Três meses depois do seu arranque, o projeto COVIDETECT foram divulgados os primeiros resultados de um estudo muito conclusivo sobre a presença do vírus nos esgotos e a eficiência na eliminação do mesmo nas estações de tratamento analisadas. Através da análise de mais de 200 amostras de águas residuais recolhidas à entrada e à saída das estações de tratamento que servem cerca de 20% da população nacional e zonas com elevada prevalência de infeções, foi possível detetar a presença de material genético nos afluentes que chegam às ETAR. Os resultados estão em linha com os obtidos em outros trabalhos internacionais semelhantes. Para além desta conclusão, os resultados – divulgados em comunicado pela Águas de Portugal ( AdP) que coordena o consórcio do projeto-permitem também verificar a ausência de deteção do material genético do vírus SARS-CoV-2 no efluente tratado de qualquer uma das cinco ETAR envolvidas neste estudo, “o que sugere que as etapas do tratamento são eficientes” na remoção do vírus dos esgotos.
O Técnico através do Laboratório de Análises do Instituo Superior Técnico (LAIST) é uma das entidades que integra o consórcio do projeto. Coube à equipa do LAIST liderada pelos Ricardo Santos e Sílvia Monteiro o desenvolvimento e validação do método de deteção que permite analisar as águas residuais. No comunicado do consórcio é também referida a “elevada eficiência de recuperação de material genético, garantindo assim a fiabilidade dos resultados obtidos” deste método.
É importante salientar que, tal como é referido no comunicado oficial, a deteção de material genético do vírus nas águas residuais à entrada das ETAR, não significa que o vírus se encontre ativo e que se possa propagar por via hídrica.
As estações de tratamento incluídas na primeira fase deste estudo estão localizadas nos grandes centros urbanos de Lisboa, Cascais, Gaia e Guimarães, servindo cerca de 20% do total da população nacional e abrangendo as regiões com maior número de casos de COVID-19. Adicionalmente, monitoriza-se a circulação do vírus nas redes de drenagem dos efluentes do Hospital Curry Cabral, do Hospital Eduardo Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, e do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães.
A etapa que se segue é a da realização de estudos de “associação das cargas virais detetadas” com a população infetada em cada área servida por uma das cinco estações de tratamento de esgotos e com os doentes hospitalizados em cada unidade de saúde. É explicado no comunicado enviado pela AdP que “este processo visa estabelecer correlações entre a população infetada, que potencialmente excreta vírus através das fezes e das secreções orofaríngeas, com as cargas virais em circulação nos sistemas de saneamento”.
Recorde-se que o projeto COVIDETECT pretende implementar um sistema de alerta precoce da circulação do vírus SARS-CoV-2, agente etiológico da COVID-19, na comunidade, através da vigilância dos sistemas de saneamento, que poderá contribuir para a mitigação de eventuais novos surtos da doença. Juntam-se à AdP e ao LAIST neste consórcio a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e as empresas Águas do Tejo Atlântico, Águas do Norte e a SIMDOURO, enquanto entidades gestoras de sistemas de saneamento das principais áreas metropolitanas do país. A Direção-Geral da Saúde (DGS), a Agência Portuguesa do Ambiente e a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos integram o conselho consultivo do projeto.
Os resultados do COVIDETECT poderão ser importantíssimos para a vigilância epidemiológica da população por via indireta. Tal como é evidenciado no comunicado “a água residual oferece uma excelente janela de oportunidade para se obter informação sobre a circulação do vírus na comunidade, pelo que os resultados deste projeto, com potencial de replicação para uma escala mais ampla”. “Acresce que os indivíduos infetados excretam o vírus vários dias antes do aparecimento de sintomas, pelo que a implementação desta ferramenta de alerta precoce poderá contribuir de forma determinante para a implementação atempada de medidas de saúde pública preventivas nas populações das áreas geográficas em estudo”, pode ler-se ainda