Há uns meses foi possível ver o entusiasmo com que José Jesus, aluno do mestrado integrado em Engenharia Física Tecnológica e bolseiro do programa Gulbenkian “Novos Talentos em Tecnologias Quânticas”, ultimava alguns pormenores para ajudar a fazer história através daquela que foi a primeira distribuição quântica de chave criptográfica por comunicações quânticas sem-fio em Portugal. Volvidos alguns meses, o regozijo de José Jesus repetiu-se ao ver o artigo que se debruça sobre este mesmo feito, e do qual é autor, ser distinguido no 13.º Congresso do Comité Português da União Radio Científica Internacional (URSI), com o “Best Student Paper Award”.
“A sensação de vencer o prémio foi uma mistura de surpresa e entusiasmo”, revela José Jesus. Embora tivesse uma grande vontade de vencer o galardão, o aluno do Técnico não o esperava “por isso foi uma surpresa bastante agradável quando me chamaram ao palco”.
O artigo premiado, intitulado “Quantum key distribution through free Space”, teletransporta para o papel aquela que foi a experiência do dia 8 de julho e todo o trabalho feito para que a mesma acontecesse e fosse bem-sucedida. “Estudou-se a possibilidade de implementar um link ótico através de espaço livre por forma a distribuir chaves quânticas entre as 2 torres do técnico e assim obter uma fonte de comunicação quanticamente segura, isto é, uma forma de comunicação que estivesse segura face a um possível ataque de um computador quântico”, explica José Jesus. “Assim, foi implementado e demonstrado entre as torres uma prova de conceito para distribuição de chaves quânticas”, acrescenta.
Além da implementação da prova de conceito, é evidenciado neste trabalho o “facto de esta tecnologia ser crucial e estratégica para a soberania de um país, motivo pelo qual a União Europeia, os Estados Unidos da América e a China estão a investir fortemente na área das tecnologias quânticas”, como reitera José Jesus. Para além disso e indo de certa forma ao encontro do tema da conferência – “Espaço: desafios e oportunidades”- o artigo destaca “o facto de que esta tecnologia tem como destino final a implementação de uma rede de satélites global para fazer a distribuição de chaves e assim estabelecer uma rede de comunicações quânticas global”, refere o estudante do Técnico.
Os estudantes que competiam pelo galardão tiveram que apresentar os artigos num “pitch” de 5 minutos, e cujo desempenho tinham um grande peso na atribuição do prémio. “Em primeiro lugar tentei simplificar e transmitir a audiência todos os conceitos quânticos necessários para entender o funcionamento do sistema que implementava o link quântico”, recorda o aluno do Técnico. “Em seguida explicou-se o sistema em si, componente a componente e estabeleceu-se a ligação entre os conceitos teóricos e a sua implementação prática”, adiciona. Por fim, José Jesus terminou a sua apresentação frisando “o sucesso da implementação como prova de conceito e reforçou a importância desta tecnologia e da sua exportação para o espaço”, lembra.
Na perspetiva do vencedor do galardão, o carácter disruptivo do seu trabalho pesou na escolha do mesmo como “Best Student Paper Award”. “Creio que o meu trabalho se distinguiu por ser a primeira implementação em Portugal de distribuição de chaves quânticas por espaço livre e por ser um projeto de tecnologias quânticas, uma área muito recente e que está na vanguarda da Ciência”, sublinha. Confidenciando que esta é um domínio em que gostava imenso de continuar a trabalhar, José Jesus não pôde deixar de referir o apoio crucial do Programa Gulbenkian “Novos Talentos em Tecnologias Quânticas” e dos professores Manfred Niehus e Yasser Omar em todo este projeto.