Sofia Gama, professora e investigadora do Instituto Superior Técnico e no Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares (C2TN), está a coordenar um projeto que visa melhorar o diagnóstico de infeções provocadas por bactérias multirresistentes, conhecidas como super-bactérias. O “SuperOpTyMe” arrancará no segundo trimestre de 2025, estendendo-se ao longo de três anos e propõe uma nova abordagem para a deteção seletiva de infeções causadas por estas bactérias, que representam uma crescente ameaça à saúde pública global. O projeto baseia-se na otimização de compostos naturais produzidos por bactérias e radiomarcados, possibilitando um diagnóstico mais rápido e preciso de infeções bacterianas graves.
“Esta técnica inovadora permitirá uma deteção rápida, seletiva e não invasiva de infeções provocadas por bactérias multirresistentes, facilitando uma intervenção clínica mais eficaz para erradicar os focos infeciosos e possibilitando tratamentos mais eficientes, reduzindo a mortalidade associada a estas infeções”, destaca Sofia Gama.
De acordo com a investigadora, “as bactérias, tal como os seres humanos, necessitam de metais como ferro ou cobre para sobreviver”. “Para obterem esses metais do meio onde se encontram, desenvolveram mecanismos específicos, entre os quais a produção e excreção de metalóforos – moléculas que se ligam ao metal desejado e, posteriormente, são reabsorvidas, transportando o metal para o interior celular”, explica.
Este mecanismo está na base do projeto “SuperOpTyMe”, cujo objetivo é identificar, em organismos vivos, a presença de infeções provocadas por bactérias multirresistentes, como a Staphylococcus aureus e a Pseudomonas aeruginosa. Para tal, a equipa recorre a técnicas avançadas de diagnóstico por imagem, nomeadamente a tomografia por emissão de positrões (PET).
A estratégia do projeto assenta no uso de metalóforos específicos, produzidos exclusivamente por estas bactérias, para coordenar metais com propriedades radioativas, como o isótopo de cobre Cu-64. Este isótopo emite radiação de positrões e beta, com aplicações tanto em PET como em radioterapia molecular. Como o sistema metalóforo/Cu é naturalmente reconhecido e absorvido pelas bactérias, torna-se possível visualizar com precisão os focos infeciosos.
“Graças à elevada especificidade dos metalóforos utilizados, conseguimos garantir que o composto radioativo se concentra apenas nas células bacterianas que pretendemos estudar, aumentando a qualidade do sinal captado pela técnica de imagem. Considerando que S. aureus e P. aeruginosa estão entre as principais causas de infeções hospitalares graves e potencialmente fatais, a capacidade de as detetar de forma eficaz pode representar um avanço significativo na saúde pública”, sublinha Sofia Gama.
Com o financiamento de cerca de 240 mil euros da União Europeia, no âmbito do Programa Portugal 2030, e cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), o “SuperOpTyMe” conta com a colaboração de instituições como o Hospital de Santa Maria – Unidade de Pneumologia Oncológica (Lisboa), o ICNAS – Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (Coimbra), o RISE-Health (Departamento de Química, Faculdade de Ciências, Universidade da Beira Interior, Covilhã), o CIC biomaGUNE (Centro de Investigación Cooperativa en Biomateriales, San Sebastián, Espanha) e a Università degli Studi di Messina (Itália).
O projeto insere-se nas prioridades do programa Portugal 2030, no eixo estratégico “Portugal + Inteligente”, que aposta na investigação e inovação como motores de uma economia mais competitiva e sustentável. Está também alinhado com os Objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), nomeadamente o ODS 3 – Saúde de Qualidade e o ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestruturas.