras desta maratona de partilha e de vontade de contribuir para a mudança.

Começando por explicar aquele que é o papel da IST Ambiente “que funciona como um departamento virtual que junta as pessoas dos diferentes departamentos do Técnico que estão ligados à atividade em Ciências e em Engenharia do Ambiente”, o professor Tiago Domingos partilhou algumas daquelas que têm sido as principais ações desta plataforma.  Ao destacar a presença cada vez mais relevante que a componente ambiental e de sustentabilidade deve ter quer nos cursos, quer na investigação que se faz no Técnico, o docente adiantava algumas das alterações positivas que atingirão o curso nesta reforma curricular que está a ser levada a cabo na escola. “Afiguram-se perspetivas muito boas para quem ainda está a fazer o curso, nomeadamente em termos do reforço da marca e da reputação do curso de engenharia do ambiente no Técnico”, afirmava o docente.

Partilhando que também havia sido docente da primeira geração de alunos de engenharia do ambiente, o professor Rogério Colaço centrou a sua intervenção nos novos desafios que se impõem nesta área nos próximos anos. Começando por sublinhar “as preocupações ambientais dos alunos que entram no Técnico”, o presidente do Técnico realçava que esta tomada de consciência do impacto ambiental que “a nossa existência no planeta terra tem é muito importante”. “Ao longo da vossa vida profissional vocês serão atores importantes nesta mudança de paradigma que tem um impacto fundamental naquilo que será a vida e a sobrevivência da humanidade”, disse o presidente do Técnico. Confessando que segue com algum cuidado esta temática, evidenciou a sua convicção de que “a solução para os problemas ambientais é tecnológica, devidamente enquadrada por mecanismos políticos”. Para terminar, o docente manifestou o seu reconhecimento para com os alunos que organizam estas jornadas “que são da maior importância e muito trabalhosas”. “É aqui que alargam as vossas competências para além daquilo que vos é ensinado nas vossas cadeiras. Estas atividades criam um espírito de grupo, promovem a discussão de ideias, a perseguição de objetivos. Da parte do Técnico têm sempre todo o apoio que necessitarem para fazer este tipo de iniciativas”, concluía.

“A honra e a satisfação de voltar a casa” que a secretária de estado do ambiente fez questão de referir logo no início da sua intervenção tornar-se-iam bem claras no seu discurso, no qual não deixou nada por dizer, e através do qual conseguiria inspirar na medida do que pretendia. “As palavras têm sempre um peso e podem inspirar, como, aliás aconteceu comigo com alguns professores que aqui conheci e que me inspiraram em muito domínios, nomeadamente no percurso que tomei e no doutoramento que fiz”, evidenciava. Revelando que a Engenharia do Ambiente não foi a minha primeira escolha quando decidiu entrar na faculdade, Inês Costa salientou que “ainda assim ingressar no técnico e todo o meu percurso académico aqui foram sem dúvida melhor decisão que tomei”. Depois de relembrar “os trabalhos que eram quase desafios de obstáculos por si”, a governante evidenciava algumas particularidades que distinguem um bom engenheiro, salientando algumas das mais-valias do curso de Engenharia do Ambiente, tais como: “a diversidade de conhecimentos que aborda, a transversalidade dos vários domínios que são discutidos, a visão sistémica que é aplicada, a promoção da inovação na abordagem a estes desafios, a curiosidade que desperta e no fim naquela sensação de realização de que realmente conseguimos chegar a um resultado e ele pode ser aplicado”.

Perante um mundo que “hoje já está a mudar”, a secretária de estado do ambiente frisava que também “os engenheiros têm que mudar de lentes” nesta abordagem aos novos desafios. Mostrando a importância de se fazer pontes e de colocar o foco na origem dos problemas, Inês Costa frisava a sua “certeza que nós [engenheiros] fazemos parte da solução”.  E foram muitas as soluções que a alumna do Técnico apontaria de seguida, todas elas tendo como elemento comum a valorização dos recursos. Sem medo de vincar que muitas vezes o maior obstáculo ao combate às alterações climáticas é o “receio do impacto económico de curto prazo dessas soluções”, Inês Costa afirmava que “chegamos a um momento em que a resposta não pode ser extrair mais, produzir mais, vender mais”. “É preciso entender que este modelo linear pode dar riqueza a 5 anos, mas tira-nos prosperidade já nas próximas duas décadas”, frisava. “A economia tem que ser desenhada de modo a garantir as bases para o bem-estar social, dentro dos limites do planeta”, acrescentou ainda. A secretária de estado terminaria reiterando a sua convicção de que os engenheiros do ambiente do Técnico farão a diferença e felicitando a organização destas jornadas.  “Espero encontra-vos mais vezes pelo caminho”, concluía.

A discussão prosseguiria em torno de pontos como a transição energética, a influência do ambiente na saúde, a produção sustentável e a economia circular. Para Helena Alves, vice-presidente do NEEA, esta diversidade de pontos de discussão é a grande mais-valia do programa das jornadas. “Tentamos diversificar um bocadinho, e não falar tanto de temas anteriormente já discutidos”, afirma. Satisfeitos com o resultado alcançado, não só por conseguirem “abrir as jornadas com uma antiga aluna que é hoje secretária de estado”, mas também “pelo painel de oradores excelentes que conseguimos trazer”, a aluna salienta que o grande objetivo da organização é terminar o evento “com mais conhecimento”, ajudando “a abrir novas visões, dar a conhecer novos projetos e iniciativas”, dando “o destaque ao ambiente que neste momento ele precisa e merece”.