Querem experimentar outras culturas, viver desafios pessoais e académicos, e conhecer novas pessoas. É isso que faz com que, a cada semestre, centenas de alunos do Técnico decidam mudar-se de armas e bagagens para outra cidade, outro país, outro continente. Ao abrigo de programas como o Erasmus+, TIME ou KIC-Innoenergy, ou aproveitando acordos com outras Universidades, os futuros engenheiros ocupam lugares nas escolas um pouco por todo o mundo.
“A primeira impressão foi de estranheza, e é exatamente essa estranheza de um mundo completamente diferente que é tão entusiasmante.” As palavras são de Joana Neto que, aos 24 anos, decidiu rumar a Xangai para seis meses de estudo. Quando procurou informar-se sobre os intercâmbios possíveis para si, enquanto aluna de Engenharia Mecânica, sabia apenas que não queria ficar na Europa. Depois, percebeu que tinha como opções Hong Kong, Xangai, Harbin e outros “destinos exóticos”. “Nem pensei duas vezes e candidatei-me logo.”
Acabou por seguir viagem para a China, onde se deparou com essa estranheza que impressiona. Lá, do outro lado do mundo, “imperam as diferenças sobre as semelhanças” em relação ao que conhece aqui. A qualidade do ar, o custo de vida, a dimensão – “o campus onde me encontro a estudar é tão grande que qualquer deslocação sem bicicleta é extremamente morosa” – ou a comida são realidades totalmente díspares das que Joana conheceu toda a vida. A maior diferença, no entanto, é a possibilidade “de estar em contacto com pessoas de todo o mundo”, que dificilmente encontraria em Lisboa.
Frederico Nunes, 22 anos, aluno de Engenharia Civil, pensou seguir os mesmos passos de Joana: “Tentei contactar com tempo as universidades chinesas, mas a verdade é que as respostas tardavam…”. Não fazer um programa de intercâmbio, diz, “não era opção” e também ele quis fugir à Europa. Decidiu mudar de rumo e voltou-se para a Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil, onde ficará até dezembro. “A universidade cumpria os meus requisitos: era um país não tradicional, com ensino de qualidade, beleza natural fascinante, seguro e com pessoas hospitaleiras”, explica. A língua ser a mesma até podia ser um bónus, mas, diz Frederico, “não é tão fácil como pode parecer… não somos entendidos se falarmos o tradicional português de Portugal”.
Noutras paragens, mais próximas, também o português não serve de muito. Guilherme Freches, futuro engenheiro biomédico, considerou as suas opções e quis fugir a um país de “línguas latinas”, que não eram desafio suficiente. Através do programa TIME, seguiu caminho para a Rússia, onde ficará durante dois anos a fim de obter um Grau Duplo de mestrado. “Penso que seis meses ou um ano não é tempo suficiente para verdadeiramente se abraçar um novo paés, uma nova língua e uma nova cultura”, afirma o estudante de 22 anos. Já antes de se mudar para a Universidade Técnica Estatal de Moscovo começou com aulas de russo – teve uma bolsa de estudo para estudar no Instituto de Línguas na cidade durante um mês, fornecida pelo estado russo – mas, garante, o que aprendeu é “claramente insuficiente para conseguir acompanhar as aulas”. Ainda assim, espera que a situação melhore: “Um dos meus objetivos é conseguir ler o «Guerra e Paz» na sua língua original”, diz.
Também há quem escolha destinos mais tradicionais – e com objetivos diferentes. Pedro Sousa, Francisco Capucha e João Almeida são exemplos desses: o primeiro está em Barcelona, Espanha, os outros em Delft, na Holanda, e os três falam dos programas de intercâmbio como uma “experiência de vida” que não quiseram perder.
Para Francisco Capucha, a decisão de rumar à Holanda foi fácil: “De férias, passei uma semana em Amsterdão e foi amor à primeira vista”, afirma, referindo ainda a facilidade de falar inglês e o custo de vida menos elevado que, por exemplo, nos países nórdicos. Já João Almeida consultou professores antes de tomar uma decisão. “No final, o prestígio internacional da Delft University of Tecnology, o clima moderado e a cultura da cidade foram os pontos fundamentais”. Ao chegar, impressionou-o a diferença visível no orçamento da universidade, comparado com o do Técnico: “É notório nas coisas mais simples, como os espaços verdes ou os panfletos que são distribuídos, mas também nas estruturas imponentes “. Depois, notou outras diferenças importantes. “A importância dada às atividades extracurriculares – é possível fazer um minor do mestrado com uma das dream teams (equipas como a Formula Student) – permite aos alunos adquirir outras competências que são muito úteis no futuro.”
Pedro Sousa, por seu lado, observa com grande agrado as oportunidades profissionais que a estadia na Universidade Técnica da Catalunha pode abrir, no futuro. “Quis mudar de ambiente e experimentar, pela primeira vez, viver no estrangeiro”, explica, nos últimos dias em Barcelona, onde esteve durante um ano, a terminar o mestrado e escrever a tese. “Escolhi esta escola devido à sua reputação na área em que pretendo seguir carreira profissional [Gestão de Tráfego Aéreo], o que seria um complemento à formação que tive no Técnico.” Nos últimos meses, teve aulas e contactou com o mundo da investigação, teve oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo e deparou-se com um enorme nível de entreajuda e hospitalidade. Uma certeza ficou, antes de vir a Lisboa defender a dissertação final de mestrado: “No futuro, vou para onde conseguir arranjar emprego, mas não gostava de voltar a Portugal”.