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Prémio ULisboa-redeMOV 2021 distingue trabalhos assinados por alumni do Técnico

Rosa Félix conquistou o galardão com o seu trabalho de doutoramento. Francisco Neves e Ana Filipa Reis foram os vencedores ex aequo na categoria “Trabalho Final de Mestrado

Há 3 alumni do Técnico entre os vencedores da 1.ª edição do Prémio ULisboa-redeMOV 2021.Rosa Félix, Francisco Neves e Ana Filipa Reis são os autores de 3 dos 4 trabalhos distinguidos pelo júri do galardão. Rosa Félix assina o melhor trabalho final de doutoramento, já Francisco Neves e Ana Filipa Reis são distinguidos, em ex aequo, na categoria “Trabalho Final de Mestrado”.

“Barriers and motivators to bicycle in cities with low cycling maturity: Lisbon case study”, é o título do trabalho que valeu a Rosa Félix, antiga aluna de doutoramento em Sistemas de Transportes, esta distinção e metade do prémio monetário associado –  o valor pecuniário de 2500 euros será dividido pelas duas vencedoras em ex aequo.  Para a alumna este é “um reconhecimento importante” do trabalho desenvolvido, e da contribuição que acredita ter dado à sociedade através do mesmo. “É também um reconhecimento muito bem-vindo à relevância da mobilidade ciclável. Numa altura em que o foco aparenta incidir principalmente na criação de soluções futuristas e tecnológicas – na reinvenção da roda, de certa maneira – a humilde e democrática bicicleta e as suas claras vantagens merecem ser revisitadas e levadas a sério como uma solução de mobilidade de futuro”, refere a doutorada.

A investigação levada a cabo por Rosa Félix focou-se na alteração dos hábitos das pessoas para passarem a utilizar mais a bicicleta nas suas deslocações, “e em particular nas barreiras que estas têm e no que podemos considerar como incentivos que podem influenciar essa transição”, como a própria nos explica.

Através de um inquérito a mais de mil pessoas – utilizadores de bicicleta e não utilizadores – a jovem investigadora tentou perceber o que os distinguia e o que tinham estes em comum perante a possibilidade de passar a usar mais a bicicleta no dia-a-dia. “Esta análise permitiu compreender que antes de começar a usar a bicicleta, toda a gente tem barreiras comuns – por exemplo, toda a gente tem medo. Aqueles que ultrapassam essas barreiras, através de motivadores, tornam-se ciclistas, e a identificação desses motivadores que causaram mudança permitiram também perceber quais aqueles que estiveram mais relacionados com políticas públicas de promoção deste modo de transporte nos últimos 10 anos”, realça Rosa Félix. “As “contagens” sistemáticas de ciclistas que o Instituto Superior Técnico realiza todos os anos em Lisboa acabariam por corroborar estes resultados, como o efeito de novas ciclovias, ou do aparecimento da GIRA”, acrescenta.

Com base nestes resultados e com alguma modelação matemática, foi possível estruturar uma Pirâmide das Necessidades – semelhante à Pirâmide de Maslow –  para se adotar a bicicleta. “Fatores como saber andar de bicicleta e segurança aparecem nas camadas de base, seguindo-se das questões práticas como ter onde guardar uma bicicleta à noite, ter uma GIRA por perto, ou poder levar uma bicicleta nos transportes públicos, e por fim as questões da esfera social do indivíduo, como ter amigos ou colegas a incentivar essa atividade, ou ter um problema de saúde que exija maior atividade física e mudanças de rotina”, explana Rosa Félix.

Os resultados do trabalho sugerem que medidas “duras” para encorajar o ciclismo, tais como redes e sistemas de partilha de bicicletas, podem de facto ter impactos consideráveis no aumento dos níveis de quota modal da bicicleta numa cidade de baixa maturidade ciclística.

Uma categoria, dois vencedores do Técnico

A conquista de um dos galardões atribuídos na categoria “Trabalho Final de Mestrado” representa para Francisco Neves, antigo aluno de Engenharia Informática e de Computadores, uma “grande honra e orgulho”.  Na origem da distinção está a tese de mestrado  “Discovery of Patterns in Urban Traffic”, desenvolvida sob a orientação do professor Rui Henriques, docente do Departamento de Engenharia Informática (DEI) , e da investigadora do INESC-ID, Anna Finamore Couto. O trabalho propõe dois métodos para a descoberta de padrões em fontes de dados heterogéneas de tráfego rodoviário,  “encontrar bottlenecks na infraestrutura urbana que possam ser melhorados para alcançar uma mobilidade mais sustentável”, como nos explica o alumnus.

Como salienta o autor do trabalho, “os dados de tráfego rodoviário apresentam vários desafios para a descoberta de padrões devido a vários fatores, tais como a sua natureza espacial e temporal, o seu tamanho massivo, e a influência de eventos inesperados à variabilidade do trânsito”. Os dois métodos propostos enfrentam de maneira diferente estes mesmos desafios, sendo que “o primeiro método explora o uso de biclustering e o segundo método recorre a transformações de dados e diferenciação de séries temporais para encontrar padrões emergentes”, destaca Francisco Neves. “Ambos os métodos foram capazes de descobrir padrões relevantes, interpretáveis e estatisticamente significantes, que podem então suportar a reforma das atuais infraestruturas urbanas”, sublinha em seguida.

Sabendo da possibilidade deste reconhecimento acontecer em ex aequo, Ana Filipa Reis, alumna de Engenharia Civil, ficou contente por o mesmo ser extensível a outro aluno “com uma tese bastante interessante” como a de Francisco Neves. Os dois alumni do Técnico vão dividir o prémio monetário de 1500 euros associado a esta categoria.

Para a antiga aluna de Engenharia Civil o prémio tem “um enorme significado” tendo em conta que no trabalho premiado aborda uma temática que lhe “diz muito” e que é do seu maior interesse: os impactes ambientais vs mobilidade elétrica e modos suaves. “Ver este trabalho ser reconhecido por uma instituição como a Universidade de Lisboa com a importante parceria da redeMov, que visa uma abordagem das questões associadas à mobilidade urbana inteligente, deixa-me muito orgulhosa”, vinca a alumna, que não se esquece de destacar “o enorme apoio e orientação recebida do professor Filipe Moura, docente do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos (DECivil), e da professora Patrícia Baptista, docente do Departamento de Engenharia Mecânica( DEM).

O trabalho distinguido, intitulado “Avaliação dos impactes ambientais de uma trotinete elétrica através da Análise de Ciclo de Vida”, teve como objetivo efetuar uma Análise de Ciclo de Vida (ACV) de uma trotinete elétrica de forma a contabilizar os impactes ambientais para todas as suas fases de vida, desde a sua produção, utilização e fim de vida. “Para isso assumiram-se vários cenários tendo em conta diferentes pressupostos, tais como: o tempo de vida de uma trotinete elétrica – 1 mês a 6 meses; distância realizada por dia pela trotinete -1 km a 5 km; frequência de recolha de uma trotinete elétrica – diária e 3 em 3 dias; realização de reciclagem e a não realização de reciclagem no fim de vida dos materiais”, explica Ana Filipa Reis.

De acordo com a jovem graduada do Técnico, os resultados sugerem que “embora as trotinetes elétricas possam ser uma solução eficaz para o congestionamento e o problema first-/last-mile, elas não reduzem necessariamente os impactes ambientais do sistema de transportes”. “Estes valores tão elevados justificam-se principalmente com a baixa utilização das trotinetes por parte dos utilizadores e ao baixo tempo de vida da trotinete. A realidade é que se está a produzir em grandes quantidades para uma baixa utilização”, acrescenta, em seguida.

Para que as trotinetes elétricas tenham um lugar no meio urbano competitivo com os restantes veículos, Ana Filipa Reis acredita que “é necessário definir estratégias que permitam garantir os níveis mínimos de utilização: garantir que estas realizam mais viagens por dia e que efetuam mais quilómetros por dia e/ou por cada viagem; e garantir que a estrutura física e os materiais das trotinetes são resistentes e estão protegidos contra o vandalismo”. “O uso indevido das trotinetes resulta em curtos tempos de vida, logo em elevados encargos em g 2 /km associados à produção da trotinete e dos seus materiais. Adicionalmente, é necessário diminuir a frequência de recolha de forma a reduzir os encargos associados aos veículos utilizados na recolha e distribuição das trotinetes elétricas. As próprias operadoras podem ainda eletrificar a sua frota de recolha/distribuição ou utilizar baterias substituíveis, por forma a tornar o processo de recolha mais eficiente do ponto de vista energético e ambiental”, aponta a alumna.

O júri presidido pelo reitor da Universidade de Lisboa, professor Luís Ferreira, era composto pelas professoras Rosário Macário e Teresa Vazão, e pelos professores Nuno Marques da Costa, Vítor Escária e David Vale.

Os antigos alunos do Técnico vão na próxima sexta-feira, 11 de fevereiro, dar a conhecer um pouco melhor estes trabalhos na Sessão de Entrega dos Prémio ULisboa-redeMOV 2021 que terá lugar na sala de conferência da reitoria.