Um grupo de investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica de Lisboa(ISR) vai estar diretamente envolvido na missão internacional, AMADEE-20, que irá simular as condições extremas encontradas em Marte. A missão irá decorrer entre 15 de outubro e 15 de novembro de 2020, e os investigadores do ISR terão um papel determinante no desenvolvimento dos dispositivos robóticos utilizados na mesma.
Depois de um processo de seleção que se estendeu ao longo de vários meses foram escolhidas dezasseis experiências, propostas por nove países, para integrar a missão AMADEE-20. Uma das escolhidas foi a experiência MEROP que resulta de uma parceria do Técnico e da Universidade Técnica de Gratz, Áustria. Rodrigo Ventura, José Corujeira, Rute Luz, e José Luís Silva Interactive Technologies Institute/LARSyS serão os investigadores do Técnico envolvidos nesta experiência, e cujo trabalho promete uma operação remota mais eficiente dos robôs usados para explorar o solo planetário.
A experiência MEROP consiste numa teleoperação de robôs móveis de reconhecimento usados para explorar o solo planetário (rovers). “Cabe aos investigadores do ISR desenvolver a consola de operação que tem por objetivo melhorar a eficácia da teleoperação de um robô, quando este não está em linha de vista com o operador”, explica o coordenador do grupo de investigadores, o professor Rodrigo Ventura. Esta interface multimodal que será criada pelos investigadores do ISR pode até reduzir o uso convencional de dois operadores, com uma otimização do tempo e das tarefas dos astronautas em futuras missões a Marte. “Iremos fazer um estudo comparativo da teleoperação do robô usando esta consola, em contraste com a utilização de apenas um ecrã de computador convencional”, explica o docente do Técnico.
O plano dos investigadores do ISR passa por colocar informação relevante do estado do robô em dispositivos hápticos, numa tentativa de reduzir “a sobrecarga cognitiva do operador, e, por conseguinte, tornando a teleoperação mais eficaz”, como evidencia o professor Rodrigo Ventura. Para tal, a consola do astronauta será composta por dois dispositivos: o primeiro permitirá a orientação do robô e o segundo consistirá numa luva com componentes que vibram e o astronauta sente. O trabalho será desenvolvido em colaboração a Universidade Técnica de Gratz, responsável pela construção do robô.
A equipa do ISR testará a tecnologia em pleno deserto do Negeve, em Israel, que foi o cenário escolhido para esta missão simulada. “Os testes que iremos realizar focam-se em dois cenários: um de inspeção exterior da base, por exemplo, após uma tempestade; e outra de reconhecimento de um local antes do envio de astronautas, para avaliar as condições de segurança do percurso”, adianta o professor Rodrigo Ventura. Em ambas as situações “o uso de tecnologia robótica permite reduzir a exposição de astronautas ao ambiente exterior da base”, como salienta o docente do Técnico. Um protótipo desta consola tem estado a ser testado noutros contextos, nomeadamente “num estudo longitudinal usando bombeiros do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa (RSBL), e militares da Esquadrilha de reconhecimento e inativação de engenhos explosivos (eRIEE) da Força Aérea Portuguesa”, partilha o coordenador do grupo de investigadores.
Ao todo, na missão AMADEE-20 serão feitas 16 experiências, a cargo de nove países, que incluem, além da tecnologia, áreas como medicina, biologia e geologia. Este é um projeto conjunto da Agência Espacial de Israel, do Projeto D-MARS e do Austrian Space Forum – que ficou responsável pela seleção das experiências. O professor Rodrigo Ventura é o porta-voz do orgulho e da satisfação que invade o grupo de investigadores do ISR. “Pelo que sabemos, é a primeira vez que uma equipa portuguesa participa numa missão analógica de Marte na área das tecnologias robóticas”, sublinha o investigador. Para o docente do Técnico esta escolha é acima de tudo “um reconhecimento da relevância do nosso trabalho na área da robótica espacial para exploração planetária”.