São dias cheios de histórias, horas de maratonas de auto-descoberta, minutos que voam entre o choque da incerteza e o conforto da solução, aqueles que o Pitch BootCamp no Instituto Superior Técnico oferece aos alunos que nele participam. Nesta edição do evento organizado pela SparkAgency, e que decorreu nos dias 27 e 28 de outubro, foram cerca de 150 os alunos que vieram aprender a valorizar as partes da sua história que os tornarão uma proposta de valor na chegada ao mercado de trabalho.
Miguel Goncalves é o dono da voz frenética que espicaça, aconselha e faz vibrar os participantes. Sem meias palavras, destaca o mérito, relativiza medos, lembra o caminho que aí vem e desdobra estratégias para que ele seja o mais bem-sucedido possível, tudo com rasgos de humor à mistura. “ O Pitch Bootcamp é sobre aquilo que vocês podem fazer por vocês próprios”, referiu várias vezes. E por isso mesmo, não deixa ninguém acomodar-se “nos sonhos dos outros”, porque toda a gente “tem algo que o distingue, mesmo que ainda não saiba”, salienta. É nessa procura, aliás, que se centra o primeiro dia do evento, que termina sempre com a substituição de espaços em branco, com as cores dos post-its e das experiências de vida que por mais insignificantes que possam parecer, desvendam tão bem quem os escreveu.” Vocês são formidáveis, mas se não o souberem dizer ninguém vai adivinhar”, sublinha Miguel Gonçalves.
O primeiro dia de trabalho não termina sem que os alunos se deixem inspirar pelas histórias de três profissionais. Joana Loureiro ( Daymon), Victor Duarte (TechnipFMC) e Luís Santos (Alpac Capital) foram convidados a partilhar as lições aprendidas e que tanto acabaram por ensinar. Frontais, com carreiras e personalidades diferentes, percorreram o trilho que os levou até onde hoje estão, destacaram prioridades que nunca largaram e aconselharam muito, porque os alunos assim lhes iam pedindo. “Ter a coragem de dizer que não fez toda a diferença na minha carreira”, lembrou Joana Loureiro. Todos foram unânimes ao afirmar que a procura incessante de conhecimento é o maior reforço numa carreira. A juntar a isso, e como salientou Victor Duarte, é preciso “nunca duvidar das nossas capacidades”. Uma boa dica para o desafio que se seguia no dia seguinte.
Bem cedo, os participantes enfrentaram a preguiça do sábado, deixaram as t-shirts em casa, e quando os 180 representantes das empresas chegaram, trajados a rigor, fizeram ouvir o entusiasmo que os invadia. Depois de um primeiro contacto e de uma conversa mais informal, descem-se as escadas para os derradeiros testes. Frente a frente, com representantes de topo de conceituadas empresas nacionais e internacionais, das mais variadas áreas, os alunos apresentam-se. Uns muito nervosos, e outros a disfarçar melhor, a abordagem nunca é igual, e a conversa saltita entre as competências individuais e as expectativas e desejos para o futuro. Do outro lado, ao olhar atento sucede um comentário construtivo, onde as críticas e os elogios competem saudavelmente, desconstruindo-se hesitações e apontando-se possíveis alternativas de carreira. Nunca nenhum se levantou sem saber o que escrutinaram nele desde que se sentou.
Patrícia Silva, aluna do 5º ano do Mestrado integrado em Engenharia Aeroespacial, já tinha feito dois pitchs quando lhe pedimos um balanço. “Deram-me um bocadinho mais na cabeça nesta segunda vez”. Durante a sua exposição falou de si e do que a diferenciava, contou todas as atividades em que se viu envolvida, mas faltou-lhe confiança na exposição. Reteve toda a informação que lhe deram, e mesmo com os nervos a denunciá-la, não hesita em afirmar que da parte da tarde irá correr melhor. “Tem que correr melhor e pronto”, frisa a aluna. João Figueiredo é uma antítese de Patrícia, são do mesmo curso, mas a ele não podia estar mais calmo. Aproveita os minutos antes da abordagem às empresas, para conhecer colegas, e aconselhá-los, até porque é a terceira vez que vem. “Desde a primeira vez que vim até agora há muitas diferenças em mim”, conta. “Vir ao Pitch BootCamp do Técnico acordou-me para uma realidade diferente, tive a oportunidade de perceber como funcionam as empresas e o que procuram, e ao mesmo tempo de ano para ano ajuda-me a perceber com mais certezas aquilo que quero”, acrescenta. “Isto ajuda-nos a saber muito sobre nós mesmos, aliás”, conclui o aluno de aeroespacial.
Também do lado dos representantes das empresas, as abordagens se distinguem, mas todos sem exceção ficam minuciosamente à procura do potencial individual dos alunos. É vê-los a tirar notas, a questionar afirmações e escolhas, a antecipar passos, e ainda a fazer potenciais contratações. Sérgio Carvalho, representante da Deloitte e antigo aluno do Técnico, por exemplo já encontrou “um aluno muito bom, a quem disse que adorava que trabalhasse comigo e para me contatar assi que pudesse”, partilha. “O Técnico prepara os seus alunos de uma forma espetacular, e é isso que lhes tenho tentado transmitir”, assinala o alumnus, frisando ainda que “na maior parte dos casos são alunos brilhantes, e falta-lhes apenas confiança”. Foi tendo consciência desta ajuda que pode dar aos alunos desta escola que já foi sua que Carla Fernandes, representante da Logic, dispensou o seu Sábado com a família. “Esta é uma oportunidade muito importante de crescimento e de desenvolvimento”, reiterou. “Adorava que no meu tempo tivesse havido algo do género, porque não teria cometido alguns erros que eu sei que cometi e que os vi hoje a fazer”, declara a alumna antes de regressar para mais uma ronda de combate contra os ditos erros, na luta pelo sucesso destes alunos.