Jim Ryun, um carismático ex-político americano e atleta, disse um dia que “a motivação é o que faz o empreendedor começar e o hábito é o que nos faz continuar”, e é exatamente de fazer despertar essa motivação que tratam os E.Awards – a iniciativa que apoia e reconhece os melhores projetos desenvolvidos em unidades curriculares de Empreendedorismo e que pretende estimular e ajudar a desenvolver nos alunos do Técnico a vontade de inovar. Esta quarta-feira, 18 de novembro, terminou a 2.ª edição da iniciativa, juntando-se num pitch final os melhores projetos realizados por alunos no primeiro semestre do ano letivo de 2019/2020 nas unidades curriculares de Empreendedorismo.
Ao longo de mais de duas horas, o professor Luís Caldas Oliveira, vice-presidente do Técnico para o Empreendedorismo e as Ligações Empresariais, Marcos Soares Ribeiro, diretor coordenador do Santander Universidades, Rodolfo Condessa, Senior Associate da Armilar Venture Partners, Miguel Muñoz Duarte, diretor Executivo do Nova SBE Venture Lab, e Paulo Dimas, diretor de inovação de produto da Unbabel, ouviram atentamente as ideias e quiseram sempre saber mais- umas vezes para saciar curiosidades outras para desafiar os alunos a não ficarem por ali. Logo no início da sessão o professor Luís Caldas de Oliveira avisaria: “Tentámos reduzir o número de projetos desta fase final, mas foi muito difícil porque são de facto todos muito bons”.
As doze equipas selecionadas para a ronda final tiveram que fintar o nervosismo e o pouco tempo de que dispunham para apresentar da forma mais simples e apelativa a ideia e o projeto que desenvolveram em torno da mesma. De forma distinta, mas todos de forma exímia, com muita criatividade pelo meio, deixando poucas dúvidas ao acaso, os grupos conseguiriam cativar a atenção da audiência, despertar a curiosidade do júri e as suas críticas construtivas.
Depois de cada apresentação, a fasquia ficava mais elevada quer pelo arrojo dos projetos, quer pela capacidade de os idealizar no futuro, ou ainda pela forma como as equipas os desconstruíam para que a audiência entendesse o seu valor. Um peixe criado em laboratório, uma escova revolucionária com um sistema de aspiração e limpeza incorporados, um dispositivo portátil que remove a humidade do calçado desportivo ou uma plataforma que permite monitorizar dados com alta qualidade em tempo real, foram apenas algumas das ideias apresentadas pelos alunos do Técnico.
Depois das várias apresentações, e tendo em conta a qualidade dos projetos, o júri precisou de algum tempo para decidir quem seriam os contemplados com as duas menções honrosas da Armilar Venture Partners e o derradeiro prémio apoiado pelo Santander Universidades. O projeto “Vienna” acabaria por se destacar dos restantes projetos conquistando o título de “Best E.Project Award” e o respetivo prémio monetário no valor de 2000 euros. As equipas do “New Shore” e “Louise_Braille Learning Device”, por sua vez, não deixaram os jurados indiferentes e arrecadaram as menções honrosas desta edição.
A apresentação do projeto “Vienna” cativaria desde logo na apresentação por juntar duas áreas que deixam poucos indiferentes: a música e a Inteligência Artificial. A solução que o grupo de Ricardo Espadinha, Carlos Silva, José Correia, Gonçalo Santos e Aditya Vikram Jain, desenvolveu passa por juntar várias soluções de mercado já existentes. “O cliente tem disponível um formulário intuitivo de forma a caracterizar a música pretendida. Com as respostas recolhidas, usamos os nossos modelos de machine learning para produzir uma primeira iteração dessa música. A mesma é de seguida distribuída pela nossa rede de produtores musicais que iteram sobre ela de forma a garantir que vai de acordo com os requisitos do cliente e mantêm os nossos standards de qualidade elevados”, explica José Correia.
Consciente de “que existe cada vez mais procura de música personalizada com a explosão da internet e targeted advertisement para o qual o mercado musical está a ter dificuldade a responder”, a equipa resolveu “utilizar o avanço que se tem feito sentir nos últimos anos na área da criação de música através da utilização de inteligência artificial para permitir a nossa rede de produtores de música criar música personalizada de alta qualidade para as necessidades do cliente”, como recorda Carlos Silva. A equipa de alunos conseguiria desta forma criar “a simbiose de eficiência de máquina e a criatividade humana” de que toda a gente fala.
O ambiente em que a equipa se conheceu- através do desenvolvimento de atividades no Núcleo de Estudantes de Eletrotécnica e Computadores (NEECIST) e nas Jornadas de Eletrotécnica e Computadores(JEEC) – foi despoletando a pouco e pouco este gosto pelo empreendedorismo. Foi numa das “conversas de café” habituais de um grupo de amigos que surgiu a “ideia muito embrionária de tentar criar música através de Inteligência Artificial”, conta Ricardo Espadinha. Depois de várias iterações sobre a ideia e com a cadeira de Empreendedorismo, Inovação e Transferência de Tecnologia ainda por fazer, a equipa resolveu investir parte do tempo do semestre a aprofundar mais a ideia. “Isto obrigou-nos a desviar da nossa rotina habitual para nos focarmos nos problemas e soluções que surgiam com o ‘Vienna’ e acabar por receber muito bom feedback por parte do professor José Epifânio da Franca que nos ajudou bastante a desmistificar e simplificar a maneira como olhamos para o ‘mundo das start-ups’ e a melhorar exponencialmente a eficiência do nosso modelo de pitch”, partilha Ricardo Espadinha. “A nossa principal motivação sempre foi o gosto genuíno pela ideia e a vontade em vê-la crescer”, acrescenta.
O facto de se terem destacado por entre tantas e boas ideias, aumentou ainda mais o entusiamo da equipa em relação ao projeto, e por isso mesmo não descartam a ideia de transformar este trabalho académico num projeto com valor no mercado. “Já temos um protótipo para o qual obtemos feedback bastante positivo tanto de potenciais clientes como de empresas reconhecidas na área”, afirma Carlos Silva. “O objetivo é atingir o MVP [Produto Mínimo Viável, na sigla em inglês] o mais rapidamente possível para conseguirmos começar a formar a nossa rede de clientes e produtores musicais”, acrescenta. Para além disso, e já de olho no mercado, a equipa desenvolveu o site byvienna.com.
Além da vitória, e do reforço da confiança na ideia que tinham, a equipa vinca que os E.Awards os “aproximou da realidade crua que se vive fora do Técnico no mundo do empreendedorismo”. Todos os processos, tomadas de decisão, reformulação de ideias e metas, os riscos e a capacidade de superação que obtiveram com a experiência, ajudou, de acordo com os próprios, a torná-los “melhores seres humanos e, consequentemente, melhores empreendedores”. “Iniciativas destas no Técnico devem, sem sombra de dúvida, ser mais incentivadas, pelo crescimento que se tem com este tipo de desafios. É preciso incentivar mais quem ousa sonhar no Técnico”, frisa Ricardo Espadinha, em nome de toda a equipa. Também esta frase definiria na perfeição a essência dos E. Awards@Técnico.