A adrenalina quase se sentia no ar do Pavilhão do Conhecimento. O enorme corredor que antecedia a sala onde este fim-de-semana, de 2 a 4 de março, decorreu o TecStorm, estava apenas iluminado com luzes vermelhas, o que deixava imediatamente o suspense no ar. Mal se trespassava a cortina, o cenário era outro: muita luz, uma sala cheia, mesas atoladas das mais variadas peças, paredes repletas de modelos de negócio, e quase uma centena de jovens que balançavam entre o nervosismo e o êxtase de quem acabou de criar algo novo. E foi este o ambiente dominante do evento nacional de inovação em hardware e software organizado pela Junitec e inspirado no conceito de uma hackathon.
O contra-relógio projetado na parede acelerava os mais distraídos. Faltavam apenas 50 minutos para o fim da competição. Havia muitos detalhes para afinar, apresentações para preparar, protótipos para testar. As 15 equipas presentes no TecStorm eram bastante heterogéneas, não apenas ao nível da diversidade de áreas de formação dentro de cada uma e entre todas elas, mas essencialmente na forma como geriam a pressão, como se administravam a eles próprios e às forças que ainda restavam depois de quarenta e oito horas de maratona. Vieram de todo o país, e uma grande maioria do Técnico. A Junitec tratou de tornar tudo ainda mais aliciante do que naturalmente já é, possibilitando uma participação inteiramente gratuita, mesmo para os que vieram de longe. “Quisemos chegar a todo o país e a todas as áreas. E definimos estratégias para que toda a gente com vontade e potencial pudesse vir. Patrocinamos todas as despesas inerentes à participação”, vinca Gil Coelho, gestor do projeto da Junitec. A estratégia resultou e no total foram 27 as equipas que se candidataram ao desafio, sendo que as que foram selecionadas tiveram a hipótese de desenvolver um protótipo físico tendo ao seu dispor impressoras 3D, osciloscópios, estações de soldadura, arduínos e hardware como “raspberry Pi” e “breadboards”.
Além do número de equipas envolvido ser muito superior, há várias diferenças entre a edição passada e o TecStorm 2018, começando desde logo pelo espaço escolhido: “Queríamos o espaço mais incrível, um lugar ligado à tecnologia e à ciência e a nossa primeira opção foi o pavilhão do conhecimento e conseguimos”, partilha o gestor do evento. Em vez de uma passaram a haver duas categorias: a “creative” e a “social”. A primeira congrega a apresentação de projetos altamente tecnológicos; já a categoria “social”, implementada em parceria com a organização Patient Innovation, permitiu o “acesso a um banco de problemas de doentes reais” que as equipas escolheram, desenhando e construindo uma solução para fazer face aos mesmos. Além do protótipo físico, este ano os participantes tiveram também que preparar um plano de negócios e um pitch para a apresentação final. “Como nós temos muitos estudantes de engenharia, nós garantimos formação para potenciar as apresentações”, refere Gil Coelho. “Além disso cada equipa teve também direito a uma sessão de mentoria de uma hora e meia, que os ajudou a orientar estratégias”, acrescentou ainda.
“Em 3, 2,1… acabou o tempo”, comunicava um dos elementos da organização. A que se seguiu uma salva de palmas. “Conseguimos”, dizia-se efusivamente ou não, consoante o temperamento e o cansaço permitiam. Era então chegada a hora das várias equipas subirem ao palco para uma apresentação breve onde defendiam com unhas e dentes aquilo que construíram. As apresentações divergiam: umas mais formais, outras mais originais, mas todas sem exceção temperadas com muito envolvimento.
Foi primeiro a vez das 5 equipas da categoria social. Um equipamento que permite localizar objetos perdidos, sistemas que permitem avaliar a necessidade de troca de fraldas e ainda que possibilitam a deteção de gases iam sendo colocados à prova da sabedoria um júri composto por Inês Sequeira, representante da Santa Casa da Misericórdia, Luís Jerónimo da Fundação Calouste Gulbenkian e Juvenal Baltazar da Fundação Afid.
E se a audiência já se tinha deixado conquistar pela sabedoria e inovação dos primeiros projetos, o mais ousado ainda estava para vir. Seguiu-se a ronda mais demorada com 10 equipas da categoria “creative”, de onde brotaram projetos surpreendentes ligados ao desporto, à eficiência energética, ou à saúde. Ideias originais que vão desde um protótipo com um funcionamento semelhante ao do teste de balão que limitaria a ligação do motor mediante a percentagem de álcool no sangue até um dispositivo elétrico que executa e controla o movimento de sentar, auxiliando utilizadores com dificuldade de locomoção. Teresa Fernandes, Head of Innovation at Farfetch,Telmo Coito, Marketing Product Manager at Vodafone,Jorge Portugal, General Manager at COTEC Portugal e Marco Galinha, CEO at Grupo Bel, pareciam difíceis de surpreender, mas foram algumas as vezes em que foram desarmados pelo espanto. Além de avaliar, os jurados iam partilhando estratégias de aperfeiçoamento e perspetivas de futuro possíveis para as várias equipas.
No final, já com os níveis de adrenalina mais baixos e contra todas as expectativas de cedência ao cansaço, as várias dezenas de concorrentes trocaram feedback, especularam sobre potenciais vencedores e acima de tudo consolidaram laços que se criaram no meio da competição. O convívio só foi interrompido quando a equipa da Junitec subiu ao palco para anunciar os vencedores. Na categoria “social”, o primeiro prémio foi cativado arrecadado pela equipa “Hack_a_game”, cujo projeto assentava num serviço centralizado que recebe informação de vários sensores espalhados pela casa e que permite entre outras coisas detetar fugas de gás. Já na categoria creative ganhou a equipa “A lebre” que desenvolveu um dispensador de sementes copulável a qualquer drone, e a que está associado também uma aplicação móvel para efeitos de planeamento e ordenamento florestal. Em ambas as categorias além do prémio monetário, as equipas “Hack_a_game” e a “A lebre” tem respetivamente acesso ao Bootcamp da Gulbenkian e incubação no Vodafone PowerLab.
E se em plena competição o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio encorajar os participantes do TecStorm também o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o professor Manuel Heitor, fez também questão de marcar presença na sessão de encerramento, ainda para mais tendo ele passado pela Junitec. Depois de entregar o primeiro prémio da categoria “creative”, o professor Manuel Heitor destacou que o evento acaba “por ser um festejo da geração ciência viva a que todos vocês pertencem. Incentivando a organização a continuar a apostar na evolução do projeto, o ministro salientou ainda a “importância de participar nestas competições, que assumem como oportunidades de crescimento”. Gil Coelho encerrava depois o evento com as palavras certas: “o Tecstorm é o início de algo, que agora vos cabe a vocês continuar”.