Ciência e Tecnologia

Alumnus do Técnico conquista segunda edição do prémio ‘Vencer o Adamastor’

Manuel Goulão foi galardoado pelo seu trabalho em criptografia pós-quântica, procurando combater violações de privacidade feitas por computadores quânticos.

As grandes dimensões do cheque-prémio dificultaram a sua passagem para as mãos do premiado. De qualquer forma, com ou sem os gestos simbólicos da cerimónia, o vencedor já estava escolhido – Manuel Goulão, antigo aluno do Instituto Superior Técnico, foi o vencedor da segunda edição do prémio ‘Vencer o Adamastor’, galardão criado numa colaboração entre o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC) e o jornal Público com vista a premiar “trabalhos inovadores de jovens cientistas, desenvolvidos em Portugal, nos campos da electrotecnia, computação e afins, que revelem não só excelência científica, mas também potencial para desenvolvimentos que beneficiem a sociedade”, segundo o site afeto à iniciativa.

O alumnus do Técnico na área da Segurança de Informação, agora investigador na Universidade de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Okinawa (Japão),  foi premiado pelo seu trabalho em criptografia pós-quântica. Esta representa um avanço em relação à criptografia atual, procurando antecipar ataques informáticos e violações de privacidade que venham a ser efetuadas por computadores quânticos – dispositivos com uma capacidade de computação significativamente superior à dos computadores atuais e, por isso, potencialmente mais perigosos se utilizados para fins maliciosos.

Segundo Rogério Colaço, presidente do Técnico, este “prémio de reconhecido impacto e relevância no nosso país” foi atribuído a um trabalho sobre “um tema absolutamente extraordinário”. “Vencer o Adamastor é não ter medo de seguir caminhos que ainda ninguém percorreu”, defendeu o docente, parabenizando Miguel Goulão pela conquista.

O presidente do INESC, Arlindo Oliveira, definiu inovação como “o motor das sociedades modernas”. O professor catedrático distinto do Técnico recordou que “a criptografia, a necessidade de esconder informação, é uma área muito antiga que, com o advento da internet, passou a ser usada dezenas de vezes por dia” por todos os utilizadores. Reconhecendo que o advento dos computadores quânticos poderá ser uma ameaça à segurança das comunicações atuais, o docente afirmou que ficou “muito satisfeito com a atribuição do prémio ao Manuel Goulão”.

Na apresentação que fez sobre o trabalho premiado, Goulão explicou que trabalha especificamente na área da computação multi-partidária, onde um conjunto de entidades com informações privadas trabalha inserido em rede, conseguindo efetuar operações com essas informações coletivamente sem haver necessidade de partilhar esses dados com as restantes entidades. Na prática, a técnica tem demonstrado impactos positivos em aplicações como estudos sociais sobre rendimento familiar vs. sucesso escolar, disparidade salarial entre géneros, equilíbrio de mercado, partilha de chaves e inteligência artificial, entre outras áreas. “A criptografia é um alicerce da privacidade; a privacidade é um alicerce de todos os outros direitos”, defendeu no fim da sua apresentação, onde recordou também o Artigo 12.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, referente à proteção de toda a pessoa contra “intromissões arbitrárias da vida privada”.

A cerimónia contou também com a presença do Reitor da Universidade de Lisboa. Na sua intervenção, Luís Ferreira deixou uma mensagem de reconhecimento ao vencedor, ao INESC e ao jornal Público. Ao Técnico, o Reitor fez questão de dirigir “uma palavra de grande carinho, porque tem transformado alunos muito promissores do ensino secundário” em pessoas “com capacidade para mostrar todo o seu potencial”.

“O papel do jornalismo de ciência no Público é um papel já muito consagrado e antigo – temos a secção de Ciência desde que o jornal foi fundado há 34 anos” recordou Marta Moitinho Oliveira, diretora-adjunta do Público. “É por isso que faz sentido estarmos aqui e sermos parceiros neste prémio”, acrescentou a jornalista, deixando ainda agradecimentos ao Técnico e ao INESC.

Após atribuir o volumoso cheque-prémio ao vencedor, José Tribolet, que presidiu o júri do prémio, confessou que ainda não tinha tido oportunidade de conhecer Manuel Goulão. O professor catedrático distinto jubilado do Técnico fez questão de partilhar que, após trocar algumas palavras com o investigador antes do início da cerimónia, concluiu que este é “uma boa pessoa”. Feita a observação, Tribolet desejou mais sucessos à carreira do vencedor e instigou-o a “voltar para casa, que precisamos muito dele”.