Os dias 9 e 10 de abril foram preenchidos por muitos momentos de conhecimento, de partilha de ciência, de cruzamento de áreas de saber diferenciadas e sobretudo de exposição do talento dos estudantes de doutoramento do Técnico. O motivo? Os PhD Open Days que, ano após ano, se têm assumido com um importante palco de valorização dos trabalhos levados a cabo no âmbito dos vários programas de doutoramento, e de socialização dos alunos com os seus pares. E porque há quem diga que o humor pode ser uma arma de valor na ciência eis que a 5.ª edição desta iniciativa abriu a porta a um dos maiores comediantes nacionais: Ricardo Araújo Pereira. O humorista transformou o workshop “Como falar em público” num dos momentos altos do evento, enchendo o Salão Nobre e encerrando com chave de ouro a iniciativa.
A astrofísica, a aerotermodinâmica e a robótica foram algumas das temáticas abordadas no leque de palestras que compuseram o programa, e que iam satisfazendo os heterógenos interesses da comunidade do Técnico. E se num primeiro raciocínio poderá soar estranho selar o momento com um momento de humor, rapidamente se percebia que “rir” é a melhor maneira de brindar ao engenho, e portanto, uma ótima forma de fechar o programa. A escolha de Ricardo Araújo Pereira foi justificada pelo professor Miguel Ayala Botto, vice-presidente do Conselho Científico(CC) e um dos responsáveis pela organização do evento: “temos os melhores alunos do país, o Técnico é a melhor escola de engenharia portuguesa, e por isso tínhamos que ter o melhor comediante do país aqui connosco”.
O desafio lançado ao humorista passava por explicar como falar em público, e Ricardo Araújo Pereira não o renegou, porém foi difícil que tudo não tivesse uma tremenda piada e fosse pontuado com um uníssono de gargalhadas. Fazendo referência ao cartaz do evento que fez questão de analisar antes de vir, começava por declarar não entender como é que “pessoas que falam de coisas como astrobiologia, e navegação robótica em neurocirurgia empacam na parte de falar em público”. Assumindo que este medo é, claro uma dificuldade que em algum dia já residiu em todos e ainda ocupa alguns, o comediante – ou guionista como se prefere intitular- começava por explicar o porquê disto acontecer: “é difícil porque nós sabemos como julgamos os outros quando eles estão a falar perante plateias”. A plateia ria num tom de confirmação. “Depois temos medo de que os outros descubram que nós somos uma fraude, no meu caso então isso é flagrante”, acrescentava Ricardo Araújo Pereira.
Definindo-se como “um especialista em tornar as coisas, de modo geral, mais fáceis” e dando alguns exemplos hilariantes de como o foi fazendo em alguns momentos da sua vida, o humorista ia dando algumas dicas cruciais ainda que sempre no tom de brincadeira que já ninguém lhe consegue desvincular. “É importante reduzir o peso daquele momento, porque ele tem o peso que lhe quisermos atribuir. O pior que pode acontecer é correr mal”, frisava o orador. “Reduzir o peso do problema é a parte em que a minha profissão tem algo para ensinar a engenheiros”, enfatizava imediatamente a seguir.
Para Ricardo Araújo Pereira é exatamente nesta relativização que reside parte da arte de saber falar em público, e no geral “na arte de saber viver a vida”. “Quando fazemos isto as coisas ficam mais fáceis de manobrar, mais humanas”, argumentava. Seguiam-se outras dicas, não menos importantes, mas ainda embrulhadas em traços hilariantes. “Em certa medida é importante quando falamos em público expor a nossa fragilidade, porque isto é um excelente mecanismo de autodefesa”, advogava.
Entre uma e outra dica bem realistas, o convidado dos PhD Open Days lá ia salientando a importância de gargalhar- enquanto o provocava: “a vontade de rir é inestimável e contribui imenso para retirar o peso às coisas. O riso dá prazer e isso não é negligenciável”. “O riso gera uma intimidade entre duas pessoas que raras coisas conseguem”, declarava de seguida o humorista.
Partilhando uma fórmula que vem estudando bem – a da comédia-, e caricaturando alguns dos seus enganos com o comentário “vê-se logo que não sou engenheiro”, Ricardo Araújo Pereira partilhava que ele próprio vai sempre “aterrorizado para o palco porque apesar da experiência continua a ser misterioso para mim porque é que as pessoas se riem de uma coisa ou de outra”.
Por entre algumas perguntas – que se dependesse da audiência seriam muitas mais – o humorista ia resumindo a receita para enfrentar este medo a uma atitude de desvalorização que tantas vezes ajuda a tornar mais simples a vitória. “E, além disto, claro, uma boa dose de irresponsabilidade faz maravilhas por cada um de nós”, rematava. A plateia quase se esqueceu de o aplaudir tamanha era a vontade que o momento se prolongasse.
Ao professor Luís Oliveira e Silva, presidente do CC, coube o difícil papel de se seguir ao humorista, e consciente disso encerrou de forma breve e muito entusiasmada esta 5.ª dos PhD Open Days. “É um prazer ter o Salão Nobre cheio para comemorar o trabalho dos estudantes de doutoramento”, declarava o docente. Agradecendo à organização e enfatizando a qualidade que desde sempre esteve subjacente ao evento, mas que, ano após ano, tem vindo a aumentar, o presidente do CC não esqueceu no seu breve discurso um elogio ao trabalho e dedicação dos mais de 1000 estudantes de doutoramento do Técnico.