“É sempre bom voltar ao Técnico”. Esta frase, dita entre um suspiro e um sorriso que lhe patenteavam a sinceridade, serviu de início à narrativa da alumna Cristina Fonseca, convidada da sessão “Founders@DEI”, organizada pelo Departamento de Engenharia Informático que decorreu esta quarta-feira, 4 de abril, no Salão Nobre do Técnico. “Não quero que isto seja apenas um monólogo, por isso interrompam-me, questionem, vamos trocar ideias”, declarava de seguida. Ainda assim impunha-se que o pontapé de saída da conversa fosse dado por si, e a engenheira nem hesitou na forma de começar: voltou atrás no tempo e no que a trouxe ao Técnico. “Eu adorava Matemática e Física e Química, e soube que a escolha deveria passar por algo relacionado com Engenharias, e poderia entrar em qualquer uma, claro que a escolha do Técnico já estava feita, visto que era a melhor escola”. A preferência pelo curso de Engenharia de Telecomunicações, surgiu, como sempre da vontade de arriscar, de conhecer coisas novas, de fazer parte do futuro. A partir daí, o percurso académico foi “e como vocês devem saber, uma constante de desafios e a necessidade de descobrir como os resolver”, partilha a alumna.
A partilha de Cristina Fonseca não se ficou pelas escolhas que foi fazendo depois de ao fim de 5 anos sair do Técnico, partilhou também algumas das razões que as originaram. “Um problema de saúde, deixou-me cinco dias no hospital ligada ao ventilador e foi nessa altura que percebi que o que eu queria fazer na vida teria que ser algo que criasse impacto”. Foi esta vontade que a levou a recusar ofertas de emprego invejáveis, e a decidir criar algo novo com o colega de curso Tiago Paiva. O sucesso não foi imediato, lançaram ideias que falharam, mas resultou daí toda “uma aprendizagem que mais tarde se revelou imprescindível”, como afiança Cristina Fonseca. Não foi à terceira, mas sim à quarta que o sucesso lhes bateu à porta. “O conceito da Talkdesk nasce num concurso promovido por uma empresa americana, em que trabalhamos dez dias durante dia e noite e que acabamos por vencer”, declarou a co-fundadora da startup.
Tudo o que se segue foi tão rápido e intenso, que a alumna do Técnico teme não conseguir detalhar tudo. “Foi muito fácil arranjar investimento porque os investidores percebiam que havia qualidade no nosso produto”, frisa Cristina Fonseca. Sete anos depois da criação da Talkdesk, a empresa emprega mais de 300 pessoas, tendo três escritórios e mais de metade da equipa sediada em Portugal. “Era muito engraçado quando se referiam a nós como uma empresa, e do outro lado do computador estávamos apenas eu e o Tiago a trabalhar”, solta.” É muito bom ver todo este crescimento e sucesso de uma startup portuguesa, que eu ajudei a criar”, acrescentou posteriormente.
Foi com este amontoado de experiências, sempre expostas num tom que facilmente lhe revelava a êxtase, que a empreendedora de sucesso foi cativando a audiência. Não demorou muito até que a vontade de questionar interrompesse a sequência de aventuras relatadas pela co-fundadora da Talkdesk. E às perguntas, Cristina Fonseca respondeu sempre sem subterfúgios e de forma muito própria: “Nós portugueses somos ótimos a executar mas não nos sabemos vender, falta-nos a capacidade de saber comunicar o que somos bons a fazer”, declarou.
A vontade de fazer coisas novas e de aprender mais levou a alumna do Técnico a afastar-se da Talkdesk, e embora continue a ser accionista maioritária da startup, não interfere nas decisões do dia-a-dia. O tempo que ganhou usou-o para voltar a estudar, viajar, e continuar a gerar e ajudar a criar impacto, tendo integrado recentemente a Venture Partner na Indico Capital Partners onde investe e acompanha startups tecnológicas a lançar e escalar produtos globais de base tecnológica. “Ser empreendedor não é algo que esteja incutido na cultura portuguesa, e por isso se existe uma cadeira de empreendedorismo no Técnico que vos aproxime do mercado, que vos coloque em contacto com o mundo real, aproveitem”, aconselha. “Os jovens têm que saber diferenciar-se, ir à procura de descobrir o que não sabem, têm que acreditar em si próprios e saber vender-se”, recomenda por fim, sendo ela mesma um ótima referência do que tinha acabado de dizer.