A intriga e o suspense que pautam toda a história de “Detective Story”- um dos jogos que integra a Montra de Jogos do Técnico (MOJO) 2019 – não deixam descolar os olhos do ecrã do computador e retirar os dedos dos comandos. A história em torno de um homicídio que ocorre durante viagem de barco vai agarrando a cada nível, e o jogador é desafiado a ser o inspetor que desvenda o verdadeiro assassino. Este é apenas um, dos 18 jogos que foi possível encontrar na 12.ª da Montra de Jogos do Instituto Superior Técnico (MOJO) que teve lugar esta terça-feira, 28 de maio, no campus Taguspark.
Ao longo da história e com a descoberta de pistas, “Detective Story” permite ao jogador estabelecer diálogos com testemunhas e hipotéticos culpados, até encontrar o culpado. “A ideia já vinha de uma cadeira anterior, mas esta versão que apresentamos, hoje, tem várias mudanças” explica Miguel Cunha, um dos elementos do grupo que concebeu o jogo “Temos recebido um feedback muito positivo. As pessoas estão a adorar a arte, todas as dinâmicas de jogo, o desenvolvimento da história e o contacto com as personagens”, evidencia Miguel Cunha. Para já, o único defeito apontado ao jogo é a extensão da história, e se isso será importante para ajustes futuros, Miguel Cunha não podia estar mais feliz por perceber o efeito gerado nos jogadores. “Conseguimos algo muito importante no jogo: agarrar. Perceber que o conseguimos já é uma grande conquista”, reitera o aluno.
Das 18 equipas presentes nesta edição, 14 delas foram formadas nas unidades curriculares de “Metodologia e desenvolvimento de jogos” e “Design de jogos”, sendo a presença na MOJO um dos critérios de avaliação. “Os alunos vêm para mostrar o jogo, mas também para recolher feedback dos alunos que testam os jogos, e com base nisso fazerem alterações para melhorar a versão final”, explica Diogo Rato, aluno de doutoramento e um dos responsáveis pela organização do evento. As restantes 4 equipas que marcaram presença, fizeram-no por iniciativa própria, mas vieram à procura do mesmo. São na maioria antigos alunos que após as unidades curriculares continuaram a desenvolver as suas ideias e pretendem testa-las junto de quem gosta e sabe. “Em Portugal não há muitos sítios em que se consiga expor os jogos à comunidade, há alguns encontros só para developers, mas não há tanto para estudantes e para o público em geral”, assinala Diogo Rato.
Na MOJO há jogos para todos os gostos e sempre com um desafio implícito. As mesas estão repletas de atrativos – rebuçados, bolos e cartazes – mas a maioria das abordagens feitas é mesmo e só para jogar. Depois de uma explicação por parte das equipas, dá-se a descoberta dos atalhos de jogo, dos truques para somar pontos, das etapas a ultrapassar, e na maioria das vezes os jogadores não se vão embora enquanto o “Game Over” não chega. O processo é sempre temperado com muita admiração e vários comentários, na sua maioria espontâneos, repletos de muito sentido crítico e vontade de ajudar a melhorar.
Este ano, e como se perceciona na qualidade visual dos jogos, a colaboração com a Faculdade de Belas Artes esteve ao acesso de todos os grupos. “Enquanto em anos anteriores não conseguimos garantir que todos os grupos das cadeiras tinham uma parceria com Belas Artes, este ano conseguimos isso e a imagem dos jogos reflete-o”, destaca Diogo Rato. Além do notório gosto pela área de jogos, é exatamente nas equipas multidisciplinares que desenvolvem os jogos que está o segredo para a agitação e euforia gerada pelos mesmos. “Temos equipas com competências transversais e com ideias muito boas”, declara o responsável pela organização da MOJO. “É engraçado ver o entusiasmo que o evento gera na comunidade, e há até quem se lembre de alguns jogos que já tinham testado em edições anteriores”, frisa ainda o aluno de doutoramento.
No meio de tantos jogos digitais, o jogo de tabuleiro de Miguel Ribeiro, também aluno do mestrado em Engenharia Informática com especialização em jogos e prestes a terminar o curso, chamava à atenção. “Por ser o único jogo de tabuleiro da MOJO, as pessoas ficam curiosas, param, e querem experimentar”, partilha. O aluno de mestrado começou a trabalhar no jogo no âmbito também de uma cadeira e acabou por nunca mais largar a ideia. Partindo da experiência que tinha na matéria enquanto jogador criou um jogo de fantasia medieval: o “Confront”.
Miguel Ribeiro tem esperança que em breve este tabuleiro onde há dragões, gigantes, soldados, arqueiros e magos possa estar na casa dos adeptos deste tipo de jogos e está já a trabalhar para isso. “Cada ano que passa saem mais de mil jogos novos de tabuleiro. É por ser uma indústria em claro crescimento, estou a ver se consigo lançar o Confront para o mercado. Tenho estado em contacto com várias empresas”, anuncia. Para já e enquanto isso não acontece, o jogo vai conquistando adeptos na MOJO.
A equipa que desenvolveu o “Detective Story” também pretende continuar a investir no jogo. “Facilmente no próximo ano repetiríamos a nossa participação na montra, mesmo sem ser obrigatório, porque é muito bom, de facto, podermos perceber onde podemos trabalhar mais o nosso jogo e levá-lo depois para o mercado”, afiança Miguel Cunha. Para o aluno do Técnico “nos últimos anos, os jogos têm-se estado a impor no mercado, e a área tem-se mostrado como uma possível oitava arte. Por isso mesmo, e não descartando um futuro na área, Miguel Cunha afirma a importância de continuar a haver esta promoção de eventos. “Em Portugal há muito pouco desenvolvimento nesta área, e é algo que nem se percebe bem porquê temos muito bons engenheiros informáticos”, assinala o aluno do Técnico. “Existe cá talento e é o que estas monstras de jogos normalmente conseguem mostrar”, conclui. Pelo que se viu e pôde jogar não podíamos estar mais de acordo.