Celebrar uma ideia, avaliar o seu sucesso, ouvir quem a idealizou, dar a palavra às principais protagonistas, mas sobretudo continuar a inspirar jovens com a engenharia. Foram estes os propósitos do seminário de encerramento da primeira edição do projeto “Engenheiras Por Um Dia”, que se realizou na passada sexta-feira, 4 de maio, no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico. Provenientes de várias zonas do país, mais de 400 alunos das 10 escolas-piloto onde o projeto foi dinamizado ao longo do ano marcaram presença no evento.
A abertura da sessão, que sossegou o entusiasmo bem audível dos jovens, ficou a cargo da presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres (APEM), Virgínia Ferreira, do presidente do Instituto Superior Técnico, o professor Arlindo Oliveira, e da Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques.
Num discurso que transparecia o orgulho do Técnico por ser um dos principais agentes desta iniciativa, o professor Arlindo Oliveira frisou que “eliminar as discriminações e estereótipos é um desafio a que as universidades não podem estar alheias”, e por isso mesmo e para que “mais mulheres se apaixonem pelas áreas tecnológicas é preciso incentivar as jovens, dar-lhes bons modelos, desconstruir a ideia de que este é um meio masculino”, realçou o presidente do Técnico. “Depois e para além deste projeto espero que saibam que podem contar sempre com o Técnico neste caminho para tornar a sociedade portuguesa o mais justa e igualitária possível”, colmatou o professor Arlindo Oliveira.
Também a Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa proferiu um discurso muito entusiástico, no qual fez alusão às barreiras que ela própria teve que ultrapassar por ser mulher, referindo que apesar de a engenharia não ser a sua área de formação, “não tenho dúvidas de que esta é uma profissão de futuro, com um impacto social tremendo”. “E se é assim porque é que atrai tão poucas mulheres ainda?”, questionava. “Talvez por falta de informação do quão atraentes elas podem ser”, respondia de seguida a governante. Foi a partir da consciência desta falta de conhecimento que este programa foi criado referiu Maria Manuel Leitão Marques: “Para que saibam o impacto destas profissões de futuro, para que vocês possam fazer escolhas informadas, em prol de uma sociedade cada vez mais equilibrada”.
Já com grande parte das atenções captadas, tomava depois a palavra, Teresa Alvarez, da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), que conduziu uma apresentação que deixou transparecer a abrangência de que a iniciativa se revestiu. “O projeto é vosso, das escolas que o acolheram e nos ajudaram a concretizá-lo”, começava por dizer. A representante da CIG explicou não só as metodologias de ação, mas também a liberdade dada às escolas, e a evolução que o projeto foi tendo ao longo do ano. “Quisemos desconstruir os preconceitos sobre o que é suposto fazer um rapaz e uma rapariga e as escolas são cruciais neste desafio”, frisou Teresa Alvarez. “A igualdade constrói-se, e é um edifício em relação ao qual temos que permanecer vigilantes para que não corra o risco de desabar”, concluiu.
E porque parte da essência do projeto “Engenheiras por um dia” passa pela partilha de experiências e dos rostos femininos que fazem ou farão a engenharia, eis que se seguiu uma mesa redonda repleta disso mesmo: experiência e paixão pela engenharia. Ana Teresa Freitas, professora do Técnico e CEO da HeartGenetics, Clara Celestino, HR Manager da Microsoft, Cristina Fonseca, co-fundadora da Talkdesk e Virgínia Ferreira da APEM, protagonizaram uma conversa que ia sendo “espicaçada” pela jornalista Paula Cordeiro.
Sem reservas falaram-se dos números ainda reduzidos de mulheres a estudar e fazer engenharia, dos motivos que justificam essa escassez, da diversidade que é necessária em todos os sectores, mas também do que vai diferenciando as engenheiras que contrariam esta tendência. “Não acredito que haja diferenças biológicas que tenham impacto nestas escolhas, acho que o que faz tomar esta opção é aquilo em que acreditamos, aquilo que nos vão dizendo ao longo da vida”, declarou Cristina Fonseca. “Eu escolhi seguir Engenharia quando tinha 10 anos, porque ouvi dizer que a melhor maneira de prevermos o futuro é construindo-o, e eu queria isso para mim”, partilhava por sua vez a professora Ana Teresa Freitas. De vez em quando, o Técnico lá vinha à conversa: “Garanto-vos que aqui no Técnico as pessoas são medidas pela sua inteligência e não pelo seu género”, acrescentava de seguida a docente do Técnico. Salientando a importância da engenharia no futuro, da tecnologia no mercado de trabalho, Clara Celestino que trabalha diariamente com vários engenheiros afirmou que “estudar engenharia é ter a certeza que se vão desenvolver muitas capacidades, adquirir muitas skills que vos darão vantagem no mercado de trabalho”.
Depois de uma pausa para almoço, os protagonistas – professores, alunos e alunas- foram divididos por salas para transmitirem o feedback do projeto piloto, tendo o Salão Nobre ficado reservado para as principais visadas: as hipotéticas futuras engenheiras. O que limita as escolhas de ingresso no ensino superior, o que as afasta da engenharia, o balanço do projeto e o efeito do mesmo no seu contexto escolar iam sendo questionados, e elas souberam e quiseram sempre ter algo a dizer.” O grande problema é que nós nos subvalorizamos e não achamos que podemos fazer isto. Já abrimos tantos caminhos, ter mais mulheres engenheiras é o próximo”, afirmava a aluna Madalena Vinha. Na fila logo atrás, Bianca Cordunean dizia algo que expressava bem o sucesso da iniciativa e porquê de este ter que continuar: “Achei o projeto muito inovador e esclarecedor. Mostrou-nos que não estamos privadas de nenhuma área ou escola, que podemos conseguir isto se o que quisermos”. A audiência aplaudiu-a em força, como que subscrevendo o que acabara de dizer.