Ciência e Tecnologia

Firefront: um sistema inteligente que será uma mais-valia na deteção e combate de incêndios florestais

O projeto em desenvolvimento desde 2019 foi apresentado no passado dia 30 de junho no Aeródromo de Santa Cruz, em Torres Vedras.

Uma equipa multidisciplinar liderada pelo professor Alexandre Bernardino, docente do Técnico e investigador do Instituto de Sistemas e Robótica(ISR), está a desenvolver um sistema de observação inteligente para ajudar quer na deteção, quer no combate a incêndios. O projeto intitulado Firefront está a ser desenvolvido desde março de 2019 e foi apresentado no passado dia 30 de junho, no Aeródromo de Santa Cruz, em Torres Vedras.

“O sistema é composto por sensores – câmaras de vídeo e sensores de posicionamento- que podem ser instalados a bordo de aeronaves tripuladas ou não tripuladas, e que detetam o fogo e fazem a predição da localização futura da frente de incêndio”, explica o professor Alexandre Bernardino. “Esta informação é fornecida às forças de combate e permite-lhes tomar melhores decisões sobre a forma de abordar o incêndio”, adiciona de seguida o investigador.

Podendo ser adaptado a qualquer aeronave que consiga fornecer energia aos sensores, esta solução tecnológica permitirá enviar dados e imagens em tempo real para os agentes da Proteção Civil e prever a propagação das frentes de incêndio, em função do relevo e da biomassa existentes nos cenários reais. Para além disto, este sistema fará um mapeamento exato dos focos do incêndio, mesmo em casos de visibilidade reduzida por causa do fumo, assim como a previsão da evolução das várias frentes do fogo florestal.

O Firefront nasceu no seguimento de um concurso lançado, em 2017, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia para financiamento de projetos de investigação orientados para a prevenção e combate de incêndios florestais. O projeto seria aprovado em 2018 e iniciado em março de 2019. “Estamos a cerca de metade da duração do projeto. Surgiu de uma iniciativa conjunta dos vários parceiros que, entretanto, já colaboravam noutros projetos, e que decidiram reunir esforços para, dentro das tecnologias que dominavam, contribuir para ajudar no combate a um problema que tanto impacto negativo tem na economia e sociedade portuguesas”, partilha o líder do projeto.

Ao longo do processo de desenvolvimento o próprio objetivo original do Firefront sofreu um upgrade, percebendo-se que além de ser  útil no apoio ao combate dos fogos o sistema “poderá também efetuar o apoio à deteção precoce”, tal como refere o professor Alexandre Bernardino.

Além da equipa do Instituto de Sistemas e Robótica do ISR, o projeto conta com cientistas do Instituto de Telecomunicações (IT), do Centro de Investigação da Academia da Força Aérea (CIAFA) e da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI). Integram também o consórcio duas instituições com grande capacidade operacional: a Força Aérea Portuguesa e o Aeroclube de Torres Vedras (ACTV); e ainda uma empresa que contribui para a parte mais tecnológica do projeto ligada aos sensores, a UAVision.

Para que o combate aos incêndios florestais seja o mais célere e eficaz possível é fulcral que os meios disponíveis sejam utilizados de forma eficiente, e é neste sentido que o Firefront promete fazer a diferença, apoiando fortemente a tomada de decisão da Proteção Civil. “Atualmente a deteção da localização e previsão de progressão dos incêndios é feita de forma pouco automática, requerendo intervenção humana em vários passos do processo, o que atrasa os tempos de resposta”, lembra o professor Alexandro Bernardino. “Com o Firefront esperamos automatizar grande parte do processo e tornar o acesso à informação mais rápido, aumentando a eficácia do combate”, sublinha o docente do Técnico.

Neste momento, o sistema está em fase de testes, estando a conclusão do projeto prevista para março de 2022. O professor Alexandre Bernardino adianta, contudo, que “tencionamos este ano completar a aquisição de dados em cenários reais e no próximo ano fazer testes de validação junto das entidades da proteção civil”.