A resposta está na ponta da língua do professor Pedro Lourtie: 1989, é esse o ano em que a cooperação do Técnico com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), tanto quanto sabe, dá os primeiros passos, em Angola. “A Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto estava com dificuldades em acabar um curso de informática e pediu ajuda ao Técnico… a partir daí, começámos a colaborar regularmente. Apoiámos alguns cursos, de formas variadas, e houve até casos em que os alunos – por serem poucos – vieram até aqui fazer algumas disciplinas.”
“Passei a ir muitas vezes a Angola, e o Técnico acabou por estabelecer vários protocolos: um deles, criado em 1995 com a Total, previa que os bolseiros da petrolífera estudassem aqui, onde tinham mais facilidade com a língua, em vez de o fazerem no Instituto dos Petróleos em França”, explica o docente que se tornou, a partir desse momento, uma das vozes mais importantes na relação entre Portugal e os PALOP a nível de Educação e Ciência.
Aliás, em 1991, quando foi Cabo Verde a pedir a colaboração do governo português na criação de cursos de engenharia do país, as atenções voltaram-se novamente para o professor Pedro Lourtie, que desde aí não deixou de tratar o arquipélago africano como uma segunda casa. “Em tudo o que fiz, sempre tive o apoio do Técnico, pelo que a escola acaba por estar muito envolvida neste processo”, explica.
E fez muito: ajudou a criar a Universidade Pública de Cabo Verde – a título de exemplo, em 2000, eram 700 os alunos a frequentar o Ensino Superior no país, hoje são 14.000 –, participou na criação de dois mestrados no Mindelo e ainda no desenvolvimento da Lei do Ensino Superior.
“Há, em Cabo Verde, um grande esforço para desenvolver a formação nas áreas da engenharia, saúde, biologia… por isso temos oportunidades para fazer muitas coisas nestas áreas, que são precisamente aquelas em que o Técnico atua”, lembra o antigo Diretor Geral do Ensino Superior em Portugal. Mas há que observar as diferenças de país para país. “Em Angola tem havido um esforço grande, ainda que inconstante, no sentido de desenvolver a investigação e a inovação, mas em Moçambique, por exemplo, a investigação é totalmente insipiente.”
Tendo essas diferenças em conta, Pedro Lourtie considera que o Instituto Superior Técnico tem muito a ganhar tendo uma abordagem mais agressiva para com estes países, garantido que teriam “um papel no desenvolvimento do país e das instituições” em que trabalhassem.
“O objetivo de tudo isto, e por isso é que eu faço questão de associar o Técnico ao meu trabalho – o Técnico é a minha casa, já lá vão 42 anos – é garantir o reconhecimento da instituição lá fora. É «fazer escola» junto dos outros países, porque quanto mais o Técnico se conseguir afirmar, maior o orgulho de cada um dos seus alunos. Trata-se de um retorno a longo prazo, que vale muito a pena.”
Testemunhos
Telma Andrade Silva,
Universidade de Cabo Verde
“Sou também docente na Uni-CV há mais de cinco anos e estudo no Técnico desde setembro de 2011, onde me encontro a terminar o doutoramento em Matemática. Escolhi o IST por ser uma das melhores instituições de Ensino Superior em Portugal, e onde o programa de doutoramento é completo. Aliás, o Técnico tem aceitado, em várias áreas, docentes da Universidade de Cabo Verde para realizarem os seus doutoramentos. As duas instituições, que mantêm boas relações, têm beneficiado muito do acordo de cooperação entre Portugal e Cabo Verde.”
Jone Heitor,
Doutorado no IST em Eng.a Mecânica, Professor na Universidade Agostinho Neto, Angola
“O Técnico continua a ser uma referência em Angola, e a relação entre o IST e a Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto são boas: neste momento existe um Acordo Geral de Cooperação e estamos a fortalecer os vínculos já estabelecidos. A nível pessoal, a minha experiência no Técnico foi bastante boa: além dos contactos científicos e pedagógicos, a escola abriu-me a porta e fez muito por mim. Estou-lhe muito grato.”