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Uma palestra que se teceu pela experiência e o conhecimento do professor José Fonseca de Moura

O novo doutor honoris causa da ULisboa partilhou a história em torno de uma das suas invenções e conquistou a audiência com o seu conhecimento e experiência.

Depois do reconhecimento do mérito de um brilhante percurso enquanto docente e investigador, o professor José Fonseca de Moura voltou esta quinta-feira, 16 de setembro, ao Técnico desta feita enquanto orador convidado de mais uma “IST Distinguished Lecture” para perante uma composta audiência partilhar alguns detalhes mais técnicos de uma carreira pautada pela inovação.

O centro de congressos do Técnico acolheu a palestra, intitulada “Uma história que se tece detetando dados em discos rígidos” e a audiência voltou a ser composta por inúmeros colegas, antigos alunos e admiradores do percurso do docente da Carnegie Mellon University (CMU). O presidente do Técnico, professor Rogério Colaço, foi um dos presentes e nas breves palavras que proferiu antes do início da palestra enalteceu a ligação ao Técnico que o professor José Fonseca de Moura sempre manteve, ainda que a sua carreira tenha passado pelo exterior. “Saiu do Técnico há 36 anos para os EUA, mas apesar disso manteve um contacto e um conhecimento do Técnico profundo, e sabe mais da nossa Escola que muito de nós que cá estamos” realçou. 

A história que o docente se propunha a contar era sobre uma das suas invenções e patentes, e na narração da mesma foi além dos detalhes mais técnicos, lembrando o contexto em que o mesmo surgiu e partilhando os contornos dos sete anos de litígio em tribunais federais dos EUA em torno desta tecnologia.

Foi através da uma linha de tempo que o orador guiou a audiência pela história desta invenção e de tudo o que se lhe seguiu. A narrativa começaria a ganhar mais detalhes, no início dos anos 90, quando o alumnus e antigo professor do Técnico integra uma equipa da CMU que, com o apoio da US National Science Foundation (NSF), se propõe a desenvolver um disco rígido que aumentava em duas ordens de grandeza a densidade de gravação magnética. “Em 1987, Mark [Kryder] decide reunir uma equipa, de que eu fazia parte, e propor à NSF fazer um grande esforço na construção de uma unidade de disco”, recordava. “Vi todos estes tremendos peritos de todos os lados da indústria [que integravam a equipa], e eu nem sequer sabia como falar com eles porque este era um problema totalmente estranho para mim”, confessava, com um sorriso.

A verdade é que caberia ao professor José Fonseca de Moura e ao seu aluno de doutoramento, Aleksandar Kavic, a criação do detetor deste disco, ou seja, o artefacto responsável pela leitura com precisão dos bits gravados em domínios magnéticos cada vez menores. A dupla de investigadores criou uma solução para o problema do aumento do “ruído” à medida que o armazenamento de dados crescia exponencialmente, um detetor de canais de leitura que contabiliza o ruído associado a cada padrão particular de bits gravados. Para explicar melhor, o problema ruído no aumento da densidade de dados o professor José Fonseca de Moura recorreu a uma analogia, referindo que a interferência entre os dados é como a sobreposição de letras numa página. 

Em 1997, a CMU registou no US Patent Office (USPTO) uma patente provisória do detetor Kavic-Moura. No início dos anos 2000, o USPTO emitiu à CMU duas patentes sobre esta tecnologia. Mas a história não se ficaria por aqui, e em 2009, iniciava-se uma batalha judicial com a Marvell por violação de duas patentes relacionadas com unidades de disco rígido. “A principal coisa que a CMU tenta dizer ao arguido é que infringe, que esta é a nossa tecnologia, que a utilizam sem pedir autorização. O defensor da Marvell argumenta: eu não infringi, o que estou a implementar é ligeiramente diferente; a patente não é válida porque outra pessoa, antes de si, já fez algo que se enquadra no que está a dizer, e dizem ainda que a patente não é prática”, sublinhou o orador, partilhando alguns detalhes de todos este processo. 

Apenas 7 anos depois o processo teria como desfecho o maior veredicto em tecnologias da informação – cerca de US $ 1,5 bilião – e depois, em 2016, o processo encerrou com um acordo de US $ 750 milhões entre a CMU e a fabricante de chips, também ele o maior acordo de todos os tempos no domínio da propriedade intelectual em tecnologias da informação”. “Com o dinheiro a CMU fez muitas coisas boas, e algumas das coisas que fizeram foi validar a proposta de bolsas de estudo para estudantes em perpetuidade” partilhava o docente. 

Nessa altura, estimava-se que 2,23 biliões de chips em mais de 60% dos computadores vendidos em todo o mundo incorporaram o detetor desenvolvido pelo alumnus do Técnico.  Hoje, prevê-se que esse número esteja bem acima de 4 biliões. 

No final da palestra a professora Isabel Ribeiro, vice-presidente do Técnico para a Modernização Administrativa e filha científica do orador, partilhou que esta fora a primeira vez que o orador contara esta história publicamente, agradecendo-lhe por isso. Foram muitas as perguntas que se sucederam tentando absorver mais detalhes e as aprendizagens que advieram deste processo.  

Pode rever a palestra na íntegra no canal de  YouTube do Técnico.