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Técnico promoveu debate sobre Inteligência Artificial na Indústria

Especialistas da academia e do setor empresarial discutiram o papel da IA na redefinição dos processos produtivos e industriais.

Extração de recursos naturais, segurança automóvel, retalho e sistemas aéreos são alguns exemplos do impacto que a Inteligência Artificial tem na Indústria. Na mais recente sessão do ciclo “A Inteligência Artificial em interação no mundo físico”, organizada pelo Instituto Superior Técnico, em parceria com o Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), especialistas da academia e da indústria reuniram-se para discutir o papel da Inteligência Artificial (IA) na transformação dos setores produtivos desses e outros setores industriais.

Sob moderação de José Santos-Victor (Técnico/ISR-Lisboa/LARSyS), o painel contou com Rodrigo Ventura (Técnico/ISR-Lisboa/LARSyS), Christine Marconcin (Critical Techworks), Joana Frazão (Fravizel Engineering), Marlos Silva (Sonae MC) e Ricardo Mendes (TEKEVER), que partilharam as suas diferentes experiências e visões sobre a forma como a IA está a redefinir processos, produtos e o próprio trabalho.

A sessão iniciou-se com uma reflexão sobre a dificuldade de definir os limites da IA, um domínio cada vez mais transversal. “A Inteligência Artificial já não é uma área isolada – na indústria está presente na manutenção, na logística, na prevenção de falhas e na otimização de recursos”, sublinhou José Santos-Victor.

Rodrigo Ventura, investigador no ISR-Lisboa e professor no Técnico, recordou que “as redes neuronais foram teorizadas antes mesmo dos computadores”, e que o recente salto tecnológico se deve sobretudo à “maior disponibilidade de dados e poder computacional”. Apesar disso, alertou, “o problema da caixa negra permanece”, referindo-se à dificuldade em interpretar os processos de decisão dos modelos mais complexos.

O painel de intervenientes expôs diversos casos concretos de aplicação de IA em contexto industrial. Christine Marconcin, da Critical Techworks, destacou projetos conjuntos com a BMW, como sistemas de deteção de crianças dentro dos automóveis e controlo de mudança de faixa, demonstrando a rápida integração de modelos de linguagem e algoritmos inteligentes na experiência de condução.

Joana Frazão, da Fravizel Engineering, descreveu como a IA está a transformar a extração de recursos naturais, permitindo uma utilização “mais produtiva e sustentável”. Sistemas de alerta e apoio à decisão ajudam os operadores a otimizar o uso de maquinaria pesada, “mas continuamos a ser nós a tomar as decisões”, reforçou.

Já Marlos Silva, da Sonae MC, salientou o impacto da IA no retalho, lembrando que “a primeira loja autónoma da Europa nasceu aqui ao lado”. Na Sonae MC a automatização e o uso de dados permitem melhorar a proposta de valor e fortalecer a relação com os consumidores. Sublinhou ainda a importância da ligação entre a indústria e a academia, através do Center for Responsible AI, que procura garantir uma utilização ética e segura dos dados.

Ricardo Mendes, fundador e CEO da TEKEVER, empresa membro da Rede de Parceiros do Técnico, partilhou a evolução da empresa desde a sua origem no Técnico até se tornar “a maior empresa europeia de sistemas aéreos”. Falou da autonomia crescente dos sistemas complexos, sublinhando que “a capacidade computacional e a redução de custos tornam hoje possíveis missões impensáveis há poucos anos”.

O debate estendeu-se aos desafios educativos e laborais trazidos pela IA. Para Rodrigo Ventura, “o modelo de ensino precisa de se adaptar, com mais aprendizagem baseada em projetos para maior retenção de conhecimento”. Christine Marconcin apontou que a IA será “uma ferramenta essencial na força de trabalho”, enquanto Joana Frazão destacou o seu potencial como apoio à produção, mas também à criação. Marlos Silva reforçou a necessidade de “supervisão humana e visão estratégica” na integração de tecnologias, sobretudo num contexto de envelhecimento demográfico e transformação do emprego.

A sessão terminou com um apelo à participação ativa dos futuros engenheiros e investigadores. Joana frazão deixou o conselho: “usem IA, mas não deleguem nas máquinas as vossas responsabilidades”. Já Christine Marconcin acrescentou: “existem grandes desafios por resolver; o importante é combater a análise paralisante e agir: just do it”.

O ciclo “A Inteligência Artificial em interação no mundo físico” prossegue no dia 21 de novembro, com o tema “Cidades e Casas Inteligentes: Como a Inteligência Artificial transforma o espaço comum”, também no Técnico Innovation Center powered by Fidelidade, com entrada livre.

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