Mobilizar a comunidade europeia para o debate sobre os materiais avançados e o contributo fulcral destes no processo de revolução tecnológica e industrial foi o mote da conferência “Advanced Materials Conference – To innovate in the future, the journey starts here”, que decorreu ao longo desta quarta-feira, 16 de junho. No evento, que contou com vários oradores nacionais e internacionais, debateu-se a importância dos materiais avançados para a prosperidade europeia, enfatizando-se as múltiplas latitudes em que podem usados para fornecer excelentes aplicações estruturais e funcionais.
Organizada pelo Advanced Materials Cluster, do qual o Instituto Superior Técnico faz parte, e sob os auspícios da Presidência portuguesa da União Europeia, a conferência decorreu através da plataforma Zoom e cativou mais de uma centena de participantes.
O painel inaugural teria como intervenientes o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, professor Manuel Heitor, o presidente interino do European Research Council (ERC), Jean-Pierre Bourguignon, Jan HRUŠÁK, presidente do European Strategy Forum on Research Infrastructures (ESFRI) e a presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), professora Helena Pereira.
Ao longo das várias sessões em que a conferência se dividiu e através do conhecimento e experiência de vários especialistas, foi sendo realçado o papel central dos materiais avançados nas transformações sociais e económicas e no futuro do nosso planeta, na resposta aos desafios que o mesmo coloca, nomeadamente na proteção do nosso planeta e no fomento do crescimento verde. Em foco estiveram temas como “O impacto da Ciência nas Transformações em Tecnologia e Educação”, os “Materiais Avançados enquanto aceleradores da Economia Digital’, os ‘Materiais como ativadores e promotores de prosperidade e bem-estar’ e ‘Materiais avançados na direção de um caminho sustentável’.
Professor Rogério Colaço: “Os materiais são a base de tudo o que temos”
O presidente do Técnico, professor Rogério Colaço, também ele investigador nesta área, e um dos organizadores da conferência, seria o responsável por abrir e moderar o primeiro painel da tarde que contaria com a professora Joana Mendonça, presidente da Agência Nacional Inovação (ANI), Jurgen Tiedje, chefe da Unidade de Transformação Industrial( DG RTD, Comissão Europeia), Heléne Chraye, chefe da Unidade de Transição para a Energia Limpa (DG RTD, Comissão Europeia), e Peter Wellmann, presidente da Sociedade Europeia de Investigação de Materiais.
“Os materiais são a base de tudo o que temos, são a base do nosso modo de vida. Não podemos imaginar o futuro, nada no futuro, sem abordar questões relacionadas com os materiais, tais como o ciclo de vida sustentável, o desenvolvimento de novos materiais para responder a novas necessidades”, salientava o professor Rogério Colaço antes de passar a palavra aos oradores do painel.
A professora Joana Mendonça usou o tempo que dispunha para falar sobre a transferência de conhecimento e a importância da colaboração entre empresas e universidades. “Trabalho nisto há muitos anos, e percebo que na maioria dos casos, tanto as empresas como as universidades querem realmente colaborar, existem é algumas questões difíceis nesta colaboração”, começava por referir. Demonstrando a inequívoca relação entre o investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) e o crescimento económico dos países, a presidente da ANI reiterava, no entanto, que “I&D e inovação, não são sinónimos”. “A inovação só acontece no mercado, pelo que na realidade só chamamos inovação ao que está a ser comercializado independentemente da forma como é comercializado. Assim, podemos ter muita I&D, mas sem a comercialização, onde está o valor?”, apontou a presidente da ANI.
“É por isso que esta ligação é tão importante, porque se não tivermos esta ligação, o conhecimento não é transferido, pelo que temos níveis realmente elevados de I&D, temos boa Ciência e depois baixos níveis de comercialização”, destacava a professora Joana Mendonça, realçando o papel da ANI na promoção desta colaboração “para desenvolver a inovação e trazê-la para o mercado” e os diferentes instrumentos utilizados para tal.
Através das intervenções de Jurgen Tiedje e Heléne Chraye foi possível também perceber os instrumentos de financiamento e processos do Horizonte Europa e os domínios que podem ser explorados, relacionados nomeadamente com os Clusters 4 e 5. Os oradores foram destacando as oportunidades e prioridades do programa Horizonte Europa, nomeadamente relacionadas com os Materiais Avançados. “Reciclagem por design, substituição de materiais para evitar depender de alguns países externos, tudo isso é um pacote que vai para o mercado, e onde a inovação na investigação tem um forte papel a desempenhar”, destacava na sua intervenção Heléne Chraye.
O professor Renzo Tomellini, chefe da secretaria técnica do ministro da Transição Ecológica de Itália, fecharia o leque de oradores vincando o papel dos materiais na resiliência e recuperação através da Economia Circular e do fornecimento de matérias-primas. “Os materiais são o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro. A sustentabilidade, estas missões [nesta área] que temos são realmente algo novo para os materiais que irão influenciar a nossa forma de pensar nas próximas décadas, até ao objetivo final que temos da descarbonização, mas também os objetivos intermédios”, referiu.
O professor Rogério Colaço voltaria a usar da palavra para encerrar o evento, e salientar que, enquanto cientista desta área há mais de 30 anos, mas sobretudo como presidente da maior escola de Ciência e Engenharia em Portugal, está convicto que esta é a forma como a Ciência e a Tecnologia tem de caminhar a partir de agora: “juntando pessoas para trocar ideias e caminhar numa certa direção, com uma certa visão, com alguns sonhos, e procurando um futuro melhor”.
Os vídeos de cada sessão e um relatório sumário das apresentações serão disponibilizados na página dedicada à conferência na página do Departamento de Ciência dos Materiais da FCT Nova.
