A 4ª edição das Jornadas do Técnico, organizada pela Assembleia de Escola, realizou-se nos dias 17 e 18 de novembro, no Centro de Congressos do Instituto Superior Técnico – Campus Alameda. Ao longo dos dois dias, houve espaço para diálogo, partilha e várias reflexões entre diversos painéis e respetivo público. O evento destinou-se a toda a comunidade: técnicos e administrativos, docentes, investigadores e estudantes.
A presente edição teve como tema central “O Amanhã no Técnico”, e abordou temas como o bem-estar, a importância das competências e da formação, e os desafios colocados pela aplicação da Inteligência Artificial (IA) no ensino e na investigação, os modelos de ensino e o papel dos Núcleos de estudantes na estrutura da Escola. A Assembleia de Escola recorreu a seis painéis constituídos por docentes, investigadores, estudantes e funcionários do Técnico, reforçando a ideia que Maria Teresa Duarte, Presidente da Assembleia de Escola, deixou na abertura do evento: “o futuro do Técnico deve ser construído com a voz de todos”.
Na sessão de abertura, Rogério Colaço, Presidente do Instituto Superior Técnico, começou por dizer que “estas Jornadas tratam o futuro da instituição e que todos os painéis são determinantes para essa discussão”. Acrescentou ainda que “o mundo em que vivemos está numa transformação muito profunda e somos sortudos porque estamos a viver a quarta revolução – causada pela inteligência artificial – visto que depois de todas as revoluções a humanidade ganhou”. O Presidente do Técnico deixou um desafio para que “mantenham a vossa literacia sobre esta temática atualizada, para não perdermos o comboio e não deixarmos de perceber o que está a acontecer”.
Este foi um dos grandes temas das Jornadas. De que forma é que a IA vai mudar ou já está a mudar na sociedade? Quais os desafios, principais preocupações, novos métodos, novas soluções? O debate foi marcado pela consensualidade do tema, alertando sobretudo para a educação e investigação, com especial atenção para a rápida adaptação às novas tecnologias e tudo o que isso acarreta nos processos de aprendizagem. Maria Teresa Duarte, defende que é “importante apostar no desenvolvimento de novas competências”, enquanto o Presidente do Técnico alerta que “não podemos dotar os estudantes de competências da mesma forma que se capacitavam há 25 anos atrás, sendo um processo tanto de docentes como dos estudantes”.
No painel dedicado à IA aplicada ao Ensino, Arlindo Oliveira, docente do Técnico e investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvimento em Lisboa (INESC-ID), defendeu que a IA “vai de facto alterar profundamente a forma como se ensina e como se aprende”. No entanto, diz que “ainda estamos no princípio do uso desta ferramenta”, alertando para os prós e contras quanto à utilização da IA no ensino. “Há um artigo publicado sobre o ensino da física que mostra que os alunos aprendem melhor e mais eficazmente com inteligência artificial, mas também há artigos que mostram alguma atrofia cognitiva quando os alunos dependem excessivamente da inteligência artificial”, descreveu. Defendeu ainda que a inteligência artificial “deve ser usada para fomentar a aprendizagem, e não para a substituir”.
Quanto ao impacto da IA na sociedade, Andrea Costigliola, Head of Global IT Analytics na Ferring Pharmaceuticals e alumni do Instituto Superior Técnico, deixou três pontos a ter em conta. A inteligência artificial pode expandir fronteiras na inovação, aumentando as áreas de aplicação, levando a avanços contínuos. É importante dominar a tecnologia para maximizar a sua utilidade, mas sempre de acordo com princípios éticos. Por fim, a IA pode levar a uma revolução nas competências e no trabalho, redefinindo funções tradicionais e criando novos desafios no mercado de trabalho. No mesmo sentido, podem surgir novas oportunidades para universidades e empresas desenvolverem novas competências. Deixou ainda um apelo para que “aumentem a literacia tecnológica para quem não tem um domínio das tecnologias”.
Susana Vieira, docente no Técnico e investigadora no Instituto de Engenharia Mecânica (IdMEC), alertou para os perigos do uso da inteligência artificial e que “infelizmente, é vista pela sociedade como uma ferramenta que serve para tudo”. Neste sentido, apontou que “devemos ter equipas multidisciplinares para que não dependamos de uma ferramenta para resolver qualquer problema”. Na sua intervenção trouxe à discussão aqueles que podem ser os desafios técnicos e éticos da utilização da inteligência artificial na indústria. Alertou para o FAIR data (acessibilidade dos dados), para a qualidade desses mesmos dados, para a privacidade e cibersegurança e para o impacto que pode ter na gestão de cada empresa e/ou indústria.
Do Bem-Estar ao papel dos núcleos de estudantes
“Num mundo em constante mudança e com um ritmo cada vez maior, é necessário desenvolver e promover atividades de bem estar a toda a comunidade”, explicou Ana Lucas, Coordenadora da Área de Bem-estar e Desenvolvimento de Pessoas do Técnico. Apresentou o Plano de Bem-estar, dirigido a todos os trabalhadores do Técnico, que se assume como “um elemento agregador de atividades organizadas pela Escola”, completou. O Plano atua em seis áreas estratégicas: saúde laboral, desporto, saúde alimentar, saúde mental, ser Técnico e responsabilidade social. Entre os vários painelistas estiveram Ana Prata, professora convidada e integrante da equipa de coordenação do ensino em empreendedorismo, inovação e transferência de tecnologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e Marta Almeida, Vice-Presidente do Técnico para a Gestão do Polo de Loures. Ana Prata apresentou o projeto “Ciências em Harmonia”, um projeto-piloto com financiamento europeu para a promoção de bem-estar e saúde mental na comunidade académica. Já Marta Almeida apresentou a candidatura do Técnico à obtenção do selo Human Resources Strategy for Researchers – HRS4R, atribuído pelo EURAXESS – Comissão Europeia a instituições que definem um conjunto de medidas para melhorar as práticas em recursos humanos na investigação, em alinhamento com os princípios da Carta Europeia dos Investigadores.
No seguimento do tema do Bem-estar, na mesa redonda “Competências e formação como factor diferenciador na carreira”, foram apresentadas várias perspectivas sobre evolução e desenvolvimento de carreira. Tendo em conta as diferentes qualificações e experiências, foram partilhadas estratégias para potencializar o desenvolvimento de carreira, seguindo um conjunto de competências técnicas e humanas. Gonçalo Moura, Coordenador do Núcleo de Desenvolvimento Académico do Técnico, considera “as relações como principal campo de treino destas competências”. Abordou-se ainda o impacto da satisfação no trabalho e a realização pessoal no desenvolvimento de carreira.
Num painel misto, composto por corpo docente, investigadores e por estudantes do Técnico, a discussão da mesa centrou-se no Modelo de Ensino do Técnico. Entre as várias questões debatidas, analisou-se a forma de potenciar as capacidades dos professores em transmitir conhecimento e de os estudantes absorverem esse mesmo conhecimento.
Na discussão “O papel dos núcleos de estudantes/Associativismo na formação académica”, foi abordada a importância dos núcleos de estudantes e do associativismo como elementos complementares da formação. Sabendo da existência dos variados núcleos do Técnico e da multidisciplinaridade dos desafios constantes, João Paulo Monteiro, professor, investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa) e alumni do Técnico que já liderou um dos núcleos, considera que “naturalmente os núcleos abriram-se a todos os cursos”. Fernando Lau, docente do Técnico, afirma que “é importante a divulgação da própria instituição” e que “a visibilidade da universidade junto da comunidade fora do Técnico tem sido feita, em grande parte, pelos núcleos”. Considerou ainda que o trabalho desenvolvido pelos estudantes nos núcleos pode ser uma porta de entrada em empresas com quem trabalham diretamente.