Portugal e Noruega partilharam, através do projeto SHAREe (Sustainable hydropower to alleviate and reduce environmental externalities), boas práticas e conhecimentos científicos na área da energia hidroelétrica sustentável. O projeto, liderado por Isabel Boavida (Instituto Superior Técnico / Instituto de Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade – CERIS) e financiado pelo Espaço Económico Europeu (EEE), colocou durante um ano e meio investigadores em colaboração para aprofundar e compreender as medidas ambientais que possam atenuar os impactos ambientais do desenvolvimento da energia hidroelétrica, particularmente nos dois países, que “com investimentos significativos em energia hidroelétrica e regimes hidrológicos opostos, exploram diferentes formas de equilibrar as necessidades energéticas com a preservação ecológica”, como explica Isabel Boavida.
A iniciativa é uma colaboração entre o Técnico e a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU). Do projeto – que, na descrição de Isabel Boavida, “reuniu profissionais do meio académico, das áreas da energia hidroelétrica e do ambiente para explorar as melhores práticas e técnicas inovadoras para a conservação do ambiente” – ficam algumas sementes para o futuro. Um dos principais passa pelo desenvolvimento de um Horizon Scan – que visava identificar desafios e oportunidades globais susceptíveis de ter um impacto significativo na sustentabilidade ambiental e social da energia hidroelétrica nos próximos 5/10 anos. “O Horizon Scan enfatizou a sustentabilidade nas dimensões ambiental e social, sublinhando a necessidade de alinhar as operações da energia hidroelétrica com a saúde do ecossistema e o envolvimento da comunidade”, explica. Os resultados preliminares indicam cinco áreas em que os operadores de centrais hidroeléctricas, os cientistas, os governos e os decisores políticos se devem concentrar: estratégias de adaptação da energia hidroelétrica às alterações climáticas; implementação de caudais ambientais ; resolução do problema da retenção de sedimentos nas albufeiras; assegurar a participação das comunidades locais e a distribuição equitativa dos benefícios; equilibrar o aumento das energias renováveis intermitentes com a flexibilidade da energia hidroelétrica e as preocupações ambientais associadas.
A parceria envolveu, para além de encontros científicos, a visita de investigadores do Técnico a quatro estudos de caso nos rios noruegueses de Orkla, Surna, Driva, e Gaula, para conhecer aproveitamentos hidroelétricos que beneficiaram de um design ambiental inovador para proteger e gerir populações de salmão do Atlântico e a truta. Investigadores da NTNU deslocaram-se a Portugal para visitar os exemplos portugueses de boas práticas de de manutenção de sistemas aquáticos em aproveitamentos hidráulicos, nomeadamente a passagem para peixes na barragem de Açude-Ponte no rio Mondego, Coimbra, gerida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), de grande importância ecológica para espécies como a lampreia-marinha e a enguia-europeia, assim como o elevador de peixes no aproveitamento hidroelétrico de Belver, no rio Tejo, da EDP e o aproveitamento hidroelétrico de Castelo de Bode.
“A iniciativa SHAREe promoveu a partilha de conhecimentos adaptáveis a diversas realidades ecológicas. O projeto, concluído em junho de 2024, é um exemplo de sucesso da importância desta cooperação bilateral. Ao combinar a experiência da Noruega em energia hidroelétrica com a investigação inovadora de Portugal, a parceria não só gerou resultados científicos, incluindo um Horizon Scan sobre energia hidroelétrica sustentável e um guia de boas práticas para a mitigação do impacto da energia hidroelétrica, como também estabeleceu um modelo para futuras iniciativas centradas na sustentabilidade”, resume Isabel Boavida.