Campus e Comunidade

A paixão pela ciência não tem idade e a Academia de Verão ajuda a explorá-la

Durante duas semanas, mais de 120 jovens, dos 10 aos 16 anos de idade, tiveram oportunidade de se colocar no papel de cientistas e de contactar com especialistas de várias áreas.

“Hoje vou falar-vos de uma luz muito especial”, começava por salientar o professor Luís Oliveira e Silva, um dos oradores convidados da 3.ª edição da Academia de Verão de Aprendizagem e Olimpíadas Científicas. Do outro lado o interesse estava imediatamente assegurado como o demonstravam os cadernos em cima da mesa, as esferográficas prontas a tirar notas, mas sobretudo como denunciava a atenção que encandeou os jovens participantes ao longo de toda a palestra. O facto de estarmos a meio da semana, e no início de uma bela tarde de sol,  poderia muito bem ditar um ritmo mais lento ou uma curiosidade menos latente, mas o efeito parecia exatamente o oposto: a liberdade para questionar estava conquistada, a vontade de saber multiplicada, o gosto pela ciência inato e comum a todos.  Este ano, o número de participantes da iniciativa e de oradores duplicou. O entusiasmo, por sua vez,  parece sempre mais intenso de edição para edição.

A vontade de aprender é um ponto de chegada que une os vários participantes convidados a integrar uma das duas semanas em que a iniciativa se divide.  À medida que o professor Luís Oliveira e Silva avança na palestra a vontade de questionar não é travada pela timidez.  São apenas 52 minutos e é preciso aproveitá-los. “Vou mostrar-vos o primeiro laser que existiu em Portugal”, afirmava o docente do Técnico à medida que desembrulhava as várias peças que compunham o histórico dispositivo, fazendo com que as expressões rapidamente saltitassem da atenção extrema para a surpresa absoluta. Frisando as várias aplicações dos lasers – alguma delas sendo capazes de deixar de queixo caído os jovens ouvintes-, e também explicando a importância que os mesmos têm em várias áreas, o docente terminava apontando alguns dos problemas que esta área tem para resolver no futuro. “Não acha que com a fusão nuclear vai haver consequências imprevisíveis”, questionava um dos participantes. Depois de um sorriso, o professor respondia: “sim, haverá, mas essa é a parte mais aliciante da ciência”. Do outro lado, a mensagem foi entendida.

Para além de divulgar as Olimpíadas Científicas, a Academia de Verão de Aprendizagem e Olimpíadas Científicas tem como objetivo promover uma aprendizagem mais ativa e orientada, junto de jovens entusiasmados com a Ciência. A iniciativa começou como uma experiência piloto do grupo TreeTree2, e vai já na sua 3.ª edição. “Duplicámos o número de alunos em comparação com o ano passado, e quadruplicámos se compararmos com 2017. No total temos este ano 120 alunos com idades entre os 10 e os 16 anos, mais um grupo de cerca 80 monitores maioritariamente constituído por alunos do Instituto Superior Técnico”, assinala o engenheiro João Rico, um dos elementos do grupo TreeTree2.  No grupo de participantes não há nenhum repetente, a organização faz questão que assim seja, explica João Rico: “procuramos que a Academia seja uma oportunidade única, na qual são transmitidos princípios de aprendizagem e trabalho que perduram no tempo”. Depois desta experiência e do interesse gerado pela mesma, tipicamente os alunos seguem para um dos projetos de continuidade do grupo.

Como consequência do sucesso da Academia, foi necessário rever processos e limar alguns procedimentos, como assinala o engenheiro João Rico: “obrigou-nos a rever os nossos processos e automatizá-los de forma a conseguirmos lidar com a dimensão da Academia. No que se refere a conteúdos, o modelo está testado e a funcionar, portanto apenas tivemos que fazer alguns ajustes ligeiros”.

Os professores Zita Martins, docente do Departamento de Engenharia Química do Técnico, Ana Mourão, docente do Departamento de Física, José Natário, docente do Departamento de Matemática, Arlindo Oliveira, docente do Departamento de Engenharia Informática, e Miguel Teixeira, docente do Departamento de Bioengenharia, foram alguns dos oradores convidados desta 3.ª edição. “Procuramos sempre incluir um número alargado de áreas de Ciência. Neste momento, temos oradores nas áreas da Biologia, Química, Matemática, Física e Informática”, refere o engenheiro João Rico. “A verdade é que a Academia só dura uma semana e, portanto, há restrições de tempo. Contudo, fazemos um esforço para incluir todas as ciências de base – e a adesão dos alunos, bem como o feedback dos oradores após as suas palestras, mostram-nos que estamos no caminho certo”, acrescenta ainda.

Através destas palestras com cientistas e de muitos módulos práticos, os participantes desta iniciativa têm oportunidade de descobrir e explorar a ciência da Aprendizagem e a aprendizagem da Ciência. Colocando os participantes no papel do cientista, desafiando-os a pensar como os mesmos, a planear estratégias de abordagem às experiências científicas, e levando-os a percorrer todos os passos da publicação de um artigo científico, a organização consegue dar mostras aos jovens participantes dos desafios e da paixão que dominam quem faz ciência. “Do contacto que temos tido com os pais, com os alunos e até com professores das escolas de onde os alunos provêm, a participação na Academia tem tido um impacto muito positivo, não só no desempenho académico, como também a nível social e emocional”, partilha o elemento do grupo TreeTree2.