Ciência e Tecnologia

Espaço – um dos ramos da Engenharia Aeroespacial

Espaço, Aviónica e Aeronaves são os três ramos do curso que, neste momento, tem a mais alta média de entrada no Técnico

“Não há uma maneira única de escrever o percurso de um engenheiro que trabalhe em Espaço.” As palavras do professor Fernando Lau, um dos coordenadores do Mestrado em Engenharia Aeroespacial (MEAer), dão uma ideia do que implica trabalhar nesta área. “Alguém que trabalhe em Espaço pode construir satélites, tratar da parte mais eletrónica, da propulsão, da estrutura… Pode ser imensa coisa.”

É isso que torna, por um lado, apetecível este ramo da Engenharia Aeroespacial, que o professor Paulo Gil, responsável pelas cadeiras de Dinâmica Espacial, Planeamento de Missões Espaciais e Satélites, considera uma “verdadeira disciplina de síntese”. “Esta é uma área mais recente que as outras, e foi beber junto delas [Aviónica e Aeronaves]. O que se pretendeu fazer foi introduzir algumas cadeiras específicas, mas ao mesmo tempo ir buscar um pouco à parte de estruturas e eletrónica.” Dessa forma, um engenheiro “de Espaço” consegue mexer-se em vários meios. “Um engenheiro acaba por ter sucesso se sabe falar várias linguagens e se consegue servir de ponte entre elas. Isso é ainda mais verdade em Espaço”, garante Fernando Lau.

Nos últimos anos, o interesse pela Engenharia Aeroespacial – que em setembro foi o terceiro curso com a média de entrada mais alta (18.5 valores) – tem crescido bastante. Para isso também contribuiu, afirma o professor Luís Braga Campos, igualmente coordenador de MEAer, a crescente participação de Portugal na Agência Espacial Europeia (ESA). “Há bastante progresso no setor espacial em Portugal. Há alguns anos a atividade era muito diminuta, mas isso mudou. Têm sido criadas algumas pequenas empresas, que têm tecnologia própria, exportam quase 100% do que produzem e têm feito desenvolvimentos muito interessantes”, explica.
Apesar disso, a maioria dos alunos desta área acaba a trabalhar lá fora. “Muitos alunos de Espaço acabam por ir trabalhar lá para fora, mas é porque querem e têm ambição de ir trabalhar nos grandes centros de produção, desenvolvimento e design”, diz Fernando Lau, acrescentado que essa vontade “é estimulada pela coordenação do curso e pelo próprio Técnico”. A mesma opinião tem Paulo Gil, que garante que “o alvo principal” para a maioria dos alunos é a ESA. “Infelizmente, à NASA [Agência Espacial Norte-Americana] é mais difícil de chegar.”

E mesmo que os engenheiros aeroespaciais – incluindo os de Espaço – sejam procurados em muitas indústrias, como a automóvel, “há vários antigos alunos a trabalhar no setor espacial por essa Europa fora”, diz o docente. “Acho que o facto de irem lá para fora é um problema para o país e uma vantagem para os alunos. Mas claro que há muito mais oportunidades lá fora – os países, nesta área, não funcionam sozinhos e as pessoas têm tendência a aproximar-se do centro.” E o centro, neste caso, passa pela Alemanha, Holanda, França e Suíça.

Apesar das boas perspetivas que aguardam os engenheiros desta área – que tem empregabilidade total –, o caminho não é necessariamente fácil. “Este é um curso que tem muito bons alunos, e essas pessoas têm procura quase independentemente do curso que tirarem. Mas este é um curso a sério – não é preciso ser um génio, mas não é a brincar que se faz”, avisa Luís Braga Campos. Ainda assim, para muitos, é precisamente o “desafio” que o curso representa que o torna tão atrativo.

O Mestrado em Engenharia Aeroespacial é um curso interdepartamental de Engenharia Mecânica e Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, o que o torna um dos mais interdisciplinares do Técnico. “A maneira como estamos organizados aproveita muito bem os recursos docentes do Técnico. Os alunos estão expostos a todos os ramos da Engenharia Mecânica e a todos os da Eletrotecnia, e isso também contribui para a sua formação.”

Atualmente, segundo a coordenação, existem formados em Engenharia Aeroespacial no Técnico a trabalhar nas maiores empresas e instituições aeronáuticas nacionais (OGMA, TAP, Força Aérea Portuguesa, NAV – Navegação Aérea de Portugal, INAC – Instituto Nacional de Avião Civil) e europeias (Airbus, Aerospatiale, British Aerospace, DaimlerChrysler, Rolls-Royce, Snecma, Astrium, CERN, ESA, Eurocontrol). E apesar de “haver essa ideia em Portual”, lembra Luís Braga Campos, “o setor Espaço não é separado da Aeronáutica – a maior parte das empresas que trabalham Espaço trabalham em Aeronáutica”.

Nestas empresas, muitos trabalham como engenheiros de conceção. “Os engenheiros que saem do Técnico estão preparados para conceber novos equipamentos, novos produtos e novos conceitos. Muitos dos nossos alunos vão para gabinetes de projeto, e aí faz-se alguma investigação aplicada. O que um engenheiro aeroespacial quer realmente é ver as coisas a serem feitas”, resume Fernando Lau.