Quando se sentou na plateia do Auditório Abreu Faro, na tarde de 15 de maio para assistir ao lançamento de um livro, um professor do Técnico não antecipava que, daí a minutos, estaria a ser atirado para dentro de um buraco negro pelo autor da obra “O eclipse do tempo – Guia para entrar em buracos negros” . A imagem ‘serviu de exemplo’ para que Vítor Cardoso, outro professor do Técnico que apresentava o seu mais recente livro, explicasse à plateia o que acontece a quem for puxado para dentro de um destes objetos astronómicos. A apresentação da obra foi feita em conversa com o comunicador de ciência Fábio da Silva, da plataforma Universo Perpendicular.
A partir da vontade de “satisfazer o intelecto” e “de saber mais”, Vítor Cardoso diz que “arranjamos forma de construir coisas práticas, fazer dinheiro e salvar vidas”. Para si, essa “é a maravilha da ciência”. Inspirado por este mote, o autor explora neste livro questões como “O que é o tempo? O que é a luz? Como mudou a mecânica quântica a nossa visão do mundo? O que são buracos negros e ondas gravitacionais? De que maneira o nosso conhecimento das leis físicas poderá mudar no futuro? Como é que o próprio universo acabará?”.
“Porque raio é que alguém em 2024 havia de publicar um livro sobre buracos negros? Porque é que houve dois prémios Nobel nos últimos cinco anos sobre buracos negros?”. Refletindo sobre estas questões, Vítor Cardoso diz que uma das razões poderá estar ligada àquilo que “não conhecemos e o que está errado na nossa forma de entender o Universo”. Capazes de “explicar tudo o que vemos com base em quatro interações (gravidade, eletromagnetismo, força fraca e força forte)”, o físico afirma que “chegámos à conclusão de que não percebemos a gravidade – aquilo que pensávamos saber sobre ela falha no interior dos buracos negros”. Eis, então, um dos motivos para o fascínio por estes objetos astronómicos.
A outra razão que levou o autor a interessar-se por buracos negros está na forma como desafiam aquilo que consideramos ‘normal’ – na proximidade de um destes, para um observador mais longínquo, o tiquetaque de um relógio parece abrandar até parar. Adicionalmente, o físico explicou que, ao fazer partículas colidir a velocidades cada vez mais elevadas em aceleradores, haverá um ponto a partir do qual a única coisa que daí resultará é um buraco negro – “é o fim da física de partículas, é o fim da física de lasers, é o fim do nosso conhecimento”.