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Sistema para rastreio do cancro da mama desenvolvido no Técnico entre os melhores do Fraunhofer Portugal Challenge

João Felício, investigador do Instituto de Telecomunicações, conquistou o terceiro lugar no concurso e o sistema que está a desenvolver promete dar que falar.

A mamografia é o método de imagem médica mais utilizado no rastreio de cancro da mama, sobretudo em pacientes em  idades mais avançadas. Contudo, este método de diagnóstico utiliza radiação ionizante, que pode danificar os tecidos e, assim, causar problemas de saúde a longo prazo. Em alternativa ou para complementar a informação da mamografia, os médicos recorrem a ultrassons ou ressonância magnética. Porém, há também alguns inconvenientes apontados a estes exames, sendo que no caso dos ultrassons a grande queixa é o tempo que demora a ser efetuado e facto de os resultados dependerem significativamente do conhecimento do operador, podendo muitas vezes levar a diagnósticos errados. Por sua vez, a ressonância magnética permite ter acesso a imagens detalhadas de diagnóstico, mas é muito dispendiosa e demorada, o que inviabiliza a sua utilização no rastreio da população. A solução para estes problemas está a ser desenvolvida e testada no Instituto de Telecomunicações (IT) e a tese que se debruça sobre o mesmo conquistou o pódio do Fraunhofer Portugal Challenge 2019.

Assente na radiação de micro-ondas- utilizada, por exemplo, pelos nossos telemóveis ou por Wifi-, o  novo sistema de imagiologia médica para o rastreio do cancro da mama que o IT está a desenvolver é uma tecnologia que pode ser totalmente automatizada, confortável para pacientes com cancro da mama, que não causa problemas de saúde a longo prazo, e muitíssimo mais confortável para os pacientes, uma vez que não requer qualquer contacto com a mama. “Além disso, em casos em que os tecidos predominantes são glândulas mamárias ou fibroglandulares o contraste eletromagnético é mais favorável comparativamente à mamografia”, como refere João Felício, investigador envolvido neste trabalho e autor do trabalho “Microwave breast imaging using dry setup” que versa sobre o novo sistema.

“A ideia original [deste sistema] não partiu de mim, mas dos meus orientadores, os professores Carlos Fernandes do Técnico e o professor Jorge Costa do ISCTE-IUL quando me desafiaram a estudar a viabilidade da utilização de micro-ondas para deteção de cancro da mama”, explica o investigador do IT. Anteriormente, ideia já tinha sido esmiuçada por outros grupos de investigação que conseguiram alguns resultados preliminares. “O nosso objetivo foi aprofundar esta tecnologia, de modo a melhorar não só o conforto e higiene do exame, mas também a sua implementação prática e diminuir o tempo necessário para efetuar o exame”, explica João Felício. Para tal, o investigador desenvolveu as componentes de hardware e software de modo a reconstruir uma imagem precisa da mama.

O sistema foi já testado exaustivamente em ambiente laboratorial, e segundo João Felício os resultados obtidos foram “muito positivos”. A equipa está agora a finalizar um protótipo para poder testar em pacientes. “Apenas nessa fase é que poderemos efetivamente tirar conclusões quanto à viabilidade desta tecnologia para o rastreio de cancro da mama”, sublinha o investigador do IT. “Numa opinião meramente baseada nos resultados que temos obtido, acredito que as micro-ondas poderão ser utilizadas como modalidade de imagem médica complementar às atualmente existentes para deteção de cancro da mama”, vinca ainda.

Esta não foi a primeira vez que o investigador do IT se candidatou ao prémio Fraunhofer Portugal Challenge, sendo que em  2015  se candidatou a este galardão com a sua tese de Mestrado. Por isso mesmo, e tendo em conta o conhecimento prévio que já tinha do concurso, não hesitou em candidatar-se. “Na submissão e durante as várias fases de avaliação das candidaturas, nunca tive qualquer expectativa sobre a eventual classificação que poderia obter, uma vez que o âmbito do prémio incide mais em tecnologias de comunicação e informação e na sua implementação prática e viabilidade industrial”, veicula.  Assim, foi com grande satisfação que recebeu a notícia sobre a sua seleção para apresentar o trabalho ao painel da Fraunhofer, a 30 de outubro. O potencial deste sistema conquistou o júri do concurso, alcançando João Felício o 3.º lugar na categoria de teses de doutoramento.

Todas as ideias a concurso na 10.ª edição do Fraunhofer Portugal Challenge foram avaliadas por um júri composto por membros do Fraunhofer AICOS e por um painel de peritos convidados. Na avaliação dos trabalhos são considerados como critérios principais: o grau de inovação, a exequibilidade técnica e o potencial de mercado dos projetos candidatos.

Os vencedores – nas categorias de Mestrado e Doutoramento – levaram para casa um prémio monetário de 2000 euros.