O Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC) celebra este ano o 40.º aniversário. As comemorações arrancam já na próxima segunda-feira, 6 de julho, no Porto. Como sempre tem feito na sua história, o INESC convida a sociedade, as empresas e a academia a olharem para o futuro, através de um programa diverso que conta com oradores de renome. Além da festa, o marco histórico das 4 décadas convida também a uma retrospetiva em torno do percurso e do legado construído.
A coragem e vontade de contribuir para a mudança pautam a história do INESC desde a primeira página, ou até mesmo desde os primeiros rascunhos da mesma. Corria o ano de 1978 quando três jovens professores universitários, José Tribolet, João Lourenço Fernandes e Luís Vidigal, se encontraram numa conferência em Nova Iorque. Aquilo que poderia ter sido uma conversa circunstancial de três apaixonados pela engenharia, desejosos de ajudar a criar condições para a investigação científica nas suas respetivas áreas – aplicando os “modelos anglo-saxónicos” com que estavam familiarizados – transformar-se-ia no esboço de um projeto que marca até hoje a investigação nacional.
Ainda nesse mesmo ano, em outubro e já em Portugal, José Tribolet e João Lourenço Fernandes convocariam um reforço de peso para estas discussões incessantes em torno deste projeto: José Fonseca de Moura. O entusiasmo impulsionava o sonho, a ousadia e a capacidade de trabalho conferiam contornos concretos e viáveis ao projeto daquilo que viria a ser o INESC. Em setembro de 1980, graças à resiliência e ao trabalho dos seus fundadores, o INESC iniciava as suas atividades, numa sala no 3.º andar do edifício dos CTT, no 9, Rua Alves Redol. O Instituto Superior Técnico foi o primeiro associado académico do INESC, iniciando-se a relação de colaboração estreita e profícua que dura até aos dias de hoje.
Falar do INESC é incontornavelmente falar do professor José Tribolet, fundador e presidente da instituição, e para quem estes “40 anos foram uma caminhada que começou ‘ontem’”. “O tempo voa para quem está concentrado em ‘fazer’ e ‘fazer acontecer’, guiado por valores sólidos, objetivos simples de formular e de compreender, infetado viralmente pelo espírito da engenharia, e sempre com o foco na realização do presente, com os olhos postos no futuro”, vinca o docente, com o humor e a frontalidade que todos lhe reconhecem.
Para o professor José Tribolet, o INESC é “a concretização da fé que eu e o professor Lourenço Fernandes tivemos na capacidade dos portugueses aportarem valor real ao País, aqui e agora, realizando trabalho científico”, declara. Quando lhe pedimos para nos falar sobre estes 40 anos, o presidente do INESC, faz um balanço franco daquilo que considera o percurso normal de uma “instituição viva”. Ao longo destes 40 anos fomos vivendo sucessos e reveses. (…) E fomos aprendendo ao longo deste percurso a adaptar os aspetos instrumentais da nossa ação coletiva, nomeadamente as nossas configurações institucionais, de forma a mantermos a sustentabilidade económica, financeira e humana”, afirma. “Sem complexos e sem dramas, unidos no propósito comum”, acrescenta de seguida.
Um dos capítulos mais marcantes desta já longa história data de 1999, quando se dá mudança da estrutura inicial do INESC, com a evolução para o “Sistema INESC”, composto pelo INESC original – designada internamente por “Holding” e pelos cinco INESCs hoje existentes: o INESC Coimbra, INESC-ID, INOV INESC Inovação e o INESC MN e o INESC TEC. Para o presidente do INESC esta “transformação topológica” acabou por ser uma evolução que “permitiu dotar o sistema de agilidade, criando graus de liberdade que deram elasticidade na adaptação às dinâmicas que vêm ocorrendo no Século XXI”. “Tenho a certeza que o INESC não existiria hoje se não tivéssemos caminhado nesta direção, que trouxe, além disso, um bónus valiosíssimo: uma plêiada de dirigentes institucionais que caminharam o seu caminho, tomando as suas decisões com plena autonomia institucional”, adiciona o docente.
“No INESC-ID conseguimos combinar investigação fundamental com investigação mais aplicada” – presidente INESC-ID
O INESC-ID foi uma das instituições que resultou desta reestruturação em 1999, recebendo as pessoas mais orientadas para a investigação e desenvolvimento, como aliás se percebe pelo sufixo da sigla. “Temos orgulho em fazer investigação fundamental mas também aplicada e sempre com a perspetiva de que a realizamos com vista a ter impacto na sociedade”, garante a presidente do INESC-ID, a professora Inês Lynce.
Ao longo deste caminho de já 20 anos do INESC-ID, a professora Inês Lynce afiança que o centro de investigação tem conseguido acompanhar o legado de mérito e de investigação virada para a sociedade que lhe foi deixado pelo INESC. “Conseguimos combinar investigação fundamental com investigação mais aplicada. O INESC-ID tem até um historial de start-ups que são uma manifestação clara desse espírito”, aponta a docente. “Acredito que no INESC-ID conseguimos ilustrar a investigação no seu melhor, desmistificando o preconceito de que a investigação não tem impacto prático. Existe também um esforço real, palpável, em projetos em que participamos em parceria com empresas nacionais e internacionais”, reitera ainda. Pela investigação de ponta que realizam em “áreas que têm um impacto cada vez maior no dia a dia das pessoas”, a presidente do INESC-ID acredita que “o futuro será ainda mais promissor”.
“Os 40 anos do INESC demostram o dinamismo que a ciência e tecnologia têm em Portugal” – presidente INOV INESC Inovação
Também criado em 2001, o INOV (INESC Inovação) reuniu os grupos de Lisboa na área da eletrónica e com uma ligação mais próxima com as empresas. “O INOV herdou do INESC a cultura, o modus operandi, as virtudes, as falhas: o que permitiu que o INESC se tivesse afirmado e atingisse um elevado patamar de referência nacional e europeia”, vinca o engenheiro Fernando Moreira, presidente deste instituto. “Esta herança chega ao INOV de forma ágil por ser um spin-off do INESC e dele ter recebido um valor fundamental: a equipa técnica e científica que já fazia parte de diversas unidades funcionais do INESC em Lisboa”, defende ainda. Esta base permitiu que o INOV entrasse diretamente para “uma fase de afirmação institucional, visando o crescimento organizacional e evoluindo o modelo do INESC de uma forma mais adaptada à sua realidade: um Centro de Interface”, como explica o engenheiro. O foco em resultados foi outros dos legados que o INOV recebeu do ambiente de incubação no INESC, o que segundo o presidente do instituto , lhe permitiu encarar as adversidades que foram surgindo nestes quase 20 anos de existência.
Reiterando o impacto que a criação do INESC teve na investigação nacional, que a notoriedade alcançada pelo INESC é o reflexo da realização de casos de sucesso tecnológico nacionais e internacionais, e ainda o impacto económico desta ação, o engenheiro Fernando Moreira não hesita em afirmar que a “contribuição para a formação e treino” é na sua opinião o grande resultado da atuação do INESC e dos seus institutos. “Esta vertente de treino e formação avançada de pessoas preparou para a sociedade milhares de jovens nos diversos níveis académicos e estabeleceu uma referência para o que se deve esperar da capacidade de ação de um técnico formado na academia e treinado num instituto em ambiente para-empresarial”, justifica.
“A herança do INESC tem estado sempre presente na forma como entendemos a investigação científica”, co-diretora INESC-MN
No seguimento de uma nova reestruturação do INESC, em 2002, nasce o INESC Microsistemas e Nanotecnologias (INESC MN) que tal como relembra a professora Susana Freitas, co-diretora do instituto, “reuniu a equipa que efetivamente utilizava a Sala Limpa do INESC, uma infraestrutura única no país, construída nos anos 80, por pessoas visionárias”. A Sala Limpa tem permitido ao INESC-MN manter uma área de atividade única no país. “Esta infraestrutura tem sido mantida e atualizada com novos equipamentos industriais, e estamos muito bem posicionados para executar contratos industriais nacionais e internacionais”, explica de seguida.
“A herança do INESC tem estado sempre presente na forma como no INESC-MN a investigação científica é encarada”, como expõe a professora Susana Freitas, em particular, na forma como o instituto faz a ligação entre a universidade e as empresas. “Temos por tradição oferecer formação avançada em áreas tecnológicas de ponta, e o acesso à infraestrutura da Sala Limpa é um bom exemplo. Atualmente, a Sala Limpa e o reforço das competências de microfabricação de hardware tem sido o fator diferenciador do INESC-MN no universo INESC”, aponta a docente.
Tempos de festa, exigem votos de sucesso, e por isso mesmo, e enquanto parte desta estrutura imensa, a co-diretora do INESC-MN partilha o seu desejo de que o INESC “continue a ser uma grande instituição de referência na inovação tecnológica, com a mesma capacidade para apostar em áreas estratégicas para Portugal e ligação à sociedade, com a mesma independência e visão que sempre teve”.
Uma celebração que convida a pensar o futuro
O programa da celebração dos 40 anos do INESC é um convite lançado a empresas, academia e sociedade para pensarem os desafios do futuro. “Queremos de facto assinalar o passado olhando para o futuro, daí que o programa e as referências nos media se foquem, principalmente, no potencial futuro da instituição”, declara o professor Arlindo Oliveira, diretor do INESC e responsável pelo evento de comemoração.
A celebração estende-se aos três grandes centros universitários de Lisboa, Porto e Coimbra, onde têm sede as instituições participadas pelo INESC. Lisboa acolherá, no dia 8 de outubro, pelas 17 horas, a segunda sessão e tem como tema “a capacidade de criação de novas empresas de base tecnológica”.
O evento conta com oradores ilustres, e esta segunda-feira no Porto juntam-se à festa do INESC na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Elisa Ferreira, Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, e o primeiro-ministro, António Costa. O leque de intervenientes foi construído a pensar nas múltiplas dimensões onde o trabalho do INESC se reflete, mas muito “especialmente no tecido empresarial e académico, para os quais a instituição foi desenhada”, tal como sublinha o professor Arlindo Oliveira. “Com o passar dos anos, a atividades das diversas instituições INESC tornou-se cada vez mais focada na transferência de conhecimento, sem descurar a importância da investigação fundamental”, acrescenta o docente.
O melhor convite para o evento é mesmo o programa, que tal como salienta, o diretor do INESC “dará a conhecer, especialmente aos mais novos e àqueles que não conhecem o universo INESC, muitas das contribuições que o sistema deu e continua a dar para o desenvolvimento do país”.
As pessoas como o segredo do sucesso do INESC
Ainda que considere o sistema INESC um dos protagonistas do Sistema Cientifico e Tecnológico Nacional (SCTN), o professor José Tribolet lembra que o instituto não está só, “antes pelo contrário, nem o seu raio de ação abrange todos os domínios”, diz. Salientando que a “independência” institucional face às forças políticas e económicas sempre foi muito valorizada, o docente frisa que “a única dependência que orgulhosamente ostentamos é de fazermos parte integrante dos ecossistemas do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, do Porto e de Coimbra”. De acordo com o docente “são estas instituições académicas, bem como os nossos associados empresariais, que no seu conjunto são os ‘donos’ do INESC, têm sempre defendido e assegurado ativamente este nosso posicionamento de independência institucional”.
Para o presidente do INESC, o sucesso que marca a instituição é feito de pessoas. “Desde a fundação do INESC que a genética do código de conduta nos INESCs é o de acreditar nas pessoas, no seu potencial de querem fazer bem, mais e melhor”, declara o professor José Tribolet. “O INESC são as Pessoas que com ele se identificam. Elas é que agem e produzem e são responsáveis pelo que o INESC faz”, complementa.
Sobre a sensação de olhar para trás e perceber que ajudou a erguer um instituto coeso com um impacto muito significativo na sociedade e no futuro, o professor José Tribolet afirma sobretudo ser grato, feliz e realizado. “Diria, sem exagerar, que pelo menos 50% das ideias idiotas que tive ao longo da minha vida profissional, que vai atingir os 50 anos em novembro próximo, se concretizaram em realizações que funcionam ou funcionaram e aportaram mais-valias mensuráveis ao nosso Portugal. Evidentemente que o INESC é a principal e cujo sucesso me enche de gratidão e felicidade”, assume.
E porque a união entre o Instituto Superior Técnico é também um capítulo importante nesta história, o professor José Tribolet faz questão de expressar o seu agradecimento à escola e aos seus responsáveis ao longo destes 40 anos. “Entre muitos outras coisas, pelo facto de terem acreditado em mim e no Professor Lourenço Fernandes, quando avançámos com a proposta de criação do INESC”, remata o presidente do INESC.