Ciência e Tecnologia

A Lua como parte da aprendizagem e Marte como destino

James Garvin conduziu uma palestra entusiástica, onde se denotou a paixão pelo que faz, e onde lançou o repto das descobertas que ainda estão por fazer.

A gravata – com uma imagem de 3 astronautas de mãos dadas em Marte – que James  Garvin, NASA’s Goddard Space Flight Center Chief Scientist, escolheu para a sua palestra no Técnico, esta terça-feira, 2 de julho,  era a primeira pista para aquilo que a plateia teria oportunidade de ver e ouvir: a paixão traduzida em palavras e a ânsia de descobrir mais e mais, contada por quem tem feito disso uma missão. A lotação do Salão Nobre denunciava bem a importância do orador e curiosidade de saber mais sobre os planos futuros de exploração traçados pela NASA.

Deveriam ser poucos – pelos olhares arregalados e de admiração com que James Garvin era bombardeado nos momentos iniciais – os que desconheciam a carreira do orador convidado de mais uma palestra programa American Corner Portugal, mas ainda assim a apresentação de Herro Mustafa, Deputy Chief of Mission da Embaixada dos Estados Unidos em Portugal, dissiparia qualquer dúvida. “Tenho o prazer de anunciar um dos homens mais inteligentes do planeta”, declarava a determinada altura, obtendo como resposta um apoteótico aplauso.

A palestra começou com a revelação de um pequeno segredo: “todos nós vivemos no espaço. Isto tudo é apenas uma aeronave gigante”. Dirigindo-se àquela que denominou como “a geração web”, o orador assinalava que “esta será a primeira geração a ter o privilégio de usar o Telescópio Espacial James Webb” e a primeira que pode ir a Marte. E, sem dúvida, que esta foi a maneira ideal de prender de imediato as atenções da audiência para tudo o que disse de seguida.

Mas antes da conversa levar a plateia até Marte, James Garvin “auscultou” a Lua e as suas potencialidades. Depois de lembrar a coragem das gerações e o arrojo da engenharia que permitiram visitar a lua há 50 anos, o cientista da NASA explicava que o futuro passa por aí: retornar. “Uma nova viagem vai permitir ultrapassar novas fronteiras tecnológicas e financeiras”, assinalava. “A Lua não tem oceanos, não tem água, mas ainda podemos usá-la para extrair recursos, se formos criativos”, acentuava ainda. Para o cientista, o conhecimento que podemos retirar da exploração da lua será essencial para podermos depois explorar Marte.

E se o tom de entusiasmo do orador tinha sido constante enquanto falava do satélite natural, conhecia-se um novo nível do mesmo assim que conversa saltou para a exploração espacial de Marte. Atestando que “é muito improvável que a magia que criou vida neste planeta não tenha acontecido também noutro lado”, o orador fazia alusão a algumas missões passadas e atuais que têm permitido descobrir mais sobre o planeta vermelho. De seguida, o orador partilharia alguns detalhes sobre a missão Mars2020 que enviará até Marte um rover equipado com inteligência artificial cujo principal objetivo passará exatamente por procurar rastros de vida em terreno marciano. Sobre este desafio de levar pessoas a Marte, o cientista explicava que apesar de ser um desafio de alto nível, é algo que “a engenharia consegue resolver”.

James Garvin voltava depois a fazer referência ao telescópio espacial James Webb que ficará pronto em 2021, e que segundo o orador será “25 vezes melhor” que o seu antecessor, o Hubble. “Veremos novos aspetos da Física do Universo sobre os quais hoje apenas podemos fazer conjeturas, mediremos as atmosferas de outros planetas que orbitam estrelas próximas”, adiantava.

Frisando que “neste momento estamos numa espécie de jardim de infância do espaço”, uma vez que ainda nos falta descobrir imensa coisa, o orador assumia como natural que nem sempre as coisas saem como planeadas na exploração espacial, porém “são esses tropeções que nos levam às descobertas, é para isso que cá estamos”. E se ao longo da palestra, James Garvin fez sempre questão de incitar a jovem audiência, mostrando-lhes o seu papel na descoberta deste adorável mundo novo, a terminar foi ainda mais direto à questão: “o nosso trabalho não é prever como vai ser para vocês, o nosso trabalho é dar o primeiro empurrão”. “Nós estamos a enviar-vos para o Espaço, para que depois o usem da maneira que vocês conseguirem imaginar”.

No final, e dentro do tempo que foi permitido, foram muitas as questões e os agradecimentos “pela fantástica palestra” que mostrou a todos que de facto o espaço é o destino da próxima geração.