Depois de vencer o Victor Lesser Dissertation Award 2018, a tese de Fernando Santos – intitulada “Dinâmicas de Reputações e Auto-organização da Cooperação” -, é agora distinguida com o prémio de Melhor Tese de Doutoramento em Inteligência Artificial 2017-2018, atribuído pela Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA). “Sinto-me extremamente feliz. É gratificante ver a minha tese de doutoramento distinguida e estou muito agradecido à Associação Portuguesa Para a Inteligência Artificial (APPIA) por este prémio”, confessa o antigo aluno de doutoramento do Técnico e investigador do INESC-ID, atualmente pós-doutorado na Universidade de Princeton.
Na origem destas distinções está um trabalho de doutoramento que não pode ser mais atual onde o antigo aluno do Técnico procurou desenvolver novos modelos matemáticos e computacionais para compreender a relação entre reputações, cooperação e normas sociais, combinando conceitos de teorias de jogos, sistemas complexos e computação científica. De forma a compreender melhor o porquê de algumas dessas normas serem utilizadas em várias sociedades – e quais é que são as mais simples de implementar em agentes artificiais – Fernando Santos propôs também neste trabalho um novo método para quantificar a sua eficiência e nível de complexidade.
A motivar estes reconhecimentos está desde logo, e como salienta o alumnus, “a importância que o tópico que abordei tem na área de Inteligência Artificial (IA)”. “Há muito tempo que existe o desafio de compreender como desenhar sistemas onde agentes inteligentes cooperem de forma autónoma. Na minha tese explorei este tema e desenvolvi novos modelos matemáticos e computacionais para compreender a relação entre sistemas de reputação e cooperação”, explica. “Por outro lado, julgo que o facto de este trabalho estabelecer uma ponte entre a área e outras disciplinas teve também peso”, acrescenta Fernando Santos. Isto porque, apesar de assentar em IA, o trabalho de Fernando Santos contribui também para entender a evolução de altruísmo na natureza e a emergência dos sistemas morais que sustentam cooperação em sociedades humanas.
Apesar de não se deixar fascinar pelos prémios, o alumnus assume que estes são “um sinal de que a comunidade aprecia o trabalho que, em conjunto com os meus orientadores, temos vindo a realizar, e este reconhecimento é uma enorme fonte de segurança e motivação para o meu trabalho futuro”. Relativamente a esse futuro, Fernando Santos adianta que está a aproveitar a oportunidade do pós-doutoramento para aprender temas de novas áreas com que tenciona continuar a interligar a IA. “Neste momento estou a trabalhar num departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva. Aqui tenho a oportunidade de interagir com investigadores com um trabalho extraordinário na criação de modelos para compreender, por exemplo, dinâmicas epidemiológicas ou a evolução de comportamentos em espécies animais”, partilha o alumnus do Técnico. “Acredito que os modelos desenvolvidos nesta área podem ser adaptados e contribuir em muito para compreender sociedades de agentes artificiais, em particular como desenhar agentes para que estes sustenham dinâmicas coletivas desejáveis – seja manter cooperação ou evitar conflitos”, adiciona ainda.
E porque trabalhar nestas áreas permite uma outra visão sobre o futuro, quisemos saber como Fernando Santos o adivinha: “Acredito que, com o aumento do número de agentes artificiais a tomar decisões no nosso dia-a-dia, se torna imperativo construir modelos para compreender, prever e controlar comportamentos em populações compostas por agentes artificiais e humanos”, realça. Para o antigo aluno do Técnico o acesso a grandes quantidades de dados e uma maior capacidade de computação irão “ajudar a identificar as vantagens de diferentes normais sociais na mediação de comportamentos”. “No entanto, se a interação com robots ou agentes virtuais alterar fundamentalmente o comportamento humano, os dados disponíveis hoje poderão não ser suficientemente informativos”, salienta. Para fazer face a estes obstáculos será “necessário levar a cabo experiências em laboratório para observar como é que as pessoas lidam com agentes artificiais, assim como construir modelos para antecipar qual o efeito dessas alterações comportamentais a longo prazo”, adianta o antigo aluno do Técnico.
“É tão assombroso olhar para as barreiras que algoritmos inteligentes quebram de dia para dia como para os desafios que há por ultrapassar”, lança Fernando Santos, confessando o entusiasmo por trabalhar numa área tão desafiante e em constante mudança. Mas se já é possível criar máquinas que derrotam humanos no Poker ou que em dezenas de dias aprendem autonomamente técnicas mais eficazes do que as desenvolvidas ao longo de milénios por humanos para jogar Go, porque se revela tão difícil incutir-lhes as regras sociais pelas quais nos regemos e que moldam o nosso comportamento? Porque descrever com precisão as causas que despoletam revolta num humano ao observar uma situação de injustiça, ou reconforto após ajudar o outro, é muito mais difícil, como elucida o alumnus do Técnico. “Há muito trabalho a fazer para conseguir compreender estes aspetos fundamentais da inteligência humana de forma a os transpor para uma máquina”, realça Fernando Santos.