Campus e Comunidade

Os desafios da cibersegurança pela voz de quem os enfrenta diariamente

Foram cinco os especialistas convidados a integrar o painel da segunda edição do ciclo de conferências “Inovação, Sociedade e Tecnologia".

Um painel de especialistas onde várias perspetivas estavam bem representadas, um tema atual que tem dado que falar no último ano e várias dezenas de alunos ou trabalhadores da área prontos a absorver todas as palavras proferidas, foram estes os ingredientes que fizeram da conferência “Cibersegurança, uma prioridade nacional”, um evento de sucesso. Aquela que foi a segunda conferência do Ciclo “Inovação, Sociedade e Tecnologia” teve lugar esta segunda-feira, 20 de novembro, no salão nobre do Instituto Superior Técnico.

Coube ao professor Arlindo Oliveira, presidente do Técnico, o papel de moderador, mas também de condutor da conversa. Através de algumas perguntas abriu caminho a várias explicações sobre “os perigos”, as “lacunas”, “a estratégia nacional”, ou “as necessidades de capital humano” que os convidados foram explorando nas intervenções. “A nossa estratégia nacional é transversal, mas será tão boa como a sua execução se verifique”, começou por destacar o contra-almirante António Gameiro Marques, diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança (GNS). Ao seu lado tinha o professor Pedro Veiga, Coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) que assinalou que “começam a aparecer problemas diabólicos e precisamos ter muito cuidado”, referiu.

Coube ao professor José Tribolet a apresentação de uma solução “clara”, como o mesmo a adjetivou, para sermos mais capazes internamente de dar respostas a estes problemas: o Curso de Pós-Graduação em Cibersegurança do Técnico. “A situação da sociedade portuguesa nesta matéria é de um estado de impreparação genérico”, frisou várias vezes. Apelando à iniciativa das empresas na inscrição dos seus trabalhadores nesta formação, o professor salientou “que precisamos de soldados para combater na guerra cibernética e o Técnico está a executar a sua missão de os formar”.

O representante da Thales que integrava o painel, o Dr. Timóteo Menezes, concordava com a “falta de soldados”, uma “escassez de recursos que é global”. “Mas vejo aqui muitos potenciais soldados da paz da cibersegurança”, assinalou de seguida. Referindo a aposta da empresa na cativação desses recursos, salientou a importância de aproveitarmos a informação que está disseminada para “protegermos a nossa forma de estar”.

Num registo mais informal, o professor Pedro Adão mostrou a ligação estreita que tem com a temática, através do trabalho que tem realizado com a sua equipa de Segurança Informática- a STT. “Podemos estar sempre a aprender de chapéu branco e é isso que lhes transmito”, afiançou. A equipa que está entre as vinte melhores equipas universitárias de segurança da informação, é para o professor do Departamento de Informático “um bom exemplo de que aqui no Técnico aprende-se a meter a mão na massa”.

Os sectores bancários e o da saúde como os alvos preferenciais dos hackers de chapéu preto, o ciber-crime como uma indústria, ou o desinteresse de alguns gestores em preparar as suas empresas para os desafios da sociedade digital, foram alguns dos tópicos em torno dos quais girou a conversa. “Há loucos que atacam as estruturas essências de um país, só para causar perturbações, só porque sim”, afirmou o professor Pedro Abreu. “A segurança não se pode dissociar de todas as vertentes de uma empresa”, alertou o professor José Tribolet, adicionando que “ainda temos muito para crescer, e o papel da engenharia é essencial aí”.

As palavras nunca se cingiam a uma só questão, como a temática o exige. A determinada altura foi nas fragilidades causadas pelo utilizador comum que o debate se centrou. “O risco está na maioria das vezes, entre a cadeira e o teclado”, frisava o diretor-geral do GNS. “As pessoas não têm essa consciência, mas há pens programadas para retirar informação ou que há cabos de rede que são portas fáceis para invadir um sistema”, alertou o professor Pedro Adão. A conversa tinha muito mais “pano para mangas”, e os oradores muito mais para dizer, denotava-se na forma como iam acrescentando ideias à medida que a hora do final se aproximava. “Nós não podemos lutar contra a Tecnologia, mas há problemas que passam pela ética, pela educação que estão ao nosso alcance”, disse em jeito de remate o professor Pedro Adão. A conversa continuou, no entanto, fora do palco, mas com o mesmo entusiasmo.