Mostrar o mundo da engenharia e das tecnologias, dar voz e palco a exemplos de sucesso nestas áreas, desmistificar e desconstruir ideias que sobrevoam as áreas profissionais e de conhecimento associadas à Engenharia e às Tecnologias são apenas alguns dos objetivos do projeto “Engenheiras por um dia”. No âmbito desta iniciativa e indo ao encontro de todos estes objetivos, realizou-se na quinta e sexta-feira passadas, 25 e 26 de junho, o ciclo de workshops online “Raparigas nas Engenharia e Tecnologias”. O Técnico esteve representado nas várias sessões que compuseram o programa do evento através das professoras Beatriz Silva, docente do Departamento de Engenharia Mecânica(DEM) e coordenadora do grupo Gender Balance @Técnico, Marta Fajardo, docente do Departamento de Física (DF), e Teresa Duarte, docente do Departamento de Engenharia Química(DEQ).
As docentes do Técnico dividiram o ecrã do evento com representantes de outras universidades e várias profissionais de empresas, partilhando experiências e fazendo notar a realização profissional que encontram nas áreas em que trabalham. As muitas dúvidas sobre as saídas profissionais e a abrangência das várias áreas, foram supridas pela experiência das oradoras e preenchidas com boas doses de inspiração. Tendo como público-alvo jovens do 3.º ciclo e secundário, o evento foi uma forma de encerrar com chave de ouro o ano letivo dos participantes, abrindo os seus horizontes para áreas como a Engenharia Informática, a Engenharia Biológica, a Física-Tecnológica, a Engenharia Aeroespacial e Mecânica e a Engenharia Química.
“Foi extremamente interessante ver a perspetiva dos jovens, rapazes e raparigas, interessados na engenharia, cujas perguntas realçavam a importância da componente de aplicações ao mundo real” afirma a professora Marta Fajardo, em jeito de balanço desta sua participação no ciclo de workshops. “Também foi muito iluminador ver as outras engenheiras a explicar os seus percursos e carreiras, e como desenvolveram outras expressões apaixonantes de como ser cientista, da investigação pura à gestão e comunicação. Gostei imenso”, adiciona. Para além da partilha de experiências profissionais, a docente do Técnico recorda que houve também houve lugar para “excelentes conselhos de vida, em relação ao entusiasmo com a ciência, a resiliência, a mais-valia da engenharia”. A vasta experiência internacional da professora Marta Fajardo serviria de incentivo às várias das perguntas que lhe foram direcionadas sobre os lasers em que trabalhou em França. Sendo a representante da física ‘de serviço’, falou também de relatividade, um tema que como a própria aponta “fascina os jovens”. “Os mais novos fazem perguntas espetaculares – e as mais difíceis de responder”, refere a docente.
As perguntas e a viagem que a curiosidade dos participantes convidam a fazer, assim como a capacidade de contactar- e ajudar a resolver- as dúvidas dos jovens tornam estes painéis também extremamente enriquecedores para os oradores. “Gostei imenso de participar, foi interessante perceber as dúvidas que existem em relação à Engenharia”, partilha a professora Beatriz Silva. Protagonista da sessão dedicada a “Engenharia aeroespacial e Mecânica”, a docente elogia o “painel diverso e interessante” que integrou. “Acho que essa diversidade também valorizou muito a partilha de experiências”, enfatiza.
Também a professora Teresa Duarte revela que foi “muito positivo e interessante participar no evento”. “As questões que as alunas do 8.º ao 11.º colocaram foram muito engraçadas e ficamos a perceber o modo como elas, e eles, pensam no seu futuro”, destaca, ainda. De acordo com a docente do DEQ “hoje em dia, e cada vez mais, as jovens escolhem livremente o que querem no futuro”, mas ainda assim há ideias que importa clarificar para que esta escolha seja o mais clara e informada. “Uma das ideias que se tem de combater é a de que na Engenharia não há interação com as pessoas, com a sociedade. Há muitas jovens que vão para Medicina ou Enfermagem ou mesmo Ciências Sociais, porque se sentem como ‘cuidadoras’ e querem ter uma intervenção direta com as pessoas e o meio que as rodeia”, aponta a professora Teresa Duarte. “Ora, a Engenharia faz isso mesmo e tem uma enorme intervenção Social. Espero que esta mensagem chegue a todos, elas e eles”, frisa de seguida a docente.
O curso de Engenharia Química é, aliás, um bom exemplo da ideal igualdade de género numa área de conhecimento. “No Técnico, o curso de Engenharia Química teve desde sempre a percentagem certa, 50% de cada género”, declara a professora Teresa Duarte. Há, também, outros cursos da área das Engenharias que têm vindo a cativar cada vez mais jovens, nomeadamente a Engenharia Biológica e a Engenharia Biomédica. Esta tendência de ingresso de jovens raparigas em “em cursos que se pensava serem menos ‘próprios’ para mulheres” tem vindo a aumentar, tal como destaca a docente do Técnico, manifestando o seu agrado para com este facto e a capacidade de contrariar estes estereótipos.
A professora Beatriz Silva não deixa de salientar que “a sociedade continua a rotular certas áreas como masculinas e outras femininas” o que na sua opinião continua a afastar muitas jovens das mesmas. “Este preconceito não faz sentido existir, pois a diversidade na área das engenharias e tecnologias é enorme. Pensar, por exemplo, que Engenharia Mecânica é só carros é muito redutor e não permite que se tenha uma visão global da área e do seu impacto na sociedade”, vinca a professora Beatriz Silva.
Para a professora Marta Fajardo “normalizar a mulher engenheira é fundamental”. Lembrando o seu próprio percurso, a docente do DF evidencia também a importância de eliminar estes estigmas. “A primeira pessoa com quem conversei sobre Física a sério, era uma professora da Faculdade de Ciências; a minha primeira orientadora de trabalho científico era uma senhora francesa, num laboratório com muitas cientistas. Durante o curso tive excelentes professoras a dar alguns ‘cadeirões’. Por isso, apesar de não haver muitas raparigas no curso, achava o meu percurso perfeitamente banal”, recorda a docente. Por tudo isto, a docente “não foi tendo noção de que esse contexto era uma exceção, até alguns anos depois de começar o doutoramento”. “A minha inconsciência acabou por me proteger de muitas dúvidas”, aponta a professora Marta Fajardo, frisando que a maior parte das suas colegas não tiveram essa facilidade.
Referindo ainda que “nos testes de ‘Bias’ de Harvard é normal fazer uma associação mental entre homens e cientistas”, a docente do DF acredita que esta é, acima de tudo, uma questão de exposição. “Quanto mais mulheres engenheiras e cientistas conhecermos, menos fazemos essa associação de ideias”, conclui. Foi a este contacto com mulheres realizadas e apaixonadas pela Engenharia que estes workshops abriram caminho.
Além das três docentes da escola representaram o Técnico neste ciclo de workshops online, também as guias no Núcleo de Apoio ao Estudante(NAPE- IST), Inês Mendes e Sofia Vaz, e as embaixadoras Catarina Gomez, Carolina Santos e Maria Amorim. As alunas ajudaram a esclarecer as dúvidas sobre as áreas de estudo de cada curso e as saídas profissionais que esperam os jovens estudantes em cada uma das engenharias.