Ciência e Tecnologia

A Inteligência Artificial em foco na conferência Democracia 4.0

O presidente do Técnico foi um dos oradores convidados, e também o mais interventivo, para um debate estimulante sobre Inteligência Artificial onde foram abordadas algumas questões que pairam sobre área.

Porque a engenharia e sobretudo a inteligência artificial(IA) têm e terão cada vez mais influência na era digital, o presidente do Técnico, o professor Arlindo Oliveira, foi um dos convidados da conferência “Democracia 4.0”, um evento organizado pela Representação da Comissão Europeia em Portugal e pelo comissário Europeu, Carlos Moedas, e que teve lugar esta terça-feira, 8 de maio, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa.

O estado de direito e os direitos fundamentais, o impacto da tecnologia na nossa vida, o afastamento dos jovens da política, a democracia participativa, os perigos e as oportunidades do digital, a liberdade de expressão e a desinformação e  ainda para finalizar a inteligência artificial foram sendo trazidos a palco ao longo do dia pela voz de vários especialistas nacionais e internacionais da área, em debates nem sempre consonantes mas verdadeiramente cativantes que agarraram os participantes às cadeiras do auditório.

Tendo a conferência como intuito central despertar os jovens para a utilização da tecnologia no seu dia-a-dia e para a forma como esta poderá contribuir para o futuro e melhoria da democracia, era incontornável não envolver no debate aquela que é considerada a protagonista do novo ciclo da revolução digital. Assim, na quinta sessão da conferência,  o debate moderado pelo jornalista do PÚBLICO, João Pedro Pereira, partiu do mote “Inteligência Artificial para Decidir Humanamente” e envolveu além do presidente do Técnico, também o correspondente para a Inteligência Artificial do POLITICO, Janosch Delcker, e a representante do Comité Económico e Social Europeu, Catelijne Muller.

Salientando que “o termo Inteligência Artificial é aplicado a muita coisa hoje em dia o que faz com que se perca o foco”, o presidente do Técnico começou por explicar as três categorias a que a mesma se estende: “A primeira é a análise de dados, que já existe há dezenas de anos; a segunda é a aprendizagem automática, e a condução autónoma é um exemplo; e depois o nível de Inteligência Artificial mais complexo que consiste em duplicar a flexibilidade da inteligência humana em diversas das suas vertentes”. Prosseguiu-se então para uma conversa onde as muitas inquietações, mas também as várias oportunidades que a IA oferece, nas várias dimensões, nunca se ausentaram da conversa.  “Claro que o facto de determinados postos de trabalho serem cada vez mais rotineiros, irá facilitar a sua automação”, alertava Catelijne Muller. Uma afirmação com que o presidente do Técnico não pôde deixar de concordar, assegurando, porém, que “quanto mais difícil for fazer a especificação de uma profissão mais segura ela estará”.  “As profissões mais criativas serão claramente as mais difíceis  de automatizar”, frisou o professor Arlindo Oliveira.

A influência que esta área pode ter no processo de decisão, a forma como as tecnologias de informação são tratadas no ensino português ou a personalidade legal das máquinas iam sendo questionadas e fundamentadas de forma diversa pelos três oradores. Janosch Delcker declarava que “não cabe às máquinas tomar as decisões”, por sua vez a representante do Comité Económico e Social Europeu reiterava que com a Inteligência Artificial “ os políticos podem tomar decisões mais bem informadas”, garante Catelijne Muller, uma opinião partilhada pelo professor Arlindo Oliveira. “Além de manter os políticos mais informados, a IA pode ajudar as empresas a tornarem-se mais competitivas, a formarem melhores recursos humanos, e por sua vez uma sociedade mais eficiente”, frisou o presidente do Técnico. E quando questionados sobre qual a fórmula do sucesso para vingar na sociedade digital, os três oradores são perentórios a afirmar que para vingar na mesma os jovens devem investir em muita interdisplinariedade “e sobretudo manterem-se a aprender ao longo da vida”, concluía o docente do Técnico.

A sessão de encerramento da cerimónia ficou a cargo do comissário Europeu e alumnus do Técnico, Carlos Moedas, que expressou a sua felicidade com o sucesso da conferência, declarando que “é importante que a nova geração se interesse pela política, porque é ela que vai decidir o futuro”. “Hoje vivemos com um pouco de medo da tecnologia”, disse ainda o comissário Europeu, defendendo que devemos  sim enfrentar o futuro e ver como a tecnologia nos pode ajudar. É com esta intenção e tendo bem presente esta necessidade “que a União Europeia aprovou, na semana passada, um orçamento de 100 mil milhões de euros para a Ciência e Inovação para o período 2021-2027”, relembrava Carlos Moedas. “As máquinas vão ser sempre melhores do que nós, exceto naquilo que não conseguem fazer”, reiterava o alumnus do Técnico. “O ser humano é bom na emoção, na criatividade e na intercepção de disciplinas, e isso vai ser cada vez mais valorizado e é sobre isso que temos que nos debruçar”, rematou o comissário Europeu.

De improviso e perante uma plateia cheia de jovens, sedentos de o ouvir, o Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, acautelou que a revolução digital “tem riscos”, nomeadamente os “populismos”, mas também as próprias “infoexclusões”. O PR fez ainda questão de elogiar o comissário Europeu que “é quase como Deus, está em toda a parte”, mas também o formato e modelo deste projeto que “permitiu que muitos mais para além desta sala pudessem acompanhá-lo interactivamente e isto é resultado desta era 4.0”, colmatou Marcelo Rebelo de Sousa.