Ciência e Tecnologia

Um dos galardões da REN veio para o Técnico

Guilherme Paraíso ficou em segundo lugar na categoria das teses de mestrado com um trabalho sobre redes de distribuição DC.

No final do século XIX existiu uma grande disputa sobre como deveria ser distribuída a energia elétrica conhecida como “war of currents”. Num dos lados,  Nikola Tesla e George Westinghouse argumentavam que Corrente Alternada (AC – Alternating Current) era a melhor maneira de distribuir energia, e no outro lado Thomas Edison alegava que a Corrente Contínua (DC-Direct Current) era a escolha mais acertada e segura para um sistema de distribuição. Graças à invenção do transformador, que permite elevar as tensões, as redes AC mostraram poder ter menores perdas de transmissão e ganharam esta “guerra”. No entanto, com o desenvolvimento dos semicondutores de potência nos últimos anos, as microredes DC são vistas novamente como possível forma de distribuir localmente energia elétrica com maior rendimento, contribuindo para a diminuição da emissão de gases com efeito de estufa. É, exatamente, sobre estas redes e as suas vantagens que se debruça a tese de mestrado de Guilherme Paraíso  com a qual o aluno do Técnico conquistou recentemente o segundo lugar do Prémio REN, na categoria de teses de mestrado.

“Estou muito satisfeito por ter ganho este prémio tão cobiçado na área de Energia, e muito contente por ver reconhecido o meu trabalho realizado na dissertação de mestrado”, refere Guilherme Paraíso. “Na minha tese de mestrado foi criado um protótipo de uma rede DC com várias cargas interconetadas e foi desenvolvido o sistema de controlo que garante a estabilidade da tensão da rede DC, considerando que a generalidade das cargas é de potência constante”, explica Guilherme Paraíso. Para o aluno do Técnico “a mudança para uma rede de distribuição DC ou para a combinação de um sistema híbrido DC/AC é uma evolução tecnológica disruptiva”. “O trabalho que realizei na tese é um contributo importante para o progresso destas redes e para a estabilidade das redes DC no futuro. Propus controladores não lineares capazes de garantir a estabilidade da rede DC alimentando cargas de potência constante, sem a necessidade de instalar condensadores DC volumosos, dispendiosos e de fiabilidade relativamente baixa”, salienta o aluno do Técnico.  O trabalho de Guilherme Paraíso permite obter redes DC relativamente económicas de elevada fiabilidade, facto esse que ajudou a destacar o seu trabalho dos demais.

São muitas as vantagens de uma rede de distribuição de energia DC que Guilherme Paraíso nos ajuda a compreender.  Os impactos começam logo na casa de todos nós, afinal como o próprio relembra, “cerca de 40% do consumo primário de energia é feito no setor residencial. “A maioria das cargas elétricas ligadas à rede de Baixa Tensão são cargas eletrónicas que necessitam de uma tensão DC para operar”, frisa Guilherme Paraíso. Por isso mesmo, e como frisa o aluno do Técnico, “é vantajoso, do ponto de vista do rendimento, repensar a forma como a rede de distribuição de Baixa Tensão é projetada”. “Atualmente as Microredes DC são vistas como uma possível forma de complementar as redes de distribuição AC já existentes, para reduzir perdas”. Sendo assim, e como é sublinhado por Guilherme Paraíso, é óbvio que “uma rede de distribuição de energia DC irá contribuir para a modernização da infraestrutura da rede elétrica, adaptando-a às atuais necessidades da maioria das cargas eletrónicas, permitindo a integração direta de fontes de energia renovável e aumentando a eficiência energética em estações de carregamento rápido de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia”.

Assumindo os vários desafios subjacentes neste desejável avanço das microredes DC, nomeadamente nos conversores utilizados na interface com a rede AC, respetivos sistemas de controlo, e nos sistemas de proteções da rede DC, Guilherme Paraíso revela a sua vontade de continuar a contribuir para que os mesmos sejam ultrapassados. Para tal, e no decorrer do Doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores no Técnico – que iniciou recentemente- o jovem propõe-se a desenvolver “novos conversores eletrónicos de potência bidirecionais, com isolamento galvânico a alta frequência, utilizando condensadores de filme para aumentar a fiabilidade e reduzir a potência de curto-circuito da rede”. “Os conversores terão baixas perdas e um sistema de proteção baseado em semicondutores de potência, que garanta a segurança dos utilizadores da rede DC e dos equipamentos”, colmata.