Um conjunto de experiências realizadas em 2021 pelo consórcio EUROfusion, no qual o Técnico representa Portugal, culminou em resultados inéditos na área da fusão nuclear. A campanha experimental recorreu ao reator de fusão Joint European Torus (JET), situado em Culham, no Reino Unido, e levou às primeiras observações do aquecimento alfa, um processo que permite a uma reação de fusão manter o seu combustível a altas temperaturas.
Anunciados na 29.ª Conferência sobre Energia de Fusão da Agência Internacional de Energia Atómica, os resultados do conjunto de experiências incluem também a demonstração de técnicas de controlo para proteger as paredes dos dispositivos de fusão, técnicas de aquecimento e formas de recuperar o combustível de fusão absorvido nas paredes da máquina.
Os resultados contaram com o envolvimento de vários investigadores do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) do Técnico. Bruno Gonçalves, presidente deste centro de investigação, afirma que “os investigadores [do IPFN] fizeram contribuições significativas e valiosas para nossa compreensão fundamental dos complexos fenómenos físicos associados aos plasmas deutério-trítio [(os combustíveis usados nestas reações)] e para a preparação de algumas das principais experiências no JET”.
O investigador acrescenta que os cientistas portugueses contribuíram com códigos de última geração para simulação de plasma e desenvolveram métodos avançados de análise e interpretação de dados, contribuindo para o planeamento científico das experiências. Para além disso, lideraram o desenvolvimento de diagnósticos de micro-ondas, de sistemas de aquisição de dados para diversos sensores cruciais para medição durante esta campanha (por exemplo, diagnósticos de neutrões e raios gama) e ainda de sistemas de aquisição de dados para controlo do plasma.
Recorde-se a segunda campanha experimental de deutério-trítio também ocorrida no JET, em 2021: esta estabeleceu um recorde mundial de 59 megajoules para a maior quantidade de calor de fusão produzido num único disparo, que foi alvo de interesse público aquando do seu anúncio em fevereiro de 2022. As conclusões obtidas durante estes projetos serão importantes para futuras experiências de fusão, como o International Thermonuclear Experimental Reactor (usualmente designado por ITER), atualmente em construção em França.
