No diapositivo projetado na parede, vê-se um coração, um fígado e um par de pulmões, todos eles de um amarelo esbranquiçado. Nesta palestra, fala-se de descelularização, uma técnica explorada atualmente no campo da Engenharia Biomédica responsável pela descoloração destes tecidos outrora avermelhados. Através deste processo, é feita uma ‘lavagem’ e remoção de material celular que preserva a integridade estrutural dos órgãos, podendo estes ser usados posteriormente na regeneração de tecidos e órgãos artificiais.
Esta é uma das palestras inseridas no calendário da Semana da Biomédica, apelidada de Job2BE. De 4 a 6 de março, o evento organizado pelo Núcleo de Estudantes de Engenharia Biomédica do Instituto Superior Técnico (NEBM-IST) contou com várias apresentações de especialistas na área da biomédica, workshops, uma sessão de partilha de experiências com alumni do Técnico e uma feira de empresas que preencheu o átrio do Pavilhão de Civil.
Rodrigo Val d’Oleiros é um dos palestrantes convidados. Veio partilhar o que aprendeu ao longo do seu percurso académico, dando dicas aos presentes sobre a melhor postura para encarar o trabalho e descrevendo como encontra na ciência uma fonte de inspiração. É fundador de uma start-up ligada a transplantes de órgãos, trabalhando no sentido de minimizar tempos de espera e custos associados a estes procedimentos.
Ambas a frequentar o 2.º ano da Licenciatura em Engenharia Biomédica, Mariana Ferreira e Constança Almeida vieram a este e outros eventos da Job2BE para descobrir as saídas profissionais do seu curso. Mariana ainda está a explorar as suas opções, mas diz “[gostar] muito de biologia e engenharia celular”. Já Constança considera que “foi especialmente útil para conhecer todos os projetos que foram apresentados”. A aluna explica ainda que “deu para perceber o que está a ser feito no mercado, as dificuldades enfrentadas e o que é feito no âmbito da inteligência artificial”. Constança referia-se à palestra “Inteligência Artificial no setor da Saúde”. Um dos oradores, Tiago Marques, fez o seu Mestrado em Engenharia Física e Tecnológica no Técnico, regressando agora à Escola para falar dos benefícios que a inteligência artificial e a realidade aumentada podem trazer à cirurgia para remoção do cancro da mama. O objetivo do projeto em que está envolvido, o BreastXR, é permitir ao cirurgião ‘ver através da pele’ do paciente, com recurso a óculos de realidade aumentada. Estes, através de um anel de câmaras no teto do bloco operatório, projetam a informação relativa ao tumor diretamente sobre o corpo do paciente. A equipa do BreastXR pretende diminuir a percentagem de pessoas que necessitam de uma segunda cirurgia, que atualmente reside em 30 por cento. Rafaela Timóteo, também alumna do Técnico, foi premiada pelo seu envolvimento neste projeto no final de 2023.
“Foi uma palestra informativa”, afirma Pedro Pinheiro. O aluno frequenta uma licenciatura em Gestão noutra instituição de ensino superior e pondera um mestrado na área da Engenharia Biomédica, dizendo-se interessado pela existência de núcleos e projetos interdisciplinares nesse campo. Encara a mudança com naturalidade, explicando que “algumas pessoas no [ensino] secundário convencem-se de que querem seguir uma certa área e depois acabam por trocar”. Justifica a escolha do Técnico devido à “boa reputação e grande alcance internacional” da Escola.
