Ciência e Tecnologia

World Pendulum Aliance: uma constelação de pêndulos ao redor do mundo

O projeto pretende ajudar a mostrar os princípios geofísicos que estão por detrás da variação da gravidade que sentimos ao longo da latitude, fomentando o interesse pela física experimental.

O objetivo principal do World Pendulum Alliance (WP@ELAB), um projeto Erasmus + que o Técnico coordena, é mostrar e ajudar a disseminar os princípios geofísicos que estão por detrás da variação da gravidade sentida ao longo da latitude. “Este projeto consiste numa constelação de pêndulos que vão ficar distribuídos em várias latitudes, em vários países, e que permitem compreender como é que a gravidade varia ao longo da latitude”, salienta o professor Horácio Fernandes, docente do Departamento de Física (DF) do Técnico e coordenador do projeto.

O projeto conta com a participação de um total de nove universidades latino-americanas, do Brasil (Universidade de Brasília, Universidade Estadual de Santa Cruz, Pontifícia Universidade Católica do Rio De Janeiro),  Colômbia (Universidad de Los Andes, Universidad Nacional Abierta y a Distancia), Chile( Universidad de Chile, Universidad Técnica Federico Santa María)  e Panamá( Universidad Tecnológica de Panamá, Universidad Catolica Santa Maria La Antigua). Na Europa são parceiras do projeto universidades de Espanha ( Universitat Politecnica De Catalunya), França (École Centrale De Marseille) e República Checa (Czech Technical University).

Usado há centenas de anos para medir o tempo, os pêndulos ajudam-nos igualmente a medir com grande precisão a gravidade, permitindo detetar variações na gravidade local, o que, por sua vez, se revela essencial para, por exemplo, prospetar petróleo ou outro género de minerais no subsolo.  A ideia por detrás do projeto WP@ELAB não é nova, mas com este projeto chegará a muito mais instituições. Tudo começou ainda no século passado com a criação do ELAB, um laboratório remoto que foi crescendo ao longo dos anos. “Uma das experiências que acabou por surgir na sequência deste laboratório remoto passava por permutarmos pêndulos entre a Alemanha e Portugal. A ideia foi crescendo, e começamos a colocar pêndulos em vários sítios”, recorda o professor Horácio Fernandes, coordenador do projeto. “Depois dessas experiências, tentei arranjar mais “latitude”, e fiz uma descoberta muito interessante: as escolas portuguesas no mundo têm uma dinâmica superior a qualquer colégio”, acrescenta o docente. O primeiro pêndulo fora de Portugal foi assim instalado em Maputo e o segundo em São Tomé, “com uma latitude 0º que é fabuloso. Mais ninguém tem um pêndulo acessível por todos na latitude 0º”, vinca o professor Horácio Fernandes.

A ideia foi ganhando relevo e latitude dando corpo ao WP@ELAB que pretende estender a rede de pêndulos e através da mesma ajudar a melhorar a qualidade do ensino médio e superior, nos campos da matemática e das ciências, através da implementação de uma rede global de experiências remotas. Cada universidade parceira será munida do seu próprio pêndulo e deverá gerar uma série de experiências que serão disponibilizadas online para a comunidade estudantil nos níveis secundário e universitário. “Nós semeamos novos pêndulos, capacitamos os professores localmente sobre como se usam os laboratórios remotos, ajudamos a criar experiências, etc. Treinamos os formadores para que depois estes, no âmbito do seu centro de disseminação de ciência tenham os seus próprios parceiros, criem a sua rede de pêndulos secundários, e tenham a capacidade de estender o projeto a nível regional”, explica o docente do Técnico.

“Um aspeto muito importante no futuro é que estes pêndulos na América Latina servirão como incubadores dos centros de disseminação da Ciência, os pêndulos são a primeira semente”, destaca o professor Horácio Fernandes. A realização de atividades de formação para a capacitação dos docentes na utilização de novos recursos de aprendizagem é, portanto, outra das mais fortes dimensões deste projeto. “Para conseguir concretizar o projeto, as escolas parceiras têm que ter competências ou encontrá-las de forma a conseguirem prosseguir os objetivos do mesmo. Portanto, esta dinâmica de aprendizagem de ferramentas digitais de ensino que queremos incutir acaba por ser um ‘dano colateral’ muito positivo do projeto”, sublinha ainda o docente do DF.

O projeto faz também o cruzamento com os MOOC@Técnico, sendo que uma das missões do Técnico enquanto coordenador do projeto era precisamente a produção de um curso online que ajudasse a dar algumas noções essenciais e espicaçando o interesse pela física experimental. “Este MOOC já foi executado e estamos a adaptá-lo aos conteúdos dos países latino-americanos”, refere o professor Horácio Fernandes.

Tirar partido destas redes e do ensino digital torna-se cada vez mais premente para o ensino, como destaca o professor Horácio Fernandes: “as pessoas têm que se adaptar a estes novos modelos de ensino, criar conteúdos que favoreçam a aprendizagem mais rápida, porque hoje em dia os alunos têm a noção de que conseguem saber tudo através do Google, e nós docentes e instituições temos que saber dar resposta a estes novos desafios”.

O projeto coordenado pelo Técnico estender-se-á até ao final de 2021, e pelo caminho espera-se que ajude a disseminar o interesse pela física experimental pelo mundo. O professor Horácio Fernandes espera que até lá “consigamos ter pelo menos 100 pêndulos”, e a juntar a isso muitos mais entusiastas pela física experimental.

Pode acompanhar o desenvolvimento do projeto no Facebook e Instagram do  WP@ELAB.