Ciência e Tecnologia

“Engenharia e Ciência vão à Escola”: Investigadores do Técnico percorreram dezenas de escolas do ensino básico durante cinco dias

Investigadores, engenheiros e estudantes do Técnico dinamizaram mais de 40 sessões interativas para cerca de mil alunos do ensino básico dos concelhos de Lisboa, Loures e Oeiras.

A semana começou com um objeto a circular de mão em mão no 3.º ano da Escola Básica Pintora Maluda, em Lisboa. “Não consigo dobrar!”, reagiu um aluno ao segurar uma peça rígida e “surpreendentemente leve”. Era fibra de carbono, componente estrutural do “carro mais eficiente de Portugal”, desenvolvido no âmbito do Projeto de Sustentabilidade Energética Móvel (PSEM). A pequena peça abriu caminho para uma conversa sobre materiais, energia elétrica e eficiência. Entre dúvidas sobre painéis solares, baterias e forças que fazem um veículo mover-se, surgia a noção que a turma adotou em conjunto: “Ajudar a proteger aquilo que nos rodeia e reduzir a nossa pegada carbónica”.

A atividade integrou a 2.ª edição da iniciativa “Engenharia e Ciência vão à Escola”, promovida pelo Instituto Superior Técnico durante a Semana da Ciência e Tecnologia. Entre 24 e 28 de novembro, mais de 40 sessões interativas chegaram a escolas de Lisboa, Loures e Oeiras, aproximando a investigação ao ensino básico e mostrando como fenómenos científicos e processos de engenharia emergem em objetos do quotidiano.

Na Escola Secundária D. Dinis, a luz assumiu vários papéis. Mário Berberan e Santos e Manuel Prieto, docentes do Técnico e investigadores do Instituto de Bioengenharia e Biociências (iBB), entraram com um arco-íris projetado, uma fita de magnésio e uma lâmpada ultravioleta (UV), conduzindo a turma de 9.º ano por exemplos de fenómenos que existem mesmo quando não são visíveis. Ao acender a luz UV, a água tónica brilhou em azul, notas falsas revelaram marcas ocultas e ficou evidente que o azeite, devido à presença de clorofila, também apresenta fluorescência. “A luz conta histórias químicas”, explicava um dos investigadores, relacionando o tema com pirilampos e bioluminescência. No final da sessão, o professor da turma, Filipe Costa, destacou a importância das demonstrações: “Todos ficámos encantados. São sessões como esta que plantam nos alunos uma semente pela curiosidade científica”.

Na sala ao lado, o foco estava na radiação eletromagnética. Bernardo Galego, investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvimento em Lisboa (INESC-ID), explicou como as simulações e os limites de segurança são medidos no quotidiano. “O meu trabalho é garantir que os valores que nos rodeiam são seguros”, assegurou, reforçando que os efeitos físicos “dependem da duração e energia da exposição à radiação”.

A viagem continuou em Loures, onde o 1.º ano da Escola Básica da Bela Vista seguiu até ao Espaço com António Gomes, investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP). Munido de um telescópio, explicou a missão BepiColombo, que viaja há cerca de oito anos em direção a Mercúrio. A dimensão relativa dos planetas, a órbita de Mercúrio e a função dos satélites motivaram uma sucessão de perguntas rápidas e respostas entusiasmadas provenientes de todos os lados da sala. “Tens de ir já embora?”, ouviu-se no final da apresentação à turma, provocando risos tímidos que mantiveram a energia do encontro.

De regresso a Lisboa, outra sala recebia um conjunto familiar de objetos, desde bicicletas a peças de Lego e lápis de cor, que serviram de ponto de partida para a sessão de “Como se fabricam as coisas?”. Inês Matias Almeida, do Instituto de Engenharia Mecânica (IdMEC), explicou, aos alunos do 4.º ano da Escola Básica O Leão de Arroios, como “diferentes máquinas e técnicas permitem produzir materiais e estruturas”. Quando se discutiu a construção de aviões, o número que prendeu a sala foi imediato: “cerca de um milhão de parafusos”. A imaginação tomou conta da conversa e multiplicaram-se ideias do que cada um gostaria de construir no futuro. “É possível fabricar qualquer coisa, se não for de uma forma, será de outra”, frisou a investigadora. Para a professora Célia Nunes, o impacto da atividade foi evidente: “Até os mais introvertidos participam e surgem ideias incríveis. Já no ano passado, a sessão foi recebida com muito sucesso e os alunos pediram mais”, partilhou.

A sustentabilidade ganhou novas formas na Escola Secundária D. Filipa de Lencastre, onde Janice Lopes, do Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares (C2TN), levou ao 5.º ano exemplos de como “transformar o bagaço de uva em soluções científicas”. Entre compostos fenólicos, aplicações em cosmética e ideias para agricultura, os alunos acompanharam amostras que revelavam compostos e pigmentos. “As cores são como uma linguagem secreta das plantas”, explicava Janice, enquanto a turma estabelecia paralelos com frutas do seu quotidiano. “Isso quer dizer que as bananas têm carotenóides?”, perguntou um aluno, aplicando o conceito recém-aprendido.

A semana terminou em Oeiras, onde a luz ressurgiu como tema, mas desta vez ligada à criptografia. Perante o 3.º ano da Escola Básica António Rebelo de Andrade, Beatriz Costa, estudante de doutoramento e investigadora do Centro de Física e Engenharia de Materiais Avançados (CeFEMA), mostrou como padrões luminosos podem esconder informação. Utilizando filtros específicos, revelou palavras ocultas e desafiou a turma a decifrar outras: “Eu faço a ciência de esconder mensagens através da polarização da luz”, explicou, enquanto os alunos rodavam os seus “filtros de espião” em procura de novos sinais.

Ao longo de cinco dias, a aproximação entre escolas e investigação fez-se de objetos entre mãos, cores que se revelam, vozes que perguntam e pequenos fenómenos que ganham significado no momento em que são observados de perto. Foram perto de 60 investigadores e estudantes do Técnico para mais de mil alunos do 1.º ao 9.º ano, onde a ciência foi o ponto de partida e a curiosidade não teve limites.

Reportagem da edição de 2024: “Engenharia e Ciência vão à Escola”: Jovens de Lisboa, Loures e Oeiras exploraram o futuro da ciência com a comunidade do Técnico.

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