Ciência e Tecnologia

Alumni de Engenharia Física Tecnológica distinguidos pelo Imperial College London

João Barata e Tiago França foram galardoados com o Abdus Salam Postgraduate Prize pelo desempenho de excelência que tiveram no mestrado Quantum Fields and Fundamental Forces da instituição britânica.

João Barata e Tiago França, dois antigos alunos do Técnico, foram distinguidos pelo Imperial College London com o Abdus Salam Postgraduate Prize, um prémio que distingue o aluno com o melhor desempenho durante o ano letivo no mestrado Quantum Fields and Fundamental Forces, tendo em conta as notas dos exames e da tese. Se por esta altura algo na frase anterior lhe está a fazer confusão, nós explicamos: de facto o galardão honra normalmente apenas um aluno, mas devido ao empate técnico gerado por ambos, na última edição e excecionalmente, foram dois os mestres galardoados.

“É uma grande honra para mim. Principalmente ver que eu e o João (e de certo modo por consequência, o ensino português) estamos ao nível dos melhores estudantes internacionais. Para além disso, também grande satisfação pela recompensa pelo trabalho feito”, declara Tiago França. Igualmente contente está o outro galardoado não só pelo reconhecimento do desempenho que carateriza este prémio, mas acima de tudo por considerar que o mesmo será importante para a sua carreira. “Em particular, por se tratar de uma faculdade com grande reconhecimento a nível mundial, julgo que poderá ter um peso determinante numa eventual candidatura a bolsas de pós-doutoramento, para trabalhos de investigação ou mesmo para obter financiamento para programas de curta duração na minha área”, explica o João Barata.

Ao longos dos 3 primeiros anos em que frequentaram o Mestrado em Engenharia Física Tecnológica (MEFT), João Barata e Tiago França tentaram absorver tudo o que o Técnico tinha para lhes ensinar, percebendo ao longo dessa aprendizagem, “a queda” que tinham para a Física Teórica e a vontade de a aprofundar no percurso académico. Ambos sabiam “que seria bom fazer mestrado no estrangeiro”, e foi com essa convicção em mente que partem para a procura do destino ideal para este novo desafio. “Em termos de escolha, queria uma universidade que fosse num país de língua inglesa. Daí ter descoberto o curso no Imperial College, que foi o que escolhi depois de um longo processo de decisão”, recorda Tiago França. A mesma escolha e o difícil processo de seleção foram seguidos por João Barata, que rapidamente percebeu que tinha tomado a decisão certa: “O ano que passei no Imperial College foi muito interessante. Em termos académicos, penso que o mestrado se foca muito em áreas que na altura me interessavam diretamente e que me deram, num curto espaço de tempo, ferramentas muito úteis para o trabalho que desenvolvo agora”.  “Além disso, o Imperial College atrai professores e investigadores com trabalho na minha área de interesse. Sinto que foi um privilégio poder ter contacto direto com os projetos que desenvolvem”, revela ainda.

Não resistimos a questionar as diferenças que a experiência lhes permitiu auscultar face à realidade do ensino em Portugal e no Técnico: “O modelo de ensino do Técnico e do Imperial College diferem em muitos aspetos, assim como o perfil dos alunos em cada uma das universidades”, relata João Barata. Tiago França vai mais longe no registo das diferenças, destacando vantagens do Técnico como, por exemplo: “a avaliação mais contínua”, “o ambiente menos competitivo”, a “exigência e intensidade constantes” e a “comida que em comparação com as do Imperial são 5 estrelas”.” Sobre a qualidade do ensino, não sinto que o Técnico esteja atrás. Em termos da qualidade das aulas e do material de estudo, foi equivalente”, acrescenta ainda o alumnus.

E se a Física Teórica os juntou em Londres, o futuro já tratou de separar os dois galardoados. João Barata rumou a Espanha onde está a começar um doutoramento financiado pela Fundação La Caixa e pela Comissão Europeia através da ação Marie Sklodowska-Curie, no Instituto Galego de Física de Altas Energias sob a orientação do professor Carlos Salgado. “O tipo de investigação que agora faço relaciona-se com Física de Altas Energias, em particular com aspetos teóricos e femenológicos relacionados com colisões de Iões Pesados a altas energias. Este tipo de colisões é estudado experimentalmente nos grandes aceleradores mundiais, como é o caso do LHC no CERN”, explica o alumnus. “O objetivo final deste tipo de investigação é compreender um estado da matéria existente nos primeiros microssegundos do universo conhecido como Plasma de Quarks e Gluões. Curiosamente ou não a investigação que conduz hoje está diretamente relacionada com trabalhos que iniciou ainda quando era aluno do Técnico no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), no grupo de Femenologia de Iões Pesados.

Tiago França, por sua vez, ficou por terras de Sua Majestade onde iniciou o doutoramento em Queen Mary University of London, financiado pela Royal Society e sob a supervisão do professor Pau Figueras. “A minha investigação é em relatividade numérica. A Teoria de Relatividade (Geral) é o principal e grande contributo que nos trouxe Einstein, que nos descreve como matéria e gravidade interagem no universo a partir da ideia de que gravidade é curvatura do espaço e do tempo”, refere o alumnus. “Ao estudar esta teoria, alguns casos simples permitem resolver matematicamente fenómenos fantásticos como o que sucedeu imediatamente após o Big Bang. Porém, para muitos outros casos relevantes para a ciência onde aproximações/simplificações não podem ser feitas, como a colisão de buracos negros isto não é possível”, explica ainda. É para ajudar a resolver isso que Tiago França se propõe a trabalhar: “o meu trabalho prende-se com estudar a única solução para estes casos: efetuar simulações computacionais destes eventos em grandes clusters de computadores”.

Apesar do prémio de honra que acabam de receber – e que sabem que lhe poderá abrir portas no futuro-, nenhum dos galardoados alinha no caminho das certezas absolutas. Para já sabem o valor que têm no seu currículo, quer por esta passagem pelo Imperial College quer pela formação inicial no Técnico. “Digo muito honestamente que o muito bom ensino que tive em MEFT me colocou sem grandes dificuldades ao nível dos restantes alunos de um curso tão altamente estimado a nível internacional”, assinala Tiago França. “Nomeadamente, é relevante referir que a multidisciplinaridade que me foi instruída me deu vantagem relevante em várias ocasiões do mestrado, nomeadamente na tese. Capacidades de programação são o melhor exemplo disso”, conclui com o orgulho caraterístico dos antigos alunos do Técnico.