A convocatória da Universidade de Lisboa (ULisboa) e do Técnico era para uma cerimónia de atribuição de um doutoramento Honoris Causa a um dos seus mais prestigiados alumni: o engenheiro António Guterres. Mas aquilo a que se assistiu na manhã desta segunda-feira, dia 19 de fevereiro, na Aula Magna da reitoria, foi muito para além isso. Foi uma enchente de elogios e aplausos, um regresso a casa de uma das personalidades mais relevantes da atualidade, e um manifesto de gratidão perante uma carreira tão generosa e exemplar.
Os dois ecrãs gigantes de cor azul, um de cada lado do palco, denunciavam uma sala cheia. As mais altas entidades nacionais, nomeadamente o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o primeiro-ministro, António Costa, vários ministros e membros do corpo diplomático, e ainda uma vasta comunidade académica marcaram presença na cerimónia.
As primeiras palavras ficaram a cargo do proponente e padrinho desta distinção: o professor Arlindo Oliveira. O presidente do Técnico sabia que não calhara uma tarefa fácil, tendo em conta “as inúmeras qualidades de uma pessoa como António Guterres”, “os vastos conhecimentos”, “os seus méritos como humanista”, e “os passos de uma carreira tão vasta e tão polivalente”. Destacando aquilo que este doutoramento Honoris Causa tem de mais único “o facto de ser concedido pela alma mater de António Guterres: a Universidade de Lisboa e o Instituto Superior Técnico”, lembrou o “percurso académico brilhante” do alumnus, e sublinhou recorrendo a várias histórias: “o conhecimento enciclopédico dos problemas, os seus dotes como orador e a sua capacidade humanística” que já se vislumbravam nos tempos de aluno.
Os elogios do professor Arlindo Oliveira, porém, não se ficaram pelo passado, atravessando toda a “brilhante carreira política”, “as qualidades como docente”, e focando-se claro na “coragem e humildade” com que António Guterres assume o atual cargo, factos que o tornam “um exemplo para os mais jovens”. O presidente do Técnico terminou agradecendo ao homenageado “tudo aquilo que Portugal e o mundo lhe deve”.
Seguia-se depois o momento alto da cerimónia, sendo outorgadas a António Guterres as Insígnias e assinado o Livro de Termos, que oficializavam a atribuição do grau. Ainda antes de terminar de rubricar o documento, o Secretário-Geral das Nações Unidas já estava a ser ovacionado, num aplauso que perdurou por vários minutos. Quando lhe foi dada a palavra, o recém-doutorado estava visivelmente emocionado e feliz. Assim lhe desvendada o sorriso com que pontuava cada frase. Também ele não poupou elogios ao Técnico: “esta escola que teve uma enorme influência na forma como eu vejo o mundo e os outros”. Afirmando que apesar de nunca ter exercido “diretamente a profissão de engenheiro”, a sua formação foi “a melhor que podia ter tido” e o Técnico ensinou-o a “aprender a aprender”. Depois de abordar alguns dos desafios que se impõem às presentes e futuras gerações – o cibercrime, as alterações climáticas, a inteligência artificial, etc. – António Guterres voltou a colocar o foco no Técnico, destacando o papel que terá na formação dessas gerações. “Não tenho dúvidas que se alguma coisa de bom aconteceu na minha vida foi ter sido aluno do Técnico”, concluía com a convicção que lhe é característica.
Por ter sido um espectador próximo do percurso genial de António Guterres, também o discurso do presidente da República teve traços emocionais e penetrantes. Saudando o “novo doutor”, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu o percurso estudantil, cívico e profissional do secretário-geral da ONU, e classificou Guterres como “a personalidade mais qualificada da minha geração”. Recordando o “privilégio pessoal de ter assistido de perto” à actuação de um “universitário maduro”, do líder “inventivo e empenhado de movimentos cívicos e plataformas de entendimento”, e “do governante nacional porventura mais consensualmente amado”, o presidente da República afirmou que se tornava inevitável “a universidade que o viu crescer nos primórdios desta caminhada” não o galardoar “com a merecida gratidão”. Um sentimento que Marcelo Rebelo de Sousa acredita que se estende a todos os portugueses.
Os “verdes anos” de Carlos Paredes encerravam a cerimónia. Em primeiro plano nos vários ecrãs e no olhar de todos estava António Guterres com o seu semblante humilde e generoso. Uma imagem que chega por si só e que resume tão bem a forma como nos temos habituado a vê-lo sempre, em tons de esperança.