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O impacto da hipóxia intratumoral nas metáteses do cancro da mama demonstrado por Inês Godet

A antiga aluna do Técnico e investigadora na Johns Hopkins University foi a oradora convidada para mais uma palestra promovida pelo American Corner @Técnico.

Inês Godet, antiga aluna do Técnico e atualmente doutoranda e investigadora na Johns Hopkins University, foi a convidada de mais uma palestra promovida pelo American Corner @Técnico. A palestra intitulada Fate-mapping intratumoral hypoxia to determine its role in metastasis”, decorreu no passado dia 2 de dezembro, na plataforma Zoom, e cativaria mais de duas dezenas de participantes, entre os quais estavam alunos, docentes e investigadores do Técnico. Apesar da distância ditada pelo formato digital, o evento simbolizou um regresso a casa de uma talentosa alumna, que começaria no Técnico a erguer os pilares do conhecimento que pretende usar para ajudar a combater o cancro da mama.

Começando por explicar o que é a hipóxia- privação de oxigénio- a oradora daria alguns dados que ajudariam a audiência a perceber a importância dos contributos científicos nesta área. “O cancro da mama desenvolver-se-á numa em cada oito mulheres ao longo da sua vida”, realçou.  Referindo que apesar de este ser um dos ‘bons cancros’ porque se for apanhado na fase inicial, pode realmente ser curado, a investigadora demonstrava os riscos e as percentagens preocupantes no caso do cancro da mama metastático. “É por isso que precisamos realmente de passar algum tempo a estudar a metástase do cancro da mama, esperançosamente para a prevenir, mas também para a tratar”, argumentava com toda a convicção.

Através de uma tomografia computorizada do tumor de um rato, Inês Godet ajudava a perceber como as células sujeitas a condições agressivas se podem adaptar, frisando que “quando as células cancerígenas se adaptam, tornam-se mais agressivas, e é por isso que a hipóxia é uma condição amplamente estudada na investigação do cancro”.

“Assim, e apesar de estar bem estabelecido que a hipóxia é um mau prognóstico para os pacientes, e apesar de sabermos que esta condição pode regular diversos mecanismos agressivos em cancro, é ainda preciso perceber o que está, cada uma destas células, a fazer dentro do tumor primário e como contribuem para a propagação do cancro”, evidenciava a determinada altura. Ciente dessa importância, e munida de muita garra, a antiga do Técnico fez desta a questão fundamental da sua tese de doutoramento, pretendo “saber se podemos mapear células hipóxicas”.

Foi esse mesmo trabalho, o sistema que reporta quando uma célula sente um ambiente hipóxico, a metodologia em que o mesmo se decompõe, e as conclusões alcançadas que foi possível conhecer nos minutos que se seguiram. A investigadora pautou toda a sua apresentação com um rigor agradavelmente temperado com aquela boa dose de paixão que caracteriza quem cumpre um sonho.

Através de uma explicação simples e bem encadeada sobre o trabalho de investigação que tem feito ao longo do doutoramento, pincelando cada aspeto abordado com vários gráficos e imagens que o tornavam mais claro, a cientista foi sempre tentando despir a bata aos aspetos mais complexos da investigação, ajudando a audiência a perceber melhor o alcance do seu trabalho.

Posteriormente, faria questão de destacar a importância desta investigação realizada pela equipa do laboratório do Departamento de Oncologia da Escola de Medicina, e de que faz parte. “Basicamente, descobrimos que a hipóxia intratumoral é um melhor prognóstico para as pacientes com cancro da mama, quando comparada com a hipóxia que simulamos in vitro nas experiências que fazemos”, realçou.  Uma das conclusões principais do estudo revelou também “que as células pós-hipoxia são cinco vezes mais metastáticas para o pulmão”, tal como sublinhou a investigadora.  “E esperamos que, ao focarmo-nos nestas células pós-hipóxicas, possamos até prevenir a metástase ou tratá-la, pelo que é nisso que estamos agora concentrados. Estamos também a olhar para outros locais de metástase, como o fígado e o cérebro”, evidenciou ainda.

No final da apresentação foram muitos os elogios dirigidos à alumna do Técnico, e o interesse despoletado pela apresentação refletiu-se em várias perguntas. Às questões mais técnicas sobre a investigação juntaram-se algumas curiosidades, nomeadamente sobre a sua passagem pela Escola. Recordando que durante algum tempo teve algumas dúvidas se o Técnico teria sido a escolha certa mediante aquilo que se via a fazer na sua vida profissional, Inês Godet contou que acabaria por perceber “que aquilo que recebemos do Técnico é a capacidade de aprender a pensar, aprender a otimizar e tenho a certeza de que já ouviram isto antes, porque normalmente é isso que as pessoas nos dizem, mas é realmente a verdade”.  “Hoje sei que fiz a escolha certa, sem dúvida alguma. A grande vantagem de fazer um curso no Técnico é que, depois disso, podemos fazer e o que quisermos em qualquer lugar”, acrescentou.

Outra das perguntas levantadas estava correlacionada com o contraste entre fazer investigação em Portugal ou nos Estados Unidos da América (EUA), e a oradora não oscilou na resposta: “é realmente clara a diferença”. “Há muito mais dinheiro aqui e muitos mais recursos. Tenho a oportunidade de ter acesso a tudo isso, o que é espantoso, especialmente enquanto estou a aprender ao longo do meu doutoramento”, vincou. Revelando o quão interessante considera a experiência e frisando que a recomenda vivamente, Inês Godet enumeraria alguns dos detalhes que a fascinam em Hopkins. “Sei que a Europa está também a aumentar o investimento na investigação científica e isso deixa-me muito feliz”, sublinhava, posteriormente. “Talvez um dia volte para a Europa”, revelava ainda, confessando que o lado negativo deste