A partir desta segunda-feira, 13 de setembro, na galeria de Doutores Honoris Causa da Universidade de Lisboa (ULisboa) consta também o nome do professor José Fonseca de Moura. A atribuição aconteceu no seguimento da proposta do Instituto Superior Técnico, onde o docente foi aluno e professor, e por isso mesmo o palco da cerimónia de outorga das insígnias só podia mesmo ser o Salão Nobre da Escola. A audiência, os discursos, os cumprimentos, mas sobretudo as ovações que marcaram o evento demonstravam bem o impacto e valor dos contributos do homenageado.
Assumindo desde logo que a tarefa não era fácil, coube à professora Isabel Ribeiro, vice-presidente do Técnico para a Modernização Administrativa e madrinha do laureado, o elogio ao professor José Fonseca de Moura, realçando alguns dos muitos marcos “de uma longa e brilhante carreira e de serviço à comunidade”. Num discurso emotivo, e onde se denotou a admiração que detém pelo homenageado, salientou-lhe o “rigor” e defendeu que sempre pugnou “pela excelência e defendeu o mérito”.
Nas histórias que partilhou foi possível comprovar tudo isto e muito mais: reconhecer a determinação que o caracterizou enquanto aluno, primeiro no Técnico e posteriormente no Massachusetts Institute of Technology, conhecer o seu papel como “agente de mudança” quando voltou à sua escola de origem, e desde então como mentor de “gerações de cientistas e de doutores espalhados pelo mundo que cativou, entusiasmou e permitiu que voassem”. “Sempre sonhou alto, sempre soube o que queria, e sempre lutou e trabalhou para alcançar os seus objetivos”, afirmou a professora Isabel Ribeiro. Por diversas vezes, evidenciou a “profundidade do impacto que teve e tem no mundo, e que é consequência da atenção que dedica aos seus alunos”. “O seu sucesso é, como ele mesmo diz, o dos seus alunos, o sucesso dos seus alunos fá-lo feliz”, declarava a vice-presidente do Técnico.
Além de recolher a carreira académica e de investigação, a professora Isabel Ribeiro recordou que o evento servia também para “honrar e prestar tributo ao homem que sendo cientista e professor sempre se abriu aos outros, seus alunos, sempre se preocupou com eles muito para além do seu trabalho de investigação, mostrando que o conhecimento não tem que estar afastado da emoção”. E foi isso que continuou a fazer na sua intervenção, revelando a “dimensão humana ímpar”, descortinando “a enorme sensibilidade e atenção às pessoas” do docente, descrevendo-o como “visionário, muito criativo e empreendedor”, e “simultaneamente muito consciente da centralidade da relação com o outro para alcançar objetivos comuns”.
No final, todos os presentes – muitos deles beneficiários de tudo isto – pareciam concordar na íntegra, aplaudindo de pé e de forma sonante, antes e depois da imposição das insígnias de doutor Honoris Causa pelo reitor da ULisboa, professor António Cruz Serra.
A vontade de fazer mais pela investigação científica em Portugal
A palavra seria depois dada ao homenageado que salientou que “ser agraciado pela Universidade de Lisboa e pelo Instituto Superior Técnico é para mim uma honra que aceito com humildade”. Ao longo da sua alocução, foi essa mesma humildade que lhe esteve nas palavras, fazendo questão de referir que todo este caminho é “resultado mais mérito daqueles que ao longo dos anos me acompanharam, apoiaram, com quem tive o privilégio de colaborar e conviver”.
Na resenha que fez da sua carreira, começou nos tempos em que era o aluno n.º 8071 do Técnico, que definiu como uma “escola de conhecimento e rigor”, mas “sobretudo uma escola de vida”. Sobre o facto de ter voltado e permanecido em Portugal quando aqui era preciso, revelou que teve sempre um objetivo bem definido: “demonstrar que em Portugal, em particular no departamento de eletrotecnia do Técnico, se podia fazer investigação”.
Enquanto explicava as metas e valores que o orientaram neste processo, nunca esqueceu quem o acompanhou, sublinhando o mérito dos colegas e alunos que se juntaram a si no cumprimento deste objetivo. “Estes investigadores banalizaram a utopia de fazer investigação em Portugal, multiplicaram-se eles próprios em novos grupos de investigação, criaram ou ajudaram a criar novas instituições e investigação em parceria com muitos outros”.
O professor José Fonseca de Moura explicaria também porque decidiu permanecer nos EUA depois da sua sabática, num exercício de solidariedade para com os que orientara: “seria um verdadeiro empecilho para os mais jovens porque eu era catedrático e como vocês sabem os catedráticos ocupam vagas”, disse, despertando sorrisos na audiência.
Enquanto narrava este percurso, não camuflou dificuldades e deixou vários conselhos, um deles sobre o processo de investigação: “a investigação para ser interessante tem que ter duas características: tem que partir de um problema do mundo real e tem que ser interdisciplinar”, vincou, contando a história de um projeto que liderou e demonstrava o que acabara de dizer.
Acerca da sua experiência como responsável de painéis de avaliação da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), salientaria que este foi também um importante caminho em que se empenhou para “continuar o meu sonho de que se fizesse investigação de alta qualidade em Portugal na Engenharia Eletrotécnica”.
O programa CMU Portugal, também não foi esquecido, e como fora hábito ao longo da sua intervenção, voltou a dar destaque “aos diretores do programa em Portugal porque eles é que estavam no terreno, e os professores e os estudantes, tanto da CMU como em Portugal”.
Ao terminar, recordou uma das coisas que o Técnico lhe ensinou: “o sucesso advém de criar oportunidades e confiar nos mais jovens, acreditar na sua liderança para que coisas boas sucedam, foi o que fizeram comigo em altura própria”. Como bom aluno que foi e bom professor que se tornaria, e se percebeu pelos discursos e pela longa ovação que se repetiu, nunca deixou de o fazer, e não faltará quem o agradeça.
António Cruz Serra: “Foi com muito prazer que entreguei esta distinção”
O reitor da ULisboa, professor António Cruz Serra, fintaria o protocolo porque não quis “deixar escapar a oportunidade” de agradecer ao homenageado o seu papel na mudança da investigação no Técnico e em Portugal. “O país, o Técnico mudou, a investigação mudou muito por aquilo que fizeram nessa altura”, disse, estendendo as suas palavras também aos professores Carlos Salema e ao professor José Tribolet, também presentes na sala. “Temos uma dívida de gratidão para com aqueles que mais fizeram para criar as instituições privadas sem fins lucrativos que permitiram dar um salto decisivo na investigação em Portugal”. “Foi com enorme gosto que subscrevi a proposta de atribuição do doutoramento honoris causa e que foi com muito prazer que fui eu que a entregar esta distinção”, complementou.
Além de muitos colegas, filhos e netos científicos, e familiares do professor José Fonseca de Moura, fizeram questão de marcar presença nesta homenagem o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, professor Manuel Heitor, a representante da embaixada dos Estados Unidos da América em Portugal, Penny Rechkemmer, o presidente do Conselho Geral da ULisboa, engenheiro Carlos Pina, o reitor eleito da ULisboa, professor Luís Ferreira, vários vice-reitores e membros do conselho geral da Universidade, a reitora do ISCTE-IUL, professora Maria de Lurdes Rodrigues, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, engenheiro Carlos Mineiro Aires, e outras altas individualidades do mundo académico.
A cerimónia transmitida em streaming pode ser revista no canal do Youtube do Técnico.