O professor David Audretsch, docente da Indiana University e diretor do Institute for Development Strategies, foi o orador convidado da mais recente “IST Distinguished Lecture” que decorreu na passada quinta-feira, 8 de julho. A palestra, promovida no âmbito do American Corner@IST, em colaboração com o Departamento de Engenharia e Gestão (DEG), e subordinada ao tema “Linking Entrepreneurship to Innovation and Job Creation” teve como palco a plataforma Zoom.
Ao longo de mais de uma hora, e recorrendo a exemplos muito práticos, o professor David Audretsch evidenciou o papel do empreendedorismo enquanto ponte crucial entre a geração da ideia e a sua comercialização, influenciando a atividade de inovação e a criação de emprego.
O orador começaria por recordar que ao longo da sua formação, nas várias universidade e faculdades americanas pelas quais passou, e mesmo estudando Economia, nunca ou muito raramente ouviu falar dos conceitos “empreendedorismo”, “inovação” e “criação de emprego.” “Na verdade, estudei nos anos 70, mas todo o pensamento, todas as ideias, e a perceção era de que estávamos na segunda era industrial”, referiu. Ainda sobre estes tempos, o orador evidenciaria “que as pessoas não pensaram na inovação quanto ao que faz a diferença. Certamente não pensavam no espírito empresarial, pensavam em fábricas, pessoas que lá trabalhavam, porque era isso que estava a impulsionar o sucesso ou o desempenho naquela época”, disse.
Depois disto, o orador foi demonstrando a evolução registada ao longo dos tempos – enfatizando os momentos e visões que a alavancaram – devido à tecnologia e claro à globalização, e como isto se refletiu na criação de trabalho, na valorização do capital humano e na sua qualificação.
A determinada altura, e como lembrava o orador, percebeu-se, no entanto, que continuava a existir uma lacuna entre na transferência da inovação para a sociedade. Entre os que alertaram para a importância de a colmatar, o docente destacou Romano Prodi, recordando um discurso no Instituto de Empresa Madrid, em 2002, enquanto exercia o cargo de presidente da Comissão Europeia e no qual salientou que “as nossas lacunas no campo do empreendedorismo têm de ser levadas a sério porque há cada vez mais provas de que a chave para o crescimento económico e a melhoria da produtividade reside na capacidade empreendedora de uma economia”.
O professor David Audretsch elencaria depois alguns exemplos práticos que demonstravam como a inovação não estava a chegar ao mercado, por falta de uma visão empreendedora nos ecossistemas onde esta surgia. O docente lembrou o caso da Xerox que criou o primeiro computador pessoal no PARC (Palo Alto Research Center) e que nunca chegou a comercializar por falta de crença na viabilidade do mesmo, ou da SAP cujos softwares nascem no ecossistema da IBM e que apenas avançam fora do mesmo, tornando-se o sucesso que são hoje. “Todas essas inovações, a investigação e desenvolvimento, toda a educação, o capital humano, e todas as experiências culturais que contribuíram para a criatividade, iam ficar ali adormecidos. Foi preciso um empreendedor ou empreendedores para tirar essa ideia do contexto organizacional onde foi criada”, sublinhou.
Recorrendo a uma infografia com dados acerca da força de trabalho nas regiões de Detroit e Silicon Valley, o orador demonstrava as diferenças abismais entre uma e outra região. “É em Silicon Valley que se encontram os trabalhos. Reparem que, além dos postos de trabalho, também os ganhos são mais do dobro. Estes são os chamados bons empregos”, frisou. “Podemos também ver que em Detroit, continuam concentrados no capital físico, uma indústria que não é necessariamente má, mas sabemos onde está o crescimento, onde está o futuro. Era a terceira era industrial, agora, transformou-se na quarta”. “O que concluo de tudo isto, é que, sim, a inovação importa”, salientava, mais à frente.
Para terminar a palestra, e em jeito de remate de tudo o que tinha enfatizado, o professor David Audretsch recorreu a uma citação do filósofo Johann Wolfgang von Goethe que resumiria bem tudo fora dito: “saber não é suficiente; devemos aplicar. Querer não é suficiente; devemos fazer”. “É isso que o empreendedorismo faz”, rematou o orador.