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Diogo da Silveira: “O que ouvia é que há os engenheiros e há os do Técnico”

Estudou Automatismos (ou Engenharia Elétrica e Eletrónica) em França, onde vivia com a família, antes de tirar um MBA no INSEAD. Hoje, é CEO do grupo Portucel Soporcel, “o maior grupo industrial português”, e faz questão de manter uma ligação com aquela que considera “a instituição de maior prestígio” no ensino da Engenharia em Portugal.

Sempre quis seguir Engenharia?
Quando tive que escolher entre Engenharia e Gestão hesitei muito. Como tenho mãe e pai engenheiros químicos do Técnico, não foi fácil dizer que ia para Gestão. Mas acabou por não ser isso a fazer a diferença: um amigo dos meus pais, também engenheiro do Técnico, disse-me “se fores engenheiro depois podes fazer Gestão, se fizeres Gestão depois não fazes Engenharia”. Quando escolhi Engenharia já o fiz sabendo que depois queria fazer Gestão.

E não foi para o Técnico porque estava em Paris?
Exatamente. Tenho mãe e pai formados no Técnico, avô que foi professor no Técnico (era uma pessoa muito exigente, muito rigorosa – até há uns anos era difícil eu ir a um jantar onde houvesse engenheiros e não se falasse do meu avô). Lá em casa o que ouvia é que há os engenheiros e há os do Técnico. Fui muito trabalhado logo desde pequenino. Tanto que quando chegou a altura do meu filho mais velho, dei-lhe três opções: o Técnico, o Técnico ou o Técnico.

Na altura, quando saiu da universidade, trabalhou alguns anos na área da Engenharia antes de fazer o MBA no INSEAD…
Não fiz logo o MBA porque queria começar a trabalhar: primeiro não tive hipótese porque fiz o serviço militar em França, onde trabalhei como engenheiro. Depois fui trabalhar para o mundo dos semicondutores, numa empresa japonesa, numa parte já de ligação entre a Engenharia e a Gestão. Só depois de algum tempo fui para o INSEAD.

E começou então uma carreira mais ligada à Gestão.
Sim. Voltei à Engenharia nalguns produtos. A Engenharia ensina-nos a pensar e depois trabalhamos com alguns produtos que são mais técnicos… Mas estive focado no mundo da Gestão.

Teve a primeira experiência em Portugal na McKinsey e depois de outras coisas, chegou à Portucel em 2014.
Sim, fiz muitas coisas entretanto mas depois tive a sorte de ser convidado para vir para a Portucel, a maior empresa industrial do país, e é impossível recusar esta oportunidade fantástica.

Mesmo enquanto esteve fora de Portugal, já conhecia o Técnico. Quando começou a ter cargos de chefia e a liderar os processos de recrutamento, a escola foi sempre uma referência?
Sim. Acho que o Técnico, por conseguir atrair os melhores alunos do ensino secundário em Portugal, tem uma base de alunos fantástica. Depois, tem no conjunto uma qualidade do corpo docente que faz com que os desenvolva de forma positiva – mesmo que eu ache que tem oportunidades para melhorar. Acho que é uma instituição fantástica e tem muito boa matéria-prima.

E na Portucel fazem recrutamento junto dos graduados do Técnico?
A Portucel, como maior empresa industrial do país, tem obviamente que ter ex-alunos da instituição de maior prestígio na área da engenharia em Portugal, que é o Técnico. Recentemente lançámos um programa de expansão da atividade e lançámos um programa de rejuvenescimento. Isto exponencia a necessidade de recrutar jovens engenheiros, e acredito que uma percentagem significativa venha do Técnico. Introduzimos também um programa de trainees, por exemplo, que espero que tenha sucesso junto dos alunos do Técnico.

Em que outros âmbitos pode focar-se a relação com o Técnico?
As necessidades que temos obrigam-nos a ter uma intensidade de relação com o Técnico como não tivemos no passado, mas que espero que solidifique uma verdadeira parceria. Ainda só estamos a falar dos alunos. Depois há toda uma parceria com os professores: nós temos um instituto de investigação dedicado, por um lado, à área florestal, e por outro, à tecnologia da pasta e do papel, e obviamente temos que trabalhar com as universidades. Vamos querer reforçar a ligação ao Técnico também na componente de investigação e, por isso, com o corpo docente.

O que é que a escola tem a oferecer ao mundo empresarial? E o que tem a Portucel a oferecer ao Técnico?
A escola tem a oferecer o mais importante, que são os recursos humanos. É a melhor matéria-prima que existe. Depois tem outra vertente, nos próprios professores: a capacidade de investigação que existe. O desenvolvimento que queremos ter na Portucel só é possível com parcerias com as universidades. Já nós temos a oferecer um aspeto fundamental que é dar a estudantes a possibilidade de terem uma carreira do tipo da que temos para oferecer numa empresa que representa um porcento do PIB Português, está presente em 127 países e conta com uma presença industrial em três continentes.

Como vê a relação entre a Portucel e o Técnico daqui a dez anos?
Daqui a dez anos devíamos ter como objetivo ter recrutado várias dezenas de engenheiros do Técnico; termos conduzido mais de dez projetos de investigação com a escola; haver pessoas da Portucel nos órgãos de gestão do Técnico. O Técnico é, para mim e em Portugal, a instituição de referência para o ensino da engenharia. A Portucel é o grupo industrial de referência. Têm que trabalhar juntos.