Imagine ter menos de 30 anos e acabar de ultrapassar uma das metas que imaginava cruzar no fim da sua carreira? Parece difícil – e com certeza que o é- mas é possível, que o diga Ivo Pinto, antigo aluno de Engenharia Informática e Computadores no campus do Taguspark e o mais recente Technical Leader da equipa do Chief Technology Officer da Cisco nos Estados Unidos da América. Apaixonado pela informática e pela inovação, o alumnus fez do conhecimento que adquiriu no Técnico o seu melhor aliado, e soube agarrar as oportunidades que surgiram com a determinação e a ambição certas. Na Cisco encontrou o reconhecimento e os impulsos certos para voar, e ainda que não consiga prever que voos se seguem de agora em diante, o alumnus sabe que trabalhará ao máximo para não os perder.
Engenharia Informática e de Computadores era a única opção na mente de Ivo Pinto quando se candidatou à Universidade. O gosto por computadores, por programar, e a vontade de aprender mais sobre a área estão bem guardados no seu circuito de memórias. Por volta, dos 12 ou 13 anos “já copiava uns exemplos de Java da Internet e construía servidores de jogos privados”, recorda. O antigo aluno sabe que em retrospetiva isto pode até nem parecer “nada de especial”, mas “na altura programar não era tão comum”, afirma.
A vontade de aprender esteve sempre lá, e Ivo Pinto queria mesmo fazê-lo com e como os melhores, por isso não teve dúvidas: “o Técnico é a referência académica, quando o tema é IT em Portugal”, declara. “Grandes profissionais estudaram no Técnico, e do ponto de vista académico tem um programa bastante interessante, não só focado no essencial, mas também no entendimento de como funcionam as coisas”, complementa, em seguida.
O Técnico foi a sua primeira escolha, e a segunda também, no boletim de candidatura ao Ensino Superior, uma vez que quando se candidatou, não se ficou pelo campus do Taguspark e colocou a Alameda também na lista de opções. “Eu sou de Sintra e ir até Oeiras é bastante mais confortável que Lisboa. Especialmente, sabendo que muitas vezes os projetos se alargam pela noite na altura dos exames. O campus era bastante mais novo, isso também foi um plus”, confessa, revelando que era o polo de Oeiras a sua primeira opção.
De um percurso de 7 anos, guarda-se muita coisa, mas as recordações dos momentos de trabalho, e dos companheiros com quem os dividia, evidenciam-se de todas as outras. “Lembro-me bastante bem das noitadas a fazer projetos nas ‘mesas amarelas’ do bar, especialmente o de Sistemas distribuídos e Engenharia de Software”, recorda o antigo aluno. “Sem dúvida o que mais me marcou foi o espírito de camaradagem, tenho amigos, que venho visitar a Portugal, que fiz no meu primeiro ano no Técnico. Os projetos de grupo ajudaram a criar essas relações”, refere.
Do Técnico para uma multinacional
Ainda antes de acabar o mestrado, Ivo Pinto já tinha não uma, mas duas propostas de trabalho em carteira: uma da Cisco, outra da Microsoft. A vontade de ter uma experiência internacional fê-lo optar pela primeira, uma vez que a proposta passava por passar 6 meses em Cracóvia, na Polónia. “Tive inclusive que apresentar a minha tese antes do previsto, e viajei poucos dias depois de o fazer. O meu professor Miguel Pupo Correia, foi impecável a facilitar isto”, recorda.
A experiência internacional conjugada com a entrada no mercado de trabalho traria uma dificuldade acrescida a esta primeira etapa da sua carreira. “Fui inserido numa co-hort de 21 pessoas de várias nacionalidades, onde estudávamos tecnologias da Cisco e tiramos certificações”, lembra. Ainda assim, Ivo Pinto não se deixou melindrar, e fez das ferramentas que adquirira ao longo do curso a melhor arma para superar as adversidades. “Eu tinha uma vantagem de conhecimentos técnicos, pois nem todos tínhamos um background de software”, revela. “Após este ramp-up comecei a trabalhar no serviço técnico de resolução de incidentes em tecnologias de Data Center para clientes europeus”, adiciona.
Desde os seus primeiros tempos na Cisco que o antigo aluno do Técnico ouvia falar dos CCIEs [detentores das Cisco Expert- level certifications] como “pessoas muito distinguidas e experts nos seus domínios”. “São certificações de redes que demonstram grande conhecimento em determinada vertical, tem uma componente teórica e um laboratório prático de 8 horas”, explica. Como curioso nato que é, não demorou muito até se aventurar neste caminho de aprendizagem. Começou por tirar outras certificações de nível mais baixo, mas “devido à minha alta performance, desafiaram-me a tirar um CCIE”, conta. O desafio exigiu ao engenheiro muito estudo e muitas noites em branco, mas volvidos apenas 7 meses de se ter juntado à Cisco já tinha em mãos o seu 1.º CCIE focado em Routing & Switching.
Tendo em conta a exigência destas certificações, para muitos seria então tempo de descansar e usufruir dos conhecimentos adquiridos, mas Ivo Pinto queria e sabia que conseguia mais, e rapidamente avançou para um segundo CCIE num domínio diferente, Data Center. Às 8 horas de trabalho sucediam-se 8 horas de estudo, uma exigência de rendimento que voltaria a superar com rigor e dedicação: em menos de um ano passou nos exames. “Começaram a conhecer-me internamente pelo número de certificações que tirava, e tornei-me numa das pessoas mais certificadas aqui na Europa. Eventualmente, tirei o meu terceiro CCIE, Security”, relata o antigo aluno. Existem menos de 800 pessoas no mundo com 3 CCIEs, e Ivo Pinto é um dos poucos portugueses com este número de certificações, além de ser também o mais novo de sempre a conseguir o feito.
Apesar de se orgulhar do caminho feito, o alumnus não atribui demasiado valor a estas certificações, foca-se antes no “conhecimento que se adquire ao estudar para elas”, e que considera “ser uma mais valia para ser um bom profissional”, e claro não tem dúvidas das portas que estas lhe permitiram abrir. “Ao longo deste trajeto, passei de participar em projetos de médias dimensões – por exemplo 1 milhão de euros- a liderar grandes projetos – de mais de 50 milhões de euros e com equipas distribuídas geograficamente”, salienta.
Entretanto regressou a Portugal como Consulting Engineer, mas não por muito tempo, uma vez que dois anos depois foi promovido a Solutions Architect e rumou a Madrid.
Há poucos meses, num exercício de projeção da sua carreira, Ivo Lopes perspetivou que poderia mesmo acabar a sua carreira numa equipa de Chief Technology Officer (CTO). O destino e o trabalho que tem feito trouxeram-lhe a concretização deste objetivo algumas décadas antes do que esperava. “A equipa é incrível, colegas muito inteligentes com muitos louros”, salienta. “Colaborei com alguns colegas desta equipa para um white paper, conectamos e acabei por unir-me à equipa 30 anos antes do que esperava”, partilha, em seguida e com um sorriso.
O desafio de trabalhar na empresa líder em TI a nível mundial
Na Cisco, Ivo Pinto cruza-se todos os dias com a inovação e é mesmo isso que considera como o mais estimulante do seu trabalho. “Todos os dias são o dia 0. É impossível ser o expert de algo, e viver apenas disso. Há constantemente novos desafios e novas tecnologias”, declara. Este é exatamente o ambiente profissional que enche as medidas ao antigo aluno e que mesmo se não conhecesse procuraria encontrar, e por isso “não me posso queixar”, confessa.
Entre as vantagens de trabalhar numa multinacional, o engenheiro destaca o facto de poder trabalhar em diferentes tecnologias, viajar por diversos países, e claro o reconhecimento que existe do seu trabalho e dedicação e que se reflete nas promoções que tem conquistado. Ivo Pinto assume mesmo que esta amplitude e abundância de estímulos é algo de que necessita e afirma que “sempre que acabo algo, penso no que vem a seguir”.
O antigo aluno não camufla os desafios associados a tudo isto. “Como empresa americana, estão muito focados em objetivos e menos em horas trabalhadas ou esforço. Claro que se chegamos ao objetivo, perfeito, mas também pode acontecer depois de muitas horas de esforço não chegarmos e não haver reconhecimento desse esforço”, salienta. Outro dos desafios com que de depara muitas vezes no seu dia a dia está relacionado com o fator idade. Dependendo do país e cultura não se vê com bons olhos ser muito novo, já me perguntaram que idade tinha em primeiras reuniões com clientes. Tento ignorar e mostrar o meu valor, mas é um desafio”, conta.
Mas afinal qual é a receita para tamanho sucesso numa carreira com apenas 4 anos? Ivo Lopes não sabe se existe uma fórmula, ou se a que tem funciona para todos, no entanto, “para mim foi 50% trabalhar em projetos relevantes, e ao mesmo tempo tentar sempre participar em projetos maiores e maiores”, revela. “Os outros 50%, sem dúvida, foi poder colaborar com colegas melhores que eu e aprender com isso. Tirar proveito da possibilidade de conhecer pessoas mundialmente, e aprender com as suas habilidades. Não há nada melhor do que aprender com os melhores”, complementa.
As variadas conquistas não lhe restringem os sonhos, como se percebe no seu discurso, e o antigo aluno do Técnico está neste momento a trabalhar com uma editora num livro que deverá ser lançado no próximo ano. “Após tanto estudo, quero partilhar o meu conhecimento com outros”, vinca. Quanto ao percurso profissional propriamente dito, Ivo Pinto não consegue adivinhar o que se segue, ou onde estará, visto que “a minha carreira tem mudado drasticamente a cada 2 anos”. Ainda assim, acredita que o seu trajeto continuará a passar pelo sector de IT. “Espero contribuir para o desenvolvimento do futuro das redes de computadores, através de patentes ou definição de standards. Estou no sítio certo para isso”, declara com toda a convicção.
Ainda que o percurso seja exímio, se pudesse voltar atrás o alumnus faria coisas diferentes, não fosse ele um jovem que gosta de fazer render a aprendizagem amealhada. “Algo que aprendi e que no início da minha carreira não acreditava tanto é que habilidades técnicas não são tudo. Por exemplo, há que saber apresentar, se não é difícil ganhar o buy-in de outras pessoas para uma ideia inovadora”, sublinha.
O leque de ensinamentos permite também a Ivo Pinto desmistificar algumas ideias sobre uma carreira numa empresa com presença mundial e garante “é mais fácil que o Cálculo Diferencial II do Técnico”. “Acreditem em vocês, e aceitem desafios mesmo que não saibam tudo. Agora mais que nunca é difícil saber tudo, há simplesmente muitas tecnologias e ferramentas, mas com boas bases de conhecimento tudo sai bem”, aconselha aos alunos do Técnico que, como ele, sonham voar alto.