Ciência e Tecnologia

50 anos depois, a história fez-se no Campus Tecnológico e Nuclear

O Tubo de Choque Europeu para Investigação de Escoamentos de Altas Entalpias foi simbolicamente inaugurado no dia em que a Missão Apollo regressou à Terra em 1969.

A 24 de julho de 1969, os heróis da Missão Apollo 11 voltavam da Lua com história feita, esta quarta-feira, 50 anos depois, voltou a escrever-se mais um capítulo importantíssimo na aventura da exploração espacial com a inauguração do Tubo de Choque Europeu para Investigação de Escoamentos de Altas Entalpias (ESTHER, na sigla em inglês), no Campus Tecnológico e Nuclear (CTN).  Para assistir ao descerramento da placa e à celebração do histórico momento estiveram presentes várias individualidades como:  o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, o responsável pelos veículos espaciais e engenharia aero-termodinâmica da Agência Espacial Europeia (ESA na sigla em inglês),  Guillermo Ortega, a presidente da Agência Espacial Portuguesa (Portugal Space), Chiara Manfletti, o presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, o vice-reitor da Universidade de Lisboa, professor José Manuel Pinto Paixão, e o presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira.

Nas várias intervenções, que se sucederam ao longo da cerimónia, foi sendo exaltado o valor da infraestrutura, ressaltadas as caraterísticas únicas da mesma, assim como as portas que as experiências feitas no ESTHER permitirão abrir. Esta é uma infraestrutura “única na Europa”, salientava o professor Arlindo Oliveira ao abrir a sessão, agradecendo ao Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) por projetar internacionalmente o nome do Técnico e, em geral, da Engenharia portuguesa.

“Hoje é um grande dia para Portugal e para o programa espacial europeu”, vincava Guillermo Ortega na sua intervenção.  Depois de elencar algumas particularidades mais técnicas do tubo de choque, o cientista da ESA enfatizava o facto de o Laboratório de Plasmas Hipersónico- onde está instalado o ESTHER-  ser crucial nos projetos futuros da ESA, nomeadamente na exploração de Neptuno e Úrano.

Despoletada a curiosidade, era depois altura de os olhos contemplarem a estrutura, descerrando-se a placa e inaugurando-se oficialmente aquele que muitos iam classificando como “um dos grandes projetos da década na área espacial”.  Com 20 metros, feitos de muita matemática, muita física e uma inequívoca persistência, e com múltiplos testes experimentais pelo meio, ali estava o tubo que permitirá atingir velocidades acima dos 10 quilómetros (km) por segundo e muito provavelmente ultrapassar 600 vezes a pressão atmosférica da Terra. A simulação do topo de atmosfera é feita através de uma câmara de gás a altas pressões e outra câmara de gás a baixas pressões. Entre essas duas câmaras, existe um diafragma que se rompe e deixa passar o gás da zona da alta pressão para a de baixa pressão. Cria-se assim uma onda de choque que atravessa o tubo a velocidades de vários quilómetros por segundo.

Ainda que as atenções tenham ficado retidas no ESTHER, foi necessário interromper a contemplação para centrar as atenções nos desafios apontados pela presidente da Agência Espacial Portuguesa. No seu discurso, Chiara Manfletti destacou e enalteceu o papel das universidades na criação de novas oportunidades e muita inovação, como bem o demonstra este projeto. A presidente da Portugal Space partilhou a sua felicidade por constatar que Portugal “está muito envolvido em colaborar com este e outros projetos com grande significado da ESA”. “Portugal tem vindo a reconhecer o Espaço como uma coisa maravilhosa, e isso que é extremamente importante para o futuro”, expunha, partilhando, por fim, a sua ansiedade para ver “esta estrutura impressionante a funcionar”.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior encerraria a sessão frisando o investimento que o governo português tem feito na área espacial, e a ambição que têm “em multiplicar por dez a atividade portuguesa em tecnologias do Espaço, permitindo uma significativa multiplicação do número de empregos qualificados na área”.  Assinalando a importância de “mostrar à sociedade aquilo que a Ciência é capaz de criar e os empregos que gera”, Manuel Heitor concluía a sua intervenção, elogiando o projeto e a inovação por detrás do ESTHER, e partilhando o seu desejo de que em breve esteja também a funcionar a unidade para o tratamento do cancro com base em tecnologias de protónica. “A Ciência cria empregos, cria valor, mas também cria vida e temos que mostrar isso à sociedade”, acentuava.

Depois dos aplausos que rubricaram de forma adequada aquilo a que se assistia, voltou-se à exploração daquele que aos olhos dos mais leigos parecia um tubo comum, mas que se revela um túnel de acesso mais seguro ao que todos queremos descobrir e explorar: o Espaço. Pela voz e pelas recordações do investigador Mário Lino da Silva, foi possível conhecer alguns detalhes sobre o mesmo. “Este tubo tem várias inovações, a primeira delas é que ele tem alta performance que era algo que não existia na Europa”, declarava. Mas o que quer isto afinal dizer? O investigador prosseguia na explicação: “Um grupo de países para ter a independência de acesso ao espaço precisa de controlar as condições de subida, mas também ser capaz de trazer cápsulas cá para baixo. Esta instalação como consegue atingir velocidades ditas orbitais, mais de 10km por segundo, consegue reproduzir qualquer missão interplanetária”. “A Agência Espacial Europeia com esta instalação pode projetar de forma independente missões interplanetárias”, afirmava, ainda, Mário Lino da Silva.

Uma das inovações mais importantes do ESTHER é o seu sistema de ignição. “Substituímos todo o sistema de ignição da máquina por uma simples janela de vidro reforçado e muito espesso, e o sistema de ignição que é a laser agora está cá fora. Isto permite que esta instalação seja extremamente limpa porque já não tem nenhuma fonte de poluição”, apontava ainda o investigador. A somar a esta caraterística inovadora estão outras marcas distintivas: “a alta performance, a repetibilidade dos resultados porque conseguimos dominar muito bem as condições da experiência, a fiabilidade e limpeza dos dados”,  enumerava o investigador.

Depois desta inauguração, seguem-se os ensaios de validação, e a equipa espera em outubro começar a poder fazer os verdadeiros ensaios. “Já temos uma série de experiência em articulação com a ESA em fila de espera, e temos que começar a dar resposta a todas as solicitações”, refere Mário Lino da Silva. Entre os testes já agendados estão trabalhos para completar bases de dados aero-termodinâmicas, a simulação de reentradas na Terra e a entrada em Vénus. Também se efetuarão testes para a futura Mars Sample Return, uma missão da ESA e da NASA para recolher amostras de Marte, e uma possível missão da NASA e da ESA que explorará Úrano e Neptuno.

“Este é, sem dúvida, um marco para o Técnico. É uma das maiores instalações feitas nesta década”, vinca o investigador responsável do ESTHER. Será este um dos acessos “que permitirá dar novos mundos ao mundo como no tempo das descobertas”, salienta Mário Nuno da Silva, um exploradores do século XXI e claro do Técnico.

Galeria de fotos da cerimónia