Os riscos psicossociais têm sido identificados como um dos grandes desafios contemporâneos, e estão diretamente relacionados com episódios ou comportamentos que ocorrem nos locais de trabalho tais como o stress, a violência, o assédio, a falta de reconhecimento ou a intimidação. Estas problemáticas acabam por se tornar autênticas barreiras- muitas vezes difíceis de ultrapassar- que contribuem para a existência de ambientes de trabalho pouco saudáveis. O impacto dos riscos psicossociais nas próprias instituições é incalculável e traduz-se em menores níveis de produtividade, criatividade e até numa preocupante taxa de absentismo. Por tudo isto tornar-se imperativo dar resposta a este problema global através do desenvolvimento de estratégias de prevenção eficazes pelas instituições. Não se alheando desta responsabilidade, o Técnico decidiu criar o projeto Working@Técnico que tem como objetivo desenvolver ações que permitam criar um local de trabalho mais saudável, pautado pelo bem-estar de todos. As funcionárias Lídia Silva e Ana Marques compõem a Comissão Para a Avaliação dos Riscos Psicossociais (CARP) que encabeça este projeto, e explicaram-nos o trabalho que está a ser desenvolvido, salientando a importância do envolvimento de cada elemento na promoção de um local de trabalho saudável.
“Este projeto começou em 2017 com a constituição da CARP, uma comissão nomeada pelo presidente do Técnico, o professor Arlindo Oliveira, que queria avançar com a avaliação dos riscos psicossociais”, começa por recordar Lídia Silva, também representante dos Trabalhadores para a Segurança e Saúde no Trabalho. “Este assunto está cada vez mais na ordem do dia, e os riscos psicossociais têm cada vez um peso maior no meio dos outros riscos no trabalho”, enfatiza Lídia Silva. A primeira grande medida deste grupo de trabalho foi a assinatura do protocolo de colaboração institucional com a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) que previa a realização de ações de formação para os psicólogos que trabalham na escola e que integram a equipa técnica da CARP, e a disponibilização de uma ferramenta para a avaliação destes riscos no local de trabalho, bem como a participação em iniciativas de prevenção e intervenção no âmbito dos riscos psicossociais. Chega agora uma das fases mais importante do Working@ Técnico: a avaliação da realidade da instituição. O mesmo será feito através de um inquérito de avaliação dos riscos psicossociais ao qual todos os funcionários são incitados a responder.
As respostas ao inquérito- que estará disponível a partir de dia 4 de novembro até 22 de novembro- são dadas em anonimato, sendo que apenas a Ordem dos Psicólogos tem acesso à base de dados das mesmas, chegando ao Técnico, posteriormente, um relatório com os resultados globais e por área. “É preciso não responder aleatoriamente, é um inquérito que deve ser preenchido com algum cuidado”, alerta Lídia Silva. “O inquérito está validado internacionalmente, as perguntas são padrão e foram traduzidas e adaptadas para a população portuguesa”, explica, por sua vez, Ana Marques, uma das psicólogas que integra a equipa técnica da CARP. O questionário tem 76 questões que pretendem medir variáveis como o ritmo de trabalho, as exigências emocionais, a comunidade social no trabalho ou os comportamentos ofensivos. “As pessoas devem responder sozinhas e em consciência, revivendo os bons e maus momentos de trabalho”, aconselha Lídia Silva. É fulcral que todos os funcionários respondam a este questionário- sintam-se ou não impactados por estas problemáticas- uma vez que, além do feedback positivo ser também extremamente relevante, é importante obter o maior número de respostas possível para que o retrato do Técnico seja exato e conclusivo. De forma a assegurar que não há desculpas para não responder, no dia 15 de novembro, entre as 11h e 12h, todos os serviços do Técnico estarão encerrados para que os trabalhadores possam responder ao inquérito.
Os resultados obtidos serão transformados num histograma, que orientará o plano de prevenção primária. Depois desta avaliação serão definidas prioridades, percebendo quais são as dimensões em que é preciso intervir e com que urgência é necessário fazê-lo. “Já estão definidas algumas medidas de prevenção primária que podem ser implementadas para dar resposta às situações identificadas”, declara Lídia Silva. Entre as hipóteses colocadas em cima da mesa estão ações como: o desenvolvimento de um “culture book”- código conduta e boas práticas para os trabalhadores; ações de formação para os funcionários relacionados com a gestão de tempo, gestão de stress, etc. ; ou a contratação de um psicólogo ocupacional. “Estes riscos psicossociais podem afetar profundamente o nosso rendimento no trabalho, a instituição e a nossa saúde”, recorda Ana Marques, e sendo um ambiente de trabalho saudável algo que todos devemos poder usufruir, cabe também a todos zelar pelo mesmo.