Campus e Comunidade

“É preciso atrair mais raparigas para as tecnologias e energia nuclear”

O apelo foi feito pelo Diretor-Geral da Agência para a Energia Nuclear, Willian D. Magwood, que veio ao Técnico conversar com 60 alunos de Engenharia Física Tecnológica.

“Na tecnologia e energia nuclear temos um sério problema de desigualdade de género. Não existem mulheres suficientes nestes campos”, afirmou Willian D. Magwood, responsável pela Agência de Energia Nuclear(AEN) da OCDE. Na sua primeira vinda a Portugal fez questão de conversar com alunos de Física. Uma oportunidade proporcionada pelo Técnico que realizou um almoço na sala de reunião do Pavilhão Central, dia 8 de outubro. Uma hora de uma conversa inspiradora com alunos do curso de Engenharia Física Tecnológica que passou à velocidade da luz e que despertou a curiosidade de quem estava na sala

A falta de mulheres nas tecnologias “é uma questão central” que nos leva a debater “formas de resolver este problema”, acrescentou o responsável pela AEN. Em breve irá ocorrer uma reunião anual para discutir “o que se pode fazer para encorajar mais mulheres a seguir as áreas das Ciências e Tecnologias”. “Até porque não adianta estar sempre a queixar-se do problema, o que temos é que ver o que podemos fazer para o resolver”, sublinhou Willian D. Magwood. “Em muitos países continua a dizer-se às mulheres que “Não conseguem fazer isto! O que é horrível”, diz o responsável pela Agência para a Energia Nuclear.

Neste momento a AEN já está a desenvolver “workshops de mentoring em diversos países, como o Japão, em que cientistas vindas de todo o mundo vão dizer às alunas das escolas do ensino secundária que “Podem fazê-lo!”.

O responsável apelou ainda aos alunos presentes na sala que, quando terminarem a curso, vão às escolas secundários convencer mais estudantes a seguir tecnologias.

Mas o problema de desigualdade de género levanta diferentes questões conforme os países. Na Rússia por exemplo, não há problema em atrair mulheres para as CTEM. Mas dois anos depois de começarem a trabalhar “desaparecem o que leva a que não haja mulheres em lugares de liderança nestas áreas”, sublinha o diretor-geral do organismo da OCDE responsável pela energia nuclear.

Na sua intervenção perante uma sala repleta de alunos, mas com poucas alunas, deixou o desejo: “Gostava de regressar a Portugal, daqui a de dez anos e ter metade desta sala ocupada por mulheres!”.

O percurso de Willian D. Magwood é invulgar. Com uma formação de base em Física na Carnegie Mellon University (CMU), o Diretor –geral da Agência de Energia Nuclear, fez depois um curso de Língua Inglesa e de Belas Artes. A sua motivação inicial para a Física foi querer “perceber como é que as galáxias se formaram”. Depois de terminar o curso, começou a envolver-se em temas ligados à energia nuclear. Deixou a investigação para se dedicar à política porque é a oportunidade de “fazer as coisas acontecerem”

Em Washington interessou-se por politica e politicas públicas e dirigiu durante sete anos o programa de investigação em energia nuclear do Departamento de Estado Norte-americano onde se começou a debater a 4ª geração da tecnologia nuclear.

Depois teve oportunidade de ir para Paris onde dirige, há cinco anos, a Agência para a Energia Nuclear. “Estamos muito focados nas questões da ciência e tecnologia, já que temos 80 grupos diferentes de peritos, os melhores do mundo, que investigam tudo o que esteja relacionado com a tecnologia do nuclear”.  “Sei que Portugal ainda não adotou a energia nuclear, por agora”, afirmou na sua intervenção.

Até porque a aposta na energia nuclear pode ser a solução para responder ao problema das alterações climáticas.

Em certos países desenvolvidos que integram a OCDE, a tecnologia da energia nuclear está a estabilizar ou a decrescer porque muitos países estão a encerrar as suas centrais nucleares porque

Na maioria dos países, o “desafio é existir um limite para a percentagem de renováveis que podemos desenvolver”.  A energia nuclear “poder ser a resposta para assegurar a restante energia, “sublinha.

“Mas ainda não existe a tecnologia para responder a essa necessidade, porque a tecnologia disponível é muito cara, muito complicada e não tem a confiança do público nalguns países”, alerta. Mas há uma nova geração de novas tecnologias do nuclear que podem ser a resposta.

O grande desafio do nuclear no futuro “é o custo, porque construir uma nova central nuclear tornou-se muito caro”. Já não são as questões de segurança ou dos resíduos nuclear que estão no centro do debate. “Uma das novidades da energia nuclear é avançarem para novas tecnologias que preveem a construção de pequenas centrais com muitos reatores mais pequenos”, sublinhou.

Mas há alguns países a apostar em lançar novas centrais comos os EUA, China, França, Reino Unido, Finlândia, Rússia, Coreia do Sul e na América do Sul. Um dos maiores projetos está a ser desenvolvido na China onde estão a ser construídas 25 centrais nucleares”, acrescentou.