O fascínio por perceber como é que as coisas são feitas sempre fez parte da personalidade de Carolina Torres, pelo menos até onde as suas memórias de infância a deixam ir. De “engenhocas” a engenheira seria um saltinho, com muito trabalho pelo meio. Este gosto trataria de guiar as escolhas curriculares que teve que fazer, trazendo-a até ao curso de Engenharia Informática e de Computadores, no campus do Taguspark. Ao longo do seu percurso profissional acabaria por perceber que não estava disposta a abdicar desta paixão por criar coisas, por aprimorar um produto, por meter as mãos na massa, e por isso mesmo não hesitou em mudar em busca dessa realização profissional.
“Uma escola de referência onde se formam bons engenheiros e bons profissionais”, era assim que Carolina Torres via o Técnico, ambicionando também este cunho para a sua carreira. Assim, quando foi a altura de se candidatar ao Ensino Superior, em 2001, não teve dúvidas. Quanto à escolha do curso, a antiga aluna recorda que Engenharia Informática sempre foi uma área que lhe interessou, ainda que pouco conhecesse sobre a mesma. “Só tive um computador em casa aos 17 anos e quando entrei no curso de Engenharia Informática e Computadores nem sabia o que era um Sistema Operativo”, lembra, entre sorrisos.
Superada a meta de entrar, seguiram-se tempos de muito trabalho e o campus do Taguspark rapidamente se tornaria a sua casa. “Passava os dias em aulas e as noites a fazer os projetos”, relembra.“Claro que olhando para trás percebo que podia ter havido ali uma melhor organização do tempo, mas a verdade é que eu adorava o que fazia e a companhia dos amigos e dos colegas era fantástica”, afirma. “Havia um ambiente muito bom”, garante a alumna.
No regresso a esses tempos – a que esta partilha inevitavelmente obriga – Carolina Torres consegue apontar muitas diferenças em relação aos dias de hoje. O seu percurso enquanto aluna foi feito nos primeiros anos deste pólo do Técnico, e por isso viu muitas paredes ainda a erguerem-se. Os acessos de transportes públicos até ao campus eram muito escassos e a alumna demorava mesmo uma hora e meia entre Benfica – onde morava – e a Escola. “No regresso o que me valia era que acabava sempre por ter boleia de alguém”, lembra. “Também não tínhamos a variedade de oferta de serviços e atividades que havia no campus da Alameda – restaurantes, bares, grupos de desporto, teatro, tunas, etc.”, denota. Houve claro o lado bom de tudo isto, que a antiga aluna não se esquece de frisar: “tínhamos salas novas e bem equipadas, os computadores chegavam para todos e eram novos”. “Como éramos ainda poucos alunos, havia um espírito de grupo muito bom e bastante companheirismo”, complementa.
As memórias no Técnico trazem o traço incontornável da exigência que caracteriza a Escola, mas com a certeza que foi isso que a fez estar “mais à altura dos desafios que me foram colocados no mundo do trabalho empresarial”.
As primeiras experiências profissionais e as aprendizagens pelo caminho
No último ano de faculdade, Carolina Torres teve a oportunidade de ser professora auxiliar das aulas práticas de Interfaces Pessoa-Máquina. “Foi uma boa experiência e aprendi imenso”, declara. Na altura não teve noção das mais-valias da experiência e de tudo o que aprendeu, mas hoje tem certezas de como esta a acrescentou. “Foi uma experiência muito positiva e, apesar de a docência não ser algo que eu gostaria de fazer a tempo inteiro, foi sem dúvida importante na minha carreira”, afirma. “Olhando agora em retrospetiva, vejo que ainda me faltava estrutura para a responsabilidade de apoiar os alunos e de os ajudar a fazer um bom trabalho. Sei que se fosse agora faria um trabalho muito melhor, mas na altura esforcei-me imenso e sei que os ajudei em tudo quanto pude”, acrescenta, realçando o quão interessante foi estar a participar nas aulas do ponto de vista do docente e não do aluno. “Aprendemos muito quando ‘mudamos de sapatos’”, defende.
Quando terminou o curso, a antiga aluna entrou na Mobbit Systems, na altura uma empresa de comunicação digital. “Comecei por trabalhar numa das aplicações que suportava o sistema tendo depois ficado responsável por essa aplicação. Esse trabalho envolvia bastante a equipa de Frontend e eventualmente acabei por ficar responsável também pela coordenação do trabalho dessa equipa”, partilha.
Após 4 anos, Carolina Torres começou a sentir que havia experiências que não poderia viver se continuasse na empresa e por isso candidatou-se à Create IT. Já conhecia a empresa “por ter várias pessoas conhecidas a trabalhar lá” e tinha “muito boa impressão pela forma como trabalhavam e como tratavam os colaboradores”, recorda.
Além de mudar de empresa, arriscou mudar de área e passar a fazer Gestão de Projetos, apesar de não ser algo que à partida lhe despertasse grande interesse. “Foi muito duro e acabou por ser uma aprendizagem enorme”, diz a alumna do Técnico. A dureza desses tempos, levam-na mesmo a denominar essa fase da sua vida como “a segunda parte da “tropa”. “A primeira tinham sido os anos de faculdade”, apressa-se a realçar. “Aprendi imensas coisas [na Create IT] que me tornaram uma melhor profissional. E o apoio dos colegas foi essencial”, refere.
Apercebia-se, ainda assim, de que este rumo a desviava da sua realização profissional- algo de que não estava disposta a abdicar. “Tive a oportunidade de me focar em gerir apenas projetos de suporte, pois o suporte era uma área que me entusiasmava, e também de assumir a liderança da área de coordenação desse tipo de projetos”, relata. Ainda assim, a gestão mantinha-se no seu trabalho diário o que lhe reiterava a certeza do que não queria. “Esta foi uma das decisões mais difíceis que tomei até hoje, pois estava a trabalhar numa empresa boa, que respeita as pessoas e onde lhe são dadas oportunidades, onde tinha – e tenho- amigos e um bom ambiente de trabalho”, declara.
A coragem de mudar na procura da realização
Em casa, junto do seus, encontrou o apoio que precisava para encetar esta mudança. A licença de parentalidade da sua segunda filha dar-lhe-ia alguma margem de manobra temporal para procurar alternativas. “Fizemos contas à vida e ‘demos-me’ 6 meses para fazer esta experiência. E, se passado esse tempo ainda não soubesse, escolheria umas das oportunidades que tivesse na altura e depois logo se veria”, conta a alumna. Nesta jornada, mais do que nunca, Carolina Torres aperceber-se da sorte que é ter uma formação em Engenharia, uma área onde a oferta é imensa. “Esta decisão já era difícil só por si, nem queria imaginar como seria se fosse numa área com menos oferta”, sublinha.
Nesta busca tão importante, a antiga aluna do Técnico acabou por ter o “apoio valioso” de uma amiga que estava a terminar a sua formação em Coaching. “Nunca tinha pensado em procurar apoio num Coacher – na altura até achava que Coaching fosse algo esotérico”, confessa, referindo que esta acabaria por ser “uma ajuda essencial” em todo o processo. “Ensinou-me ferramentas que me ajudaram a perceber o que eu queria– quando eu achava que só sabia aquilo que não queria- e a focar-me em obter resultados concretos em relação a isso”, salienta.
Enquanto procurava, acabou por esbarrar numa vaga na Signicat como QA tester e Technical writer. Carolina Torres sabe bem que muitos no seu lugar não teriam submetido a candidatura, por pensarem que esta representaria “ir de cavalo para burro”, mas a ideia nem sequer lhe assombrou a vontade de arriscar e que bem que fez. “Nunca me senti tão bem num trabalho e foi essa oportunidade que me abriu as portas para onde estou hoje”, evidencia.
“Dadas as minhas experiências anteriores, entrei na Signicat como Solution Specialist – iria trabalhar num produto que ia começar a ser desenvolvido e tive assim oportunidade de participar no seu desenvolvimento desde o início”, conta a alumna. “Graças às tarefas de QA e de Tech Writer fui ganhando conhecimento sobre o que o produto fazia e como funcionava. Como estava a gostar do que fazia e a sentir entusiasmo pelo produto fui começando a ‘meter o bedelho’ nas decisões funcionais e foi assim que naturalmente acabei por assumir o papel de Product Owner mais tarde, numa altura em que a empresa passou a utilizar a metodologia SCRUM no desenvolvimento de software”, recorda.
“Estou na Signicat há 2 anos e meio e continuo tão feliz como no dia em que entrei”
Durante todo este processo sentiu-se sempre rodeada por uma “equipa fantástica”, o que acaba por ser a cereja no topo do bolo nesta etapa tão radiante da sua carreira. Aos 8 elementos que estão em Portugal e que são o núcleo duro do seu trabalho diário, juntam-se muitos outros que estão espalhados por vários países europeus, uma vez que a Signicat tem neste momento cerca de 250 colaboradores, a maioria na Noruega e os restantes pelos vários escritórios noutros países nórdicos – Suécia, Finlândia, Dinamarca -, e também Bélgica, Holanda, Alemanha, etc. “Estou na Signicat há 2 anos e meio e continuo tão feliz como no dia em que entrei. E sei que, se um dia isso deixar de ser verdade, tenho o apoio e espaço para me ajustar”, frisa Carolina Torres.
Hoje em dia trabalha em desenvolvimento de software e encontra realização em todos os detalhes daquilo que faz como, aliás, a forma como o explica demonstra-o bem: “conhecer a fundo um produto e estudar e decidir o que esse produto vai fazer a seguir, conhecer as necessidades dos utilizadores desse produto e desenhá-lo por forma a ajudá-los também a eles, ajudar a desbloquear questões envolventes, alinhar o nosso trabalho com o das outras equipas por forma a que juntos possamos produzir bons resultados, apoiar as equipas que vendem o produto e também alguns dos clientes que o utilizam. Tudo isto é o que me faz levantar de manhã com entusiasmo e vontade de ir trabalhar”, revela. Quando a questionamos acerca do que mais a apaixona, a resposta surge prontamente: “é sentir que aquilo que faço diariamente ajuda os outros. Saber que estou a ajudar os meus colegas e que no final estamos a criar um produto que vai ajudar os nossos clientes é o que me deixa feliz”, declara com um sorriso.
Ao longo de todo este percurso, Carolina Torres nunca se sentiu diferente por estar inserida num mundo tradicionalmente de homens, pelo menos que “tenha dado conta”. “Sei que, infelizmente, ainda há quem sinta esse tipo de desigualdades, mas fico feliz por poder dizer que sempre senti que tive as mesmas oportunidades que todos os meus colegas”, vinca. A antiga aluna não tem dúvidas do quão importante é poder evocar esta igualdade que sentiu na pele porque “revela que, enquanto sociedade, estamos no bom caminho”, frisa.
A alumna não sabe que desafios se seguirão, mas também não se atreve a adivinhar perante a típica pergunta sobre “como imagina o seu futuro”. A resposta reflete as aprendizagens de todo este percurso de crescimento: “Posso estar a fazer o que quer que seja, desde que me sinta feliz a fazê-lo”, finaliza com um sorriso que lhe pontua na perfeição as prioridades.