As perguntas quase não são necessárias para conhecer o percurso de Joana Rosado, antiga aluna do curso de Engenharia e Gestão Industrial no campus do Taguspark e atualmente gestora de projeto na ASML. É uma líder nata e isso denota-se também na forma como comanda a narrativa da sua história, sem hesitações, ciente do caminho que fez, e do mérito que tem por ter voado sempre ao mesmo nível que os seus sonhos a impeliam a fazer. Há mais de 5 anos na ASML, onde já exerceu vários cargos, o atual como Gestora de Projeto, fala dos vários desafios que tem em mãos, com o entusiasmo do primeiro dia, e com a certeza que este é incentivo certo para continuar a crescer.
Joana Rosado tinha apenas 7 anos quando um desafio profissional lançado ao seu pai, também engenheiro do Técnico, mudou a sua vida por completo. A oferta de um lugar numa empresa na Holanda implicaria uma mudança radical para toda a família. A antiga aluna do Técnico não tem dúvidas de que este episódio lhe abriria as portas do mundo – as mesmas que depois não deixou que se fechassem. “Tive que aprender Inglês como se fosse a minha primeira língua, e Holandês como segunda. Tive que fazer novos amigos, adaptar-me a uma cultura diferente num país novo. Lembro-me de ter colegas de várias partes do mundo: Coreia do Sul, Egipto, África do Sul, Canadá e de sempre ter achado esta multiculturalidade fascinante, e de me sentir atraída por isso”, relata. Ao fim de 3 anos, o seu pai seria novamente desafiado a mudar de país, desta vez para o Brasil. O verbo mudar e tudo o que pressupõe deixaram, a partir de então, de lhe causar estranheza.
No Brasil, onde viveu 5 anos, a alumna continuou o seu percurso numa escola internacional com colegas de diferentes culturas e origens. “Durante os meus anos de escola sempre tive mais afinidade e gosto pela matemática, física e artes. Isto, porque eram disciplinas em que me sentia desafiada não só pela componente lógica e de resolução de problemas, mas também pela criatividade exigida”, recorda Joana Rosado. Mais tarde aperceber-se-ia de que esta componente de desafio é fulcral “para que eu própria tenha motivação para dar o meu melhor”, confessa.
Quando teve que decidir o rumo a seguir no Ensino Superior, já em Portugal – onde concluiu o ensino secundário – a Engenharia pareceu-lhe logo a escolha mais indicada. “Olhando para trás, está claro que a decisão esteve ligada à imagem e peso que a vida e carreira do meu pai, que estudou Engenharia no Técnico, tiveram sempre para mim”, garante. A decisão sobre qual dos ramos seguir já não seria uma escolha tão fácil: “sentia que não me queria especializar num só ramo e procurava por isso algo mais abrangente e que me desse maior liberdade de escolha no mercado de trabalho”. Foi na perseguição desta certeza que esbarrou na existência do curso que no Técnico combinava Engenharia e Gestão. “Soube logo que Engenharia e Gestão Industrial era o curso perfeito para mim”, conta.
Recorda- se do Técnico como uma autêntica montanha-russa, “com altos e baixos, curvas repentinas que nos apanham de surpresa e muita aventura”. “Lembro-me vivamente da exigência académica e das muitas noitadas de estudo na biblioteca do campus do Taguspark. Lembro-me também dos vários projetos e apresentações em equipa, e nesses anos criei várias amizades que ainda hoje mantenho”, partilha. De acordo com Joana Rosado , “a experiência de um curso de Engenharia do Técnico expõe-nos a vários momentos de provação pessoal, que de uma forma ou outra, contribuem sempre para o desenvolvimento de algumas características pessoais determinantes para o futuro”.
Prudente por natureza, ainda estava a começar o percurso no Técnico e já pensava nas oportunidades que a esperariam quando terminasse. Por ter feito o curso em plena crise económica, ponderou desde o primeiro ano se o seu futuro profissional passaria por Portugal ou residiria além-fronteiras. “Tal como até então, o meu crescimento e as minhas próprias experiências como filha de alguém com uma carreira internacional foram determinantes nas diversas decisões que me trouxeram aqui”, denota. “Na altura, a comparação entre o cenário que me esperaria em Portugal e as várias oportunidades a que estaria exposta fora do país pareceu-me inevitável – e essa escolha permaneceu comigo durante todo o meu curso”, acrescenta.
O sonho de uma carreira internacional que perseguiu com determinação
Uns anos mais tarde, durante o mestrado, decidiu que deveria fazer a dissertação já no estrangeiro, percebendo que essa decisão a aproximaria do seu objetivo de trabalhar fora. Durante semanas, e depois de uma intensa pesquisa nos sites das universidades de Engenharia de referência da Europa, descobriu que “duas grandes faculdades na Holanda estavam a organizar Feiras de Trabalho onde várias empresas especializadas no ramo das engenharias estariam presentes”. Não hesitou em “voar” até às oportunidades.
“Visitei duas faculdades, a TUe Eindhoven e a TUe Delft. Se dissesse que falei com quase todas as empresas que estavam presentes nessas feiras, não estaria a exagerar”, recorda. A apresentação a cada uma dessas empresas não variava muito, mas refletia a sua determinação: “Olá, sou a Joana e voei desde Portugal para estar aqui hoje a falar consigo! Estou à procura de uma oportunidade para escrever a minha Dissertação de Mestrado e estou disposta a ir para qualquer canto do mundo”. Voltou para casa com centenas de cartões de visita, a que rapidamente deu uso:“contactei todas as pessoas com quem tinha interagido durante as feiras para enviar o meu CV e a dar ênfase ao meu objetivo. Passadas algumas semanas e algumas trocas de emails, recebi uma proposta final para fazer a minha tese numa empresa holandesa chamada VDL ETG, sediada em Eindhoven”, relata.
Em fevereiro de 2015, Joana Rosado rumava aos Países Baixos para dar início ao desafio. “Mal atualizei o meu LinkedIn, comecei a receber vários contactos de recrutadores holandeses com ofertas de trabalho. Na altura, confesso que estranhei estes contactos, uma vez que ainda nem tinha terminado o curso. Acabei por pedir para me contactarem passado uns meses, quando já tivesse terminado a tese”, relembra. Quando esse momento chegou, não esperou que se lembrassem de si, tomou ela as rédeas do assunto e retomou o contacto com um desses recrutadores a indicar que agora sim estaria interessada numa oportunidade para ingressar no mercado de trabalho Holandês. “No dia seguinte estávamos a ter uma entrevista por Skype, onde o recrutador me explicou que tinha uma vaga para Industrial Engineer numa empresa chamada ASML, que na altura ainda não me era conhecida”, conta.
Rapidamente descobriria que a ASML é uma empresa holandesa B2B, líder mundial em inovação na indústria dos semicondutores, fornecendo aos maiores fabricantes de chips do mundo tudo o que precisam (software, hardware e serviços) para produção em massa de padrões em silício através de litografia. “Esta é uma empresa de grande dimensão, onde trabalham mais de 20.000 pessoas de 123 diferentes nacionalidades e resultados na ordem dos 10 mil milhões de euros por ano”, afirma a alumna. “Este era sem dúvida o sítio certo para mim, e que correspondia com a minha ambição de seguir uma carreira internacional”, garante. Dois dias depois tinha uma entrevista na ASML, e ao fim de três dias assinava o primeiro contrato de trabalho.
A capacidade de transformar obstáculos em oportunidades
Iniciou o seu percurso na ASML no departamento de Investigação e Desenvolvimento(I&D) como engenheira industrial, onde pode pôr em prática “a minha capacidade de relacionar vários conhecimentos e disciplinas na resolução dos desafios que me eram colocados”, frisa. “Reconheço que esta capacidade de integração de conhecimento científico, tecnológicos e de gestão foram adquiridos durante a minha formação no Técnico, e foram fulcrais para o meu sucesso nesta posição: os meus estudos ajudaram-me a lidar com questões complexas onde existe um elevado grau de incerteza e planos de entrega extremamente agressivos”, realça.
Ao fim de dois anos de muita aprendizagem, colaboração com diversos colegas em múltiplos departamentos e diferentes especializações e viagens pelo mundo fora a visitar clientes, Joana Rosado começou a ser invadida pela sensação de que retirara tudo o que podia desta posição. “No fundo, senti novamente que precisava de um desafio que já não estava presente no meu dia-a-dia, para continuar a alimentar a minha motivação”, declara.
Sem hesitar começou a explorar outras posições, ainda em I&D: uma mais técnica e especializada, outra mais focada em planeamento e gestão de pessoas. “Ao analisar as opções, tornou-se claro para mim que o meu gosto em trabalhar com pessoas e as minhas competências técnicas eram concretizadas através de cargos de liderança, que envolvessem a gestão de sistemas/organizações de elevada complexidade – pessoas, datas, trabalho e execução, planeamento e ajuste”, expõe.
Por isso mesmo, assim que percebeu que havia uma vaga para liderar a equipa de Automatização do projeto em que estava inserida, não hesitou em mostrar interesse e candidatar-se. “É importante frisar que estou a falar de uma indústria e, no meu caso específico, também de um departamento onde infelizmente a massa feminina é baixa. Ainda para mais, na altura com 26 anos- o que também não visava a meu favor, visto ser considerada muito jovem e inexperiente”, sublinha.
Ainda assim não se deteve nas aparentes barreiras e decidiu fazer o seu “pitch” para as pessoas-chave, que na verdade tinham poder e maior peso na decisão final. “Expliquei a minha visão para a equipa, que processos estavam em falta ou que precisavam de particular atenção, e de como ajudaria a equipa a fechar esses ‘gaps’”, recorda. Após uma série de entrevistas, a boa notícia bater-lhe-ia à porta: tinha sido escolhida. “Acabei por mais uma vez compreender que apesar dos vários obstáculos que se pareciam levantar à minha frente, a minha ambição, determinação e capacidades foram reconhecidas e, consequentemente, foi novamente feita uma aposta no meu potencial! Isto cimentou a minha visão e maneira de contemplar a vida, transformando obstáculos em oportunidades”, frisa.
Ao longo dos dois anos em que liderou a equipa, a sua equipa passou de 7 para 25 membros. “Conseguimos introduzir automatização nas linhas de produção de modo a satisfazer o output necessário. Estabelecemos novos processos de desenvolvimento com todas as competências envolvidas, sempre de forma dinâmica e com um grande número de stakeholders envolvidos”, destaca. “Uma vez mais, não tenho dúvidas que as competências desenvolvidas no Técnico foram essenciais nesta aproximação e para assegurar os resultados obtidos, que permitiram mudar métodos existentes, técnicas de execução e formas de organização”, realça. Consequentemente, esta experiência deu-lhe “ainda mais motivação para continuar este meu plano de perseguir o desafio, para me sentir motivada a desenvolver-me cada vez mais neste contexto de liderança”.
O passo que se seguiu foi quase “lógico” para Joana Rosado, numa perspetiva da construção de uma carreira de gestão de equipas e projetos. Neste momento, com apenas 28 anos, é gestora de projeto de um módulo específico da nova geração de máquinas a serem desenvolvidas pela ASML. “Tenho uma equipa de cerca de 70 pessoas e a responsabilidade de coordenar o desenvolvimento e a entrega deste módulo, a integrar como parte do produto final”. “Desafios não me faltam”, diz com um sorriso.
Os segredos de uma carreira de sucesso
A gestora de projeto acredita que nesta carreira de sucesso tem sido crucial a capacidade de “perceber o meu propósito”. “Isto requer um constante exercício de introspeção – onde dou um grande peso à humildade e frieza necessárias para a autocrítica – para efetivamente perceber o que me motiva e porquê”, defende. Para a alumna “este auto-conhecimento é determinante e revolucionário pois dá-me mais controlo sobre os meus próprios comportamentos, ambições e o que me traz satisfação, e permite-me ajustá-los conforme seja necessário e de acordo com o contexto”, afirma.
“Be a doer, not a thinker” –a antiga aluna do Técnico confere especial ênfase a este lema, porque quando pensa o seu percurso sente que se fosse mais thinker, não teria chegado onde chegou. “Com os obstáculos todos que sempre surgiram à minha frente, tenho noção de que teria provavelmente ficado num ‘limbo de indecisão’ se em vez de agir com base no que me parece correto, me tivesse perdido em discussões introspetivas”, declara. “Dessa forma, também devo dizer que confio nos meus instintos, e na minha capacidade de decisão – e é também com base neles que atuo”, garante.
Ter e trabalhar num plano de curto e longo-prazo, com o objetivo de ter presente uma direção clara, é também, na opinião de Joana Rosado, crucial para quem quer construir uma carreira sólida e de sucesso. “Isto permite focar a atenção e os esforços no que efetivamente resulta na concretização do plano”, salienta. Neste processo “ser aberto e flexível a mudanças- e também dinâmico na hora de nos ajustarmos- contribui para a noção de que um plano é apenas isso – um plano – e de que os mesmos não têm que ser fixos: estão sujeitos a mudanças”, tal como evidencia a alumna.
Joana Rosado acredita ainda no poder que as ligações têm numa carreira, e por isso procura relacionar-se “sempre com pessoas que me inspiram a continuar a aprender”. Vê com bons olhos e adivinha muitos benefícios na abertura do mundo empresarial aos contactos informais com membros da gestão executiva das empresas, propiciando a criação de redes de contactos e troca de experiências entre os seus recursos humanos. Ela própria fomenta esta prática no seu quotidiano: “de vez em quando combino uma reunião informal com colegas em cargos executivos da ASML com os quais sinto maior afinidade ou me inspiram pelo percurso que tiveram na empresa”, conta. Muitas vezes constata que o convite origina alguma surpresa em quem recebe, mas sempre sentiu total disponibilidade do outro lado. “Este tipo de ações também permite alargar a rede de networking, o que acredito ser fundamental para uma carreira de sucesso”, vinca.