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FabInventors conquista 3.º lugar em competição europeia

O projeto de impressoras 3D que nasceu nos laboratórios do Técnico alcançou o pódio na competição “BoostUP!”, organizada pelo EIT Manufacturing.

A FabInventors, uma spin-off que nasceu nos laboratórios do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), conquistou um lugar no pódio do “BoostUP”, uma competição europeia organizada pelo EIT Manufacturing. Ao 3.º lugar arrecadado pela equipa estava associado um prémio monetário de 10 mil euros e ainda um serviço de mentoria no desenvolvimento de negócio.

Naquela que foi a 1.ª edição do “BoostUP”, a FabInventors foi uma das candidatas na categoria CREATE- direcionada a projetos inovadores que resolvem problemas críticos da manufatura europeia. A equipa seria uma das 15 europeias selecionadas regionalmente, e posteriormente, na grande final, arrecadou o 3.º lugar nesta categoria. “Estamos muito orgulhosos com a distinção do EIT Manufacturing, é um reconhecimento do potencial do projeto, da equipa, do plano e da tecnologia”, aponta Nuno Frutuoso, cofundador da FabInventors. “O pódio nesta competição permitir-nos-á continuar a trabalhar com o EIT Manufacturing, beneficiar do ecossistema de inovação que visa maximizar o potencial de novas startups de manufatura”, salienta o antigo aluno do Técnico.

A componente monetária do prémio será investida na construção de um demonstrador de grande formato com  1m3 de volume de impressão. “Este sistema será utilizado para realizar os serviços de impressão nos nossos mercados alvo e promover a sustentabilidade financeira do projeto”, explica Nuno Frutuoso. Quanto ao serviço especializado de apoio ao desenvolvimento do projeto que a equipa também conquistou com este lugar no pódio -e que contempla a assistência ao desenvolvimento do demonstrador, mentoria e coachingmatchmaking com parceiros europeus e ainda visibilidade nos canais de comunicação do EIT Manufacturing- será também aproveitado da melhor forma em prol do projeto.

Para Nuno Frutuoso um dos fatores que terá distinguido a FabInventors na competição foi a “tecnologia e a proteção da propriedade inteletual, pois tem o potencial de trazer uma solução tecnicamente competitiva para o mercado, numa área em crescimento (3D printing) promovendo mais inovação no setor”. “Um segundo fator foi a competência da equipa, formada por professores e investigadores do Instituto Superior Técnico especializados nesta área, com capacidade de continuar a inovar, crucial no plano de desenvolvimento tecnológico”, complementa.  Por fim, o empreendedor acredita que também pesou na conquista do pódio o modelo de negócios apresentado. “Não há respostas certas, mas há um plano coerente, que foi revisto desde a primeira iteração no Lab2Market. Desde então participámos no BornFromKnowledge Rise, no Astropreneurs e no EIT Jumpstarter onde testámos vários modelos de negócio e aprimorámos um plano de entrada no mercado”, partilha o cofundador.

Uma spin-off que pretende potenciar a impressão 3D em grande formato

Quem utiliza impressoras 3D, sobretudo de tecnologia FDM/FFF, sabe que o processo é demorado- estendendo-se por várias horas ou dias – e depende fortemente do tamanho e do detalhe superficial da peça. As soluções existentes para reduzir o tempo de fabrico resultam na perda de detalhe, sendo necessário o pós-processamento para recuperar o acabamento desejado. Com as impressoras da FabInventors estes importantes detalhes obtêm solução, visto que passa a ser possível reproduzir fielmente os modelos tridimensionais desenhados pelos engenheiros, designers e criativos, em peças únicas, independentemente do tamanho da peça. “As nossas impressoras 3D de grande formato permitem-nos reduzir o tempo de fabrico em pelo menos 50%, mantendo o detalhe superficial, graças à tecnologia de impressão 3D com múltiplas cabeças de impressão colaborativas, tecnologia esta, que temos vindo a desenvolver no Instituto Superior Técnico”, evidencia Nuno Frutuoso.

A FabInventors introduz também o conceito de modularidade para escalabilidade, uma solução eficiente para impressão de grande formato, múltiplos materiais e conjuntos de peças. “Uma impressora de grande formato é constituída por múltiplas cabeças de impressão e múltiplas plataformas, controladas individualmente para se adaptarem às necessidades de produção a cada momento”, sublinha Nuno Frutuoso. “Assim, peças grandes, ocupam várias plataformas e usam vários módulos de impressão em simultâneo, permitindo o fabrico mais rápido. Quando é necessário imprimir peças pequenas o sistema funciona como uma ‘printing farm’:  cada cabeça de impressão fabrica a sua peça numa plataforma”, destaca, em seguida, o antigo aluno do Técnico. “Para múltiplos materiais, diferentes módulos de impressão são carregados com diferentes filamentos. Por fim, todas estas funcionalidades podem coexistir potenciando a utilização de 100% da capacidade produtiva do sistema”, complementa.

A ideia que está na base desta spin-off começaria a ganhar os primeiros contornos na tese de mestrado de Nuno Frutuoso. “A minha experiência com impressoras 3D começou na JUNITEC, em 2012, numa altura que os primeiros projetos de impressoras Do-It-Yourself (DIY) começaram a aparecer”, recorda o alumnus.  A paixão pelo tema conjugada com a inquietação que o facto de ter que esperar vários dias para imprimir peças lhe gerava, levá-lo-iam, por diversas vezes a imaginar uma solução que pudesse “ser mais célere, usar múltiplas cabeças de impressão”. A vontade de resolver este problema, impulsioná-lo-ia a procurar junto de alguns docentes do Técnico o conhecimento necessário para a avançar para o desenho de uma solução. “O professor Marco Leite, do DEM e o professor Rodrigo Ventura, investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), gostaram da ideia e aceitaram o desafio de me orientar na componente de software. Rapidamente se reuniu um grupo de trabalho multidisciplinar com os professores António Relógio Ribeiro, Luís Reis e Bruno Soares, para maturar a ideia e assim desenvolvemos este conceito inovador para impressão 3D de grande formato”, relata o antigo aluno.

Em 2016, a equipa decidiu submeter o pedido de patente em Portugal, que um ano depois viria a ser estendido internacionalmente. “Um projeto de investigação da FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia] permitiu-nos estudar a fundo o conceito e produzir um protótipo funcional com o qual temos desenvolvido experiências várias no Laboratório para o Desenvolvimento do Produto”, recorda Nuno Frutuoso.

A importância da participação no programa Lab2Market e os planos para o futuro

O cofundador da FabInventors não tem dúvidas das valias que resultaram da participação deste projeto no programa Lab2Market, em 2019. “Foi ao longo deste programa que iniciámos os nossos primeiros contactos com o mercado. Foi uma experiência enriquecedora. Enquanto investigadores, desenvolvemos tecnologia, ambicionamos o auge da técnica, mas enquanto empreendedores, para termos sucesso, temos de ter a melhor solução para os problemas dos nossos clientes. Este programa ajudou-nos a sair do laboratório e a contactar quem achávamos serem os nossos clientes”, declara o alumnus do Técnico. “É um processo muito interessante, o programa está construído com metodologias de investigação, mas é duro, é necessária resiliência para não desistir. Como resultado, aproxima a investigação da sua aplicabilidade prática”, frisa ainda, recomendado a participação no programa.

Neste momento, a startup disponibiliza serviços de impressão de grande formato para criação de protótipos- engenharia, arquitetura e design – e produção de peças para a área da publicidade outdoor. “Esta atividade permite-nos validar o mercado, construir portefólio de aplicações e desenvolver o sistema em colaboração com os nossos clientes. A robustez do sistema, crucial para setores profissionais e industriais, será conseguida por melhoria contínua”, realça o antigo aluno. “Os clientes mais satisfeitos serão os potenciais clientes a adquirir futuramente os sistemas. Neste momento já é possível solicitar um orçamento para a impressão de um protótipo”, acrescenta.

Já no primeiro trimestre de 2021, os fundadores planeiam formalizar a criação da startup. “Na área operacional vamos finalizar a construção de demonstrador até fevereiro enquanto fechamos contratos com clientes”, adianta Nuno Frutuoso. “A equipa vai crescer nas áreas de engenharia mecânica, eletrotécnica e informática e vamos produzir e entregar peças de grande formato”, adiciona.

A equipa tem também presente no plano de trabalhos o “desenvolvimento de uma prova de conceito no Lab2ProD para impressão de materiais de altas temperaturas” para dentro de 1 ano poder experimentar aplicações mais exigentes. Neste projeto e futuro está também incluída a comunidade do Técnico que é convidada a fazer parte desta jornada, juntando-se à FabInventors para fabricar os protótipos de grandes dimensões.